O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.

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RESPOSTAS INSUFICIENTES

As instituições da República reagiram ao clamor das ruas com respostas imediatas, mas ainda insuficientes. Acuada pela repentina queda de popularidade, a presidente Dilma Rousseff lançou a ideia de cinco pactos, que incluiu uma desastrada proposta de Constituinte exclusiva e um duvidoso projeto de plebiscito para a reforma política. Depois de uma longa inércia, o Congresso desengavetou rapidamente algumas soluções para antigos problemas. Rejeitou a Proposta de Emenda Constitucional nº 37, também conhecida como PEC 37 ou PEC da Impunidade, votou a destinação dos royalties do petróleo para educação e saúde, aprovou projeto que torna a corrupção crime hediondo, consagrou a Ficha Limpa para ingresso no serviço público e engavetou o surrealismo da cura gay. Até o Judiciário moveu-se um pouco, com o Supremo Tribunal Federal determinando a imediata prisão de um parlamentar condenado.

Não é preciso, porém, ir muito além da Praça dos Três Poderes, em Brasília, para perceber que essas e outras medidas mal arranham as verdadeiras causas da onda de insatisfação popular que sacode o país. Os manifestantes que continuam nas ruas, com uma greve geral marcada para o próximo dia 11 em todo o país, ainda não viram qualquer sinal de abertura de discussão de gastos com a Copa do Mundo 2014, nem de providências efetivas para melhora de serviços essenciais como saúde, educação e segurança. Além disso, a reforma política, que o governo escolheu realizar pelo tortuoso caminho do plebiscito, está sendo adiada para as calendas gregas e servindo apenas como pretexto para mudança de pauta. A população não tardará em se convencer que, sob a espuma da proatividade política das últimas semanas, inexiste vontade política efetiva de tratar dos problemas de fundo que a afligem. Até mesmo a medida mais visível adotada desde a eclosão do movimento de protesto – a redução generalizada de tarifas de transporte público -, ao fim e ao cabo custará valor equivalente aos cofres públicos por meio de renúncias e isenções fiscais.

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Não deve escapar à compreensão do governo o fato de que os indignados brasileiros protestam, em primeiro lugar, contra a má qualidade dos serviços públicos, o desperdício de recursos do Tesouro de forma injustificada ou sem transparência, a improbidade administrativa, a alta de preços e outros reflexos dos escorregões na condução da economia e da gestão pública. Chega a soar como deboche a notícia de que, enquanto manifestações contra a corrupção e as mordomias percorriam o país, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), tenha usado avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para levar a noiva, parentes dela, enteados e um filho à final da Copa das Confederações, no Rio, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tenha lançado mão do mesmo expediente para ir de Maceió a Trancoso (BA), onde participaria de um casamento. As autoridades devem deixar a verborragia de lado e fazer valer a proibição desses e de outros tipos de benesses atualmente à disposição do andar de cima, como demonstração de apreço e boa vontade em relação à maioria dos cidadãos que não são por elas assistidos.