O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará na edição impressa para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. As participações serão selecionadas para publicação no jornal impresso. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.

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CONFIANÇA ABALADA

A combinação de indicadores e de atitudes de quem produz e consome forma um cenário pouco promissor para a economia brasileira. Os dados estatísticos, mesmo que informem o que já passou, iluminam também as condutas de quem pretende investir, comprar ou planejar ações de médio e longo prazo. E os indicadores do ano até agora não são bons para a performance econômica em geral e para questões específicas como inflação, contas públicas, juros, contas externas e consumo interno. Pretendentes à Presidência da República se defrontam com uma realidade que os números explicitam mensalmente e passam a ser desafiados por uma constatação incômoda: há, claramente, uma perda gradual de confiança por parte dos empresários e também da população em geral.

Os números são incontestáveis. A indústria reduziu o ritmo, o consumo pode ter chegado ao limite e, o que mais preocupa, a criação de emprego começa a perder fôlego. Por muito tempo, o maior trunfo da economia, exaltado pelo governo, foi a geração de vagas, em todos os setores. Áreas consideradas decisivas para a manutenção dessa tendência, como a automobilística, refreiam a produção, com menos encomendas, e começam a demitir. É abalado um pilar da política econômica, sustentado basicamente pelo fortalecimento do mercado interno, via crédito abundante e outros estímulos, como redução de preços de bens duráveis, com a desoneração tributária. Perdem efeito as ações muito mais táticas do que estratégicas, que representam esforços pontuais, na tentativa de estimular o consumo e transmitir a sensação de estabilidade.

Os resultados não são os almejados. A percepção média de que é preciso cautela faz com que as amostragens de investimentos revelem apreensão, com o adiamento de projetos, por parte do setor produtivo. Na outra ponta, do consumo, indicadores do comércio sugerem um refluxo na capacidade de endividamento da população. A inflação, igualmente no limite da meta estabelecida pelo próprio governo, mantém uma preocupante estabilização em níveis que, sob quaisquer pontos de vista, afastam-se do que seria razoável. É assim que os preços ascendentes, especialmente de produtos de primeira necessidade, corroem o poder de compra das famílias de mais baixa renda e, também nesse caso, comprometem projetos pessoais e abalam confianças.

Observadores de conjuntura chegam a traçar um cenário menos preocupante para 2015 para o ritmo da economia, mas o próximo ano reserva o impacto de correções de preços, bem acima da média histórica, para combustíveis e energia. Há exagero nos que, a partir desses dados, põem o Brasil no pior dos mundos. Mas é preciso atentar para os sinais que são emitidos pelo conjunto de indicadores, pelos impactos mais imediatos e pelas reações que provocam no ânimo de todos. O país contabiliza avanços importantes que não podem ser desperdiçados, e uma das missões dos presidenciáveis é a de transmitir com clareza o que pretendem fazer para que a economia volte a crescer com estabilidade e em níveis compatíveis com suas potencialidades.

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