Diario.com.br adianta o editorial que os jornais da RBS publicarão no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até esta sexta-feira serão selecionadas para publicação na edição impressa.
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OUTRA GUERRA SUJA
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A eleição para a presidência da Câmara Federal está sendo marcada pelas mesmas estratégias de desconstrução de adversários, com a repetição de acusações e injúrias, que deu o tom da última disputa presidencial. É um recurso que rebaixa a política e que provoca repúdio da maioria dos brasileiros, mas que mesmo assim é utilizado sem distinção de partidos e ideologias. Disputam o cargo os senhores Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de um partido aliado do Planalto, mas crítico aberto do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), o nome de confiança do Executivo e da sua base, e Júlio Delgado (PSB-MG), como uma espécie de terceira via. São representantes das muitas faces do Congresso e da política e deveriam, numa situação de normalidade, expressar os pesos e contrapesos de uma democracia.
Mas, com exceção do candidato do PSB, os outros dois concorrentes e seus apoiadores deram à eleição o caráter de uma disputa que passa longe do decoro e do respeito mútuo. Há, no confronto entre Cunha e Chinaglia, o que a política brasileira tem de pior. Nesta semana, o espírito de guerra foi reforçado pela suspeita do candidato peemedebista de que teria sido um dos alvos do governo para engrossar a lista de suspeitos da Operação Lava-Jato. Segundo Cunha, integrantes da cúpula da Polícia Federal teriam articulado a montagem de uma gravação para comprometê-lo e minar sua candidatura. Chinaglia, por sua vez, o acusa de desqualificar até mesmo os próprios companheiros de Congresso.
Em tempos de arapongagem, de corrupção descontrolada e de acusações que nem sempre podem ser comprovadas, a Câmara acaba por contribuir para a desqualificação da atividade pública, às vésperas da eleição de seu líder. É vergonhoso, para quem se dedica a melhorar a imagem do Legislativo, que uma das vozes mais ouvidas em defesa do candidato governista seja a do deputado Paulo Maluf (PP-SP), para quem Arlindo Chinaglia é “um homem muito correto, honesto e de vida ilibada”. A democracia brasileira, tão ultrajada, chega ao ponto de ter um condenado por improbidade, famoso por seus atos delituosos, como avalista de condutas morais.
Esse e outros movimentos que caracterizam a disputa acabam por denunciar mais uma vez as faces negativas da política brasileira. É assim que a eleição na Câmara expressa muito bem os piores defeitos do presidencialismo de coalizão, do fracionamento da representação política e do jogo de vale tudo fomentado por tais distorções.
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