O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.

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O TAMANHO DA TRAGÉDIA

A notícia divulgada na última quinta-feira deveria provocar uma mobilização nacional de autoridades, cidadãos e instituições em busca de soluções urgentes e inovadoras para o problema. O Brasil já tem um contingente de 370 mil usuários de crack. E a pesquisa que aponta esse número, encomendada pela Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad) à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), portanto merecedora de total credibilidade, foi feita apenas nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal. Se considerarmos a proliferação da droga pelos demais municípios, o número de usuários é muito maior. Isso significa a existência no país de um verdadeiro exército de dependentes, com todas as implicações que esta condição impõe para a saúde desses indivíduos, para a desagregação de suas famílias e até mesmo para a segurança da sociedade.

O estudo Estimativa do Número de Usuários de Crack e/ou Similares nas Capitais do País, divulgado pelos ministérios da Justiça e da Saúde, traz algumas informações surpreendentes, entre as quais a de que a Região Nordeste concentra a maior parte dos usuários – cerca de 40% do total de pessoas que fazem uso regular da droga nas capitais brasileiras. Desfaz a suposição de que o consumo seria maior na Região Sudeste, que tem maior visibilidade devido à existência das chamadas cracolândias, onde a droga letal e destruidora é utilizada até mesmo durante o dia e à vista de todos.

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Faz parte do estudo encomendado pelo governo federal a pesquisa Perfil dos Usuários de Crack e/ou Similares no Brasil, que traz informações sobre as características epidemiológicas dessa parcela da população. É um indicativo importante para a aplicação de políticas públicas preventivas e de tratamento efetivo para os doentes. Aí é que está o xis da questão: mesmo com programas bem-intencionados, tanto oficiais quanto por parte de ONGs, o Brasil parece estar perdendo a batalha para essa droga que vicia nas primeiras experimentações e degrada a vida dos consumidores. Sinal de que as políticas públicas precisam ser redirecionadas para ações inovadoras e talvez mais radicais.

Se os números agora conhecidos assustam, muito mais dramático e doloroso é o microcosmo das famílias atingidas pelo infortúnio de ter algum de seus membros escravizado pela pedra e pela dificuldade de encontrar tratamento eficaz. Não é incomum que dilemas relacionados ao consumo de crack terminem em tragédias familiares. E quem tem a sorte de não ter o problema em casa também não está livre de suas consequências, pois os usuários, muitas vezes transformados em verdadeiros zumbis, acabam engrossando as cifras de criminalidade. Todos, portanto, somos vítimas do crack. E, até por isso, todos temos que nos envolver na solução desse problema do tamanho do Brasil.