O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará na edição impressa para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Serão selecionadas para publicação no jornal impresso participações enviadas até as 19h de sexta-feira. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.
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A HONESTIDADE INVISÍVEL
O caso dos policiais militares que guardaram a mochila do empresário Marlon Koerich, ao perceberem que o carro dele estava estacionado na rua com a janela aberta, provocou uma enxurrada de relatos de boas ações. O episódio evidenciou que estamos todos os dias rodeados de exemplos positivos que se tornam invisíveis sob o manto do anonimato e são sufocados por um sentimento já cristalizado na sociedade brasileira de desencantamento com o aparente vazio de valores éticos e morais. Sentimento inflado também pela percepção de que a mídia não valoriza as coisas boas.
Apesar de desanimadora, a desilusão com desvios de conduta em altos escalões não pode ofuscar a percepção de que a grande maioria tem sim histórias de honestidade para compartilhar. A visibilidade dada na capa de quarta-feira ao relato feito pelo próprio Marlon, em carta enviada ao Diário Catarinense para elogiar a atitude dos policiais, só estimulou que esses depoimentos viessem à tona, numa repercussão no estilo “corrente do bem” que direciona os holofotes para o que não vemos no dia a dia: a marca de honestidade do nosso povo, do cidadão comum.
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Um leitor de Biguaçu relatou que a chave da moto, esquecida na ignição, foi deixada por um bom samaritano num hotel em frente. Uma moradora de Florianópolis contou que a procuraram para entregar R$ 500 perdidos numa loja de departamentos. Outro florianopolitano comemorou a recuperação do celular da filha no campus da UFSC. São muitas as atitudes dignas de registro, de imenso respeito e que servem de inspiração, especialmente para as novas gerações.
Que essa reflexão sobre ações cotidianas – como devolver objetos achados, respeitar filas, não ficar com o troco errado etc. – sirva para amplificar e multiplicar a importância da consciência coletiva e solidária. Santa Catarina se tornou referência nacional com a campanha O que você tem a ver com a corrupção?, que tem como mote justamente a ética no microcosmo. A sociedade e as próprias autoridades têm sido tolerantes com desvios éticos e pequenos delitos. Mas isso não pode continuar.
Capistrano de Abreu defendia que a Constituição brasileira deveria ter apenas dois artigos:
“Artigo 1º – Todo brasileiro deve ter vergonha na cara.
Artigo 2º – Revogam-se as disposições em contrário.”
A repercussão sobre a reportagem publicada pelo DC mostrou que é possível cumprir o utópico texto constitucional idealizado pelo historiador cearense. Os dois PMs que atuam em Florianópolis, com a conduta irrepreensível que tiveram, foram muito além. E personificaram a honestidade da maioria da população.