O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará na edição impressa para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. As participações serão selecionadas para publicação no jornal impresso. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.
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O BRASIL ÚNICO
Merecem reação categórica, para que não conspirem contra a penosa construção da unidade brasileira, os pontos de vista disseminados nos últimos dias com as suspeitas de inferioridade de populações de determinadas regiões do país. Propaga-se pelas redes sociais, no rastro do debate político, com repercussão na imprensa, a ideia preconceituosa de que os Estados nortistas e nordestinos seriam a causa de nossos atrasos econômicos e sociais. É um retrocesso sociológico embrutecedor. A discriminação obscurantista reaviva a crendice de que existiriam populações inferiores e o seu contraponto da superioridade.
Não é a primeira vez que os brasileiros debatem o dilema ilusório de que as diferenças regionais, existentes em qualquer país, explicam suas deficiências. Em alguns momentos, que devem ser lembrados para que não se repitam, as peculiaridades dos Estados foram condenadas inclusive por ocupantes do poder. Foi o que ocorreu, por exemplo, no Estado Novo, quando o projeto de integração da primeira metade do século 20 passava pelo equívoco de que as regiões deveriam desistir até mesmo de seus símbolos. O argumento era o de que, sem os diferentes, o Brasil poderia crescer sem conflitos. Implantava-se uma tentativa autoritária de extrema centralização de poderes num ente federal absoluto.
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O que acontece agora, sob outros argumentos, é a potencialização de um sentimento de que estariam nas diferenças regionais as explicações para nossos atrasos. Por esse raciocínio, o país desenvolvido, do Centro para o Sul, sustentaria a parte de cima do mapa. O preconceito, muitas vezes dissimulado, contido na reflexão é amplificado pela disputa política, com o ativo envolvimento de minorias participantes das redes sociais. O país retroage a um debate público que considerava superado. Tal posição reforça o argumento de que o Sudeste e o Sul ricos sustentariam o Norte e o Nordeste pobres. São ignorados os avanços estruturais das regiões citadas e o princípio de que um país de verdade é o que compartilha seus problemas, seus dramas e suas soluções.
A busca pela igualdade em meio às diferenças, com decidido suporte do Estado, é mais do que uma questão social ou econômica. É, como observa o economista Delfim Netto, um desafio moral que o Brasil não pode refugar. Nesse contexto, o debate tem pelo menos a virtude de estimular respostas civilizatórias. O país construído pela diversidade étnica deve fazer prevalecer a convergência pelo respeito a todos os brasileiros e ao federalismo.