Diario.com.br adianta o editorial que os jornais da RBS publicarão no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até esta sexta-feira serão selecionadas para publicação na edição impressa. Ao deixar seu comentário, informe nome e cidade.
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Editorial condena a decisão da Câmara dos Deputados de rejeitar a extinção do financiamento de campanhas por grupos interessados no toma lá dá cá da política.
O RALO DA CORRUPÇÃO
Continuará aberta, se depender da Câmara Federal, a torneira por onde jorra o dinheiro farto que compra apoios políticos, corrompe, promove o toma lá dá cá e degrada a atividade pública no Brasil. A contribuição de empresas para as campanhas eleitorais, já identificada como principal origem da alta delinquência no Executivo e no Legislativo, foi mantida pelos deputados, depois de rejeitada pelo Senado. O tema já havia sido votado pela própria Câmara, que restringiu as doações: as empresas poderiam destinar recursos apenas aos partidos, e não diretamente aos candidatos. Com a nova decisão, os deputados denunciam, pelo desejo da maioria, a indiferença com os esforços para que o país combata a promiscuidade que leva a delitos como os agora investigados pela Operação Lava-Jato.
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Frustram-se as expectativas de quem esperava um gesto de ratificação das ações que Polícia Federal, Ministério Público e Justiça vêm conduzindo no sentido de moralizar a atividade pública. As relações nem sempre transparentes entre políticos e empresas continuarão acontecendo nas sombras. Pela deliberação da Câmara, fica claro que o poder econômico preserva a capacidade de orientar a postura da maioria dos legisladores. Mantém-se um sistema viciado, que apenas fortalece os vínculos dos eleitos, não com seus eleitores, mas com os que os sustentam financeiramente.
Muitos dos deputados que rejeitaram a proposta de fim das doações de grupos privados estão sob suspeita de terem se beneficiado de propinas pagas por empresas financiadoras da política. No ano passado, as empreiteiras do cartel flagrado pela Lava-Jato doaram R$ 78 milhões a PT e PSDB, os dois maiores partidos do país. É indiscutível, pelas informações disponíveis e pela interpretação feita pelo MP e pelo Judiciário, que as empresas que mais subsidiam partidos e candidatos são também as maiores beneficiadas pelo sistema de troca de favores.
O país aguarda agora duas decisões importantes. A manutenção das doações será submetida à sanção ou veto da presidente da República. O bom senso recomenda que seja vetada. E o Supremo Tribunal Federal ainda deve à sociedade o desfecho de uma ação em que o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) questiona a constitucionalidade das mesmas doações. Em dezembro, completam-se dois anos de julgamento do processo. É muito tempo para que se conclua o exame de questão tão urgente.