O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.

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CRIME CONTRA A SAÚDE

Ação policial desencadeada na última segunda-feira, no Rio Grande do Sul, prendeu 46 pessoas pela venda ilegal de suplementos alimentares e anabolizantes em farmácias, estabelecimentos comerciais e, principalmente, academias de ginástica. A operação Hipertrofia, assim denominada pela polícia gaúcha, também interceptou entregas postais de produtos encomendados pela internet a fornecedores de outros Estados e do Exterior. Foi apenas mais uma, entre dezenas de operações policiais realizadas este ano em diversas cidades brasileiras, com o propósito de combater uma verdadeira epidemia que se alastra pelo país e coloca em risco a saúde e a vida de jovens – a doentia construção de corpos esculturais com a ajuda de drogas potencialmente destruidoras.

Os resultados são rápidos e, aparentemente, milagrosos. Em vez de exercícios árduos, malhação intensiva e suor, ciclos de anabolizantes transformam adolescentes e jovens franzinos em atletas musculosos. Mas os efeitos colaterais e os danos costumam ser perversos: impotência sexual, calvície, aparecimento de mamas em homens, acne, agressividade, alucinações, risco de trombose, AVC, hipertensão arterial, câncer, distúrbios no fígado, surgimento de pelos além do normal (em mulheres) e infarto, além do risco de contaminação por HIV e hepatite quando ocorre o compartilhamento de agulhas.

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O sonho do corpo perfeito em pouco tempo pode virar pesadelo para o resto da vida, pois as fórmulas desses esteroides anabolizantes geralmente derivam da testosterona, o hormônio sexual masculino que, em altas doses, causa a retenção de líquidos e a ilusão da musculatura poderosa. Hormônios do crescimento também são utilizados como anabolizantes. E os músculos gerados por esse coquetel artificial normalmente somem também em pouco tempo, se o uso da droga não for contínuo.

Trata-se, portanto, de um crime contra a saúde pública estimular ou facilitar o consumo de tais substâncias sem prescrição médica. E crime hediondo, classificado como tráfico de drogas, que pode levar seus autores a condenações entre 10 e 15 anos de prisão, sem direito a fiança em caso de flagrante. Ainda assim, é praticado rotineiramente, atraindo especialmente homens jovens, com idades entre 16 e 30 anos, segundo perfil desenhado pela Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva.

As ações policiais são importantes para desarmar essas verdadeiras arapucas sustentadas pela vaidade e pela má-fé, mas não devem eximir pais, familiares e professores da responsabilidade de prevenir e orientar adequadamente potenciais vítimas.