O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.

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ZERO PARA AS GRACINHAS

Foi tão grande e tão negativa a repercussão das redações com gracinhas que obtiveram nota de aprovação no último Exame Nacional do Ensino Médio, que o Ministério da Educação obrigou-se a adotar critérios mais rígidos para a correção das provas. Esta semana, o ministro Aloizio Mercadante anunciou que a partir do próximo exame serão anuladas as redações que apresentarem parte do texto deliberadamente desconectada do tema proposto, fechando assim a brecha para o enxerto de receita de macarrão instantâneo ou hino de clube de futebol, como aconteceu no último teste. Só receberão a nota máxima de redação (1.000 pontos, pela contagem do MEC) os alunos que demonstrarem total domínio da norma culta da língua portuguesa. Serão aceitos apenas desvios gramaticais excepcionais e que não caracterizem reincidência.

A mudança de rumo é mais do que oportuna, principalmente porque o MEC também está tocando no principal problema de edições anteriores, que era a leniência nas correções. Até se entende que jovens de poucos recursos intelectuais, ou mesmo debochados, tenham recorrido a absurdos criativos para preencher espaço. O que não dá para aceitar é a frouxidão dos examinadores, que consideraram tais redações adequadas e merecedoras de pontos suficientes para aprovação. Agora não será mais assim: os avaliadores serão monitorados em 33 requisitos e poderão ser eliminados da equipe de correção dos exames se não alcançarem desempenho igual ou superior a 7, numa escala de 0 a 10. Anteriormente, só ficavam fora os que não alcançassem nota 5. Também haverá maior rigidez em relação à discrepância na nota final apresentada por dois corretores, que poderá ser de, no máximo, 100 pontos.

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E não se pode dizer que a culpa era apenas dos avaliadores. Eles tinham orientação dos organizadores da prova para “não pegar pesado”, como informou um dos encarregados da correção. Só podiam dar nota zero para situações bem específicas: se o candidato fugisse completamente do tema, se entregasse a prova em branco, se escrevesse impropérios ou agressões aos direitos humanos. Também seriam desconsiderados textos com menos de sete linhas – o que deve ter levado os estudantes a usar os subterfúgios referidos, acrescentando receita de macarrão e letra de hino de futebol numa dissertação sobre movimentos imigratórios para o Brasil no século 21, que era o tema solicitado.

Desde que se transformou numa grande porta de entrada para o Ensino Superior, o Enem vem enfrentando obstáculos, boicotes e até mesmo fraudes, que vão de erros de impressão até o desvio de questionários. Todas essas dificuldades, porém, vêm sendo gradativamente superadas, até mesmo porque o país já entende que avaliações sistemáticas são instrumentos essenciais para a qualificação do ensino. Neste contexto, a tolerância zero com os engraçadinhos é indispensável, principalmente porque faz justiça aos estudantes que se capacitam para obter bons resultados.