Diario.com.br adianta o editorial que os jornais da RBS publicarão no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até esta sexta-feira serão selecionadas para publicação na edição impressa. Ao deixar seu comentário, informe nome e cidade.

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Os clubes têm o direito de debater as saídas para a própria desorganização, mas sem o boicote sumário à MP elaborada com a intenção de salvá-los. Editorial critica a reação dos dirigentes de entidades futebolísticas, que se rebelam contra qualquer tentativa de mudança numa área precariamente administrada.

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A REORGANIZAÇÃO DO FUTEBOL

São imensas as barreiras erguidas diante da chamada MP do Futebol, editada pelo governo federal com o propósito de contribuir para a reorganização dos clubes e, por consequência, para a qualificação da atividade e dos espetáculos. O boicote à MP, por parte de certas lideranças do setor, não pode prosperar, tampouco ser confundido com os naturais questionamentos provocados pela iniciativa. Ficou evidente, após o encaminhamento da MP ao Congresso, que o time dos atletas e dos que desejam mudanças profundas na área enfrenta a poderosa equipe dos cartolas, defendida por dirigentes que se perpetuam nos cargos, cometem erros graves de gestão, relacionam-se com jogadores e público de forma arcaica e afundam as organizações em endividamentos, desconfiança, fuga de torcedores dos estádios e desmandos.

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O principal objetivo da MP é criar condições para que, a partir do refinanciamento de dívidas tributárias, previdenciárias e de FGTS, entre outras, os clubes possam se reorganizar e rever práticas administrativas. A MP 671 apresenta, no entanto, como é previsível nesses casos, as exigências da contrapartida. Os clubes devem investir em eficiência, assegurar transparência a tudo que fazem, evitar que dirigentes se eternizem no poder e, entre outras medidas, estimular a criação de equipes femininas. As primeiras reações são as piores possíveis. Os atuais comandantes do futebol se rebelaram, com a desculpa de que o governo está interferindo em instituições privadas.

É um argumento frágil. Entidades viabilizadas pela rentabilização do que fazem, como os clubes, devem se submeter às normas de convivência da iniciativa privada com o setor público. É assim em toda atividade que usufrui dos benefícios de governos, em quaisquer esferas. Poucas áreas desfrutam tanto desses benefícios quanto o futebol, que não paga Imposto de Renda, atrasa contribuições à Previdência e recebe financiamentos fartamente subsidiados para construir estádios.

A MP deve passar por amplo debate, para que seja aperfeiçoada, e não ser sumariamente desqualificada pelos que terão interesses contrariados. O que não pode ser adiada é a adoção, como contrapartida à renegociação das dívidas, de um conjunto de medidas saneadoras. O futebol brasileiro, em respeito ao público, aos atletas e a todos os que o sustentam, deve finalmente entrar no século 21.