Diario.com.br adianta o editorial que os jornais da RBS publicarão no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até esta sexta-feira serão selecionadas para publicação na edição impressa. Ao deixar seu comentário, informe nome e cidade.
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Editorial diz que, na era do conhecimento, da conexão plena e da colaboração, não há mais lugar para guerras frias e antagonismos fundamentados em concepções distintas de sociedade.
A aproximação entre os Estados Unidos e Cuba torna anacrônico o embate ideológico entre os simpatizantes do capitalismo norte-americano e os do socialismo cubano.
A ILHA DESBLOQUEADA
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O anúncio do restabelecimento de relações diplomáticas e da reabertura de embaixadas entre os Estados Unidos e Cuba não apenas põe fim a meio século de rusgas e desconfianças entre os dois países, mas também torna definitivamente anacrônico o embate ideológico entre os simpatizantes do capitalismo norte-americano e os do socialismo cubano. A realidade se impôs sobre o pensamento hegemônico e também sobre a utopia. Na era do conhecimento, da conexão plena e da colaboração, não há mais lugar para guerras frias e antagonismos fundamentados em concepções distintas de sociedade. O mundo caminha para a cooperação, para o convívio entre os diferentes e para a solução de conflitos por meio do diálogo.
Vista pelo lado norte-americano, a aproximação significa ao mesmo tempo uma derrota e uma vitória. Embora o levantamento do embargo econômico imposto ao país caribenho ainda dependa de aprovação do Congresso, ficou evidente que a estratégia do boicote não funcionou, pois seu propósito era minar a ditadura cubana e propiciar o estabelecimento de um governo democrático. Mais de meio século depois, os Estados Unidos substituem as restrições pela diplomacia e pela política de abertura do presidente Obama, com evidentes progressos. E o mais importante: os norte-americanos afrouxam as restrições econômicas, sem deixar de pressionar a ditadura cubana a promover uma abertura política e a respeitar os direitos humanos. Democracia não se impõe, conquista-se.
O histórico passo dado pelos governos americano e cubano contempla de certa forma a posição do Brasil, que tem sido um defensor intransigente da integração de Cuba à Organização dos Estados Americanos (OEA). Ao mesmo tempo, porém, fragiliza o discurso anti-imperialista de setores da esquerda brasileira, que se comprazem em rotular os norte-americanos como opressores e os cubanos como gauleses irredutíveis.
Nem uma coisa, nem outra. Como bem disse o presidente norte-americano em recente encontro com o cubano Raul Castro, “não podemos ser prisioneiros do passado”. Independentemente do regime político de cada país, o importante é que todos os povos do continente tenham a oportunidade de evoluir para a colaboração, para a reciprocidade e para o desenvolvimento econômico e social. É possível, sim, uma convivência pacífica entre a obsessão por igualdade do socialismo e o apreço à liberdade e à democracia do capitalismo.
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