O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.
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ORGULHO DE SER PROSTITUTA?
Três dias depois do lançamento de uma campanha de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis pelo Ministério da Saúde, o ministro Alexandre Padilha mandou retirar as peças que enalteciam a prostituição. O principal cartaz, divulgado na internet com as logomarcas do governo federal, trazia a foto de uma mulher e uma declaração entre aspas: “Eu sou feliz sendo prostituta”. Tão logo surgiram as primeiras manifestações contrárias ao enfoque da campanha, algumas delas oriundas de grupos religiosos, o ministro suspendeu a divulgação e exonerou o diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, que havia autorizado a publicação do material. “Enquanto eu for ministro, campanhas assim não vão passar pelo ministério”, justificou Padilha, argumentando que a pasta deve centrar seu foco na prevenção das DSTs.
Ficou a polêmica. De um lado, opositores do governo, religiosos e setores mais conservadores da sociedade condenando o Ministério da Saúde pela concessão ao oportunismo de militantes. De outro, organizações não governamentais, associações defensoras da diversidade de gênero e intelectuais criticando duramente o ministro pelo recuo. Todas as visões são respeitáveis, mas o extremismo de posições pouco contribui para um encaminhamento mais propositivo da questão. O que interessa, acima de tudo, é endereçar a campanha para a proteção da saúde da população, o que inclui certamente as prostitutas – ou trabalhadoras do sexo, como recomenda a nomenclatura politicamente correta.
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As mulheres que exercem tal atividade merecem atenção especial não apenas por integrarem um grupo reconhecido como de risco, mas também e principalmente porque costumam ser discriminadas pela sociedade. No mínimo, as prostitutas têm direito ao mesmo tratamento e às mesmas garantias dispensadas a qualquer cidadão. Soa, porém, falso e demagógico exaltar na propaganda oficial uma profissão que raramente é escolhida de forma voluntária por quem a exerce. Mais do que isso: ao sugerir o questionável orgulho de ser prostituta, o governo poderia passar uma mensagem contrária ao combate à prostituição infantil, que é uma de suas bandeiras sociais. Fez bem, portanto, o ministro em redefinir o rumo da campanha.
O objetivo da ação governamental deve ser acima de tudo a saúde das mulheres, com a oferta de proteção adequada, de orientação sobre as doenças transmissíveis e de tratamento quando necessário. Também cabe ao Estado oferecer-lhes incentivos para, se assim desejarem, buscar outro meio de vida que lhes garanta orgulho por suas próprias realizações, sem depender de uma propaganda de duvidosa sinceridade.