O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.

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RIVAIS, MAS HERMANOS

A escolha de um argentino para o comando da Igreja Católica reacendeu o debate a respeito da rivalidade histórica entre o Brasil e seu vizinho continental mais influente. A agência de notícias Associated Press chegou a produzir uma reportagem, divulgada por meios de comunicação de várias partes do mundo, afirmando que a eleição do cardeal Jorge Bergoglio para o trono de São Pedro foi “uma adaga no coração do Brasil”, que tinha pelo menos um candidato bem cotado para o cargo. Não foi exatamente assim. Ainda que num primeiro momento possa ter havido surpresa e até uma leve frustração com a escolha do cardeal portenho, a verdade é que os brasileiros receberam com respeito e simpatia a ascensão de um latino-americano ao cargo mais elevado da Igreja. Nesta hora, vale mais o sentimento de pertencer ao mesmo continente do que a oposição fronteiriça.

Não poderia ser de outra forma: nossa rivalidade, que é acentuada no terreno esportivo, deve ter o limite do bom senso, da solidariedade e da colaboração mútua. Brasil e Argentina são parceiros comerciais e sócios fundadores do Mercosul. Descontando-se alguns momentos de conflito, inclusive a participação em lados opostos na II Guerra Mundial, têm caminhado juntos pela história da América do Sul, no rumo da democracia, do desenvolvimento e de uma vida melhor para seus povos.

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Os dois povos mantêm, é verdade, um espírito de permanente competição em áreas específicas: Pelé ou Maradona? Samba ou tango? Buenos Aires ou Rio de Janeiro? Fangio ou Ayrton Senna? Tudo serve de argumento para o interminável debate patriótico que invariavelmente termina sem vencedor. Suspeita-se que esta disputa de beleza tenha origem na corrida marítima de portugueses e espanhóis pela ocupação deste continente que agora se enche de orgulho por ter gerado o novo papa.

Se o calendário da Santa Sé não sofrer alterações, a primeira viagem internacional do papa argentino será exatamente para o Brasil, que recebe em julho, no Rio de Janeiro, um dos grandes eventos da Igreja Católica, que é a Jornada Mundial da Juventude. Não pode haver dúvida de que o papa Francisco será recebido com calorosos aplausos e com o melhor da hospitalidade brasileira. Mais do que o pai espiritual dos que professam a sua fé, ele é um membro de nossa família continental, um homem que conhece bem a nossa região e a nossa gente, um vizinho histórico e leal.

Sempre é bom lembrar que os brasileiros tratam os argentinos por “hermanos” – e, como acontece com todas as famílias, a relação entre irmãos é feita de competição, de rivalidade saudável e até mesmo de disputas por espaço, mas também de mãos estendidas nas horas difíceis e de abraços nos momentos de alegria. Sem ódios nem adagas. Brasil e Argentina estão unidos na celebração do papa sul-americano.