Uma final de Copa do Brasil já tem emoção, rivalidade e confrontos individuais de sobra. Mas o histórico recente de Inter e Corinthians transforma a partida de hoje em revanche, para alguns.
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Em 1976, Inter e Corinthians decidiram o Brasileirão em um jogo único no Beira-Rio. Vitória colorada por 2 a 0, que fez o Gigante explodir ao comemorar o bicampeonato nacional. Os gols foram do ponteiro Valdomiro e do centroavante Dario, o Dadá Maravilha, artilheiro da competição com 16 gols.
Quase 30 anos depois, em 2005, os dois times brigaram pelo título no terceiro campeonato decidido por pontos corridos. De um lado, o supertime do Corinthians, que investiu pesado no futebol graças a uma parceria com a MSI. Contava com jogadores como os meias Roger e Carlos Alberto e os atacantes Carlitos Tevez e Nilmar. Do outro, o Inter do técnico Muricy Ramalho, que manteve a base de 2004 e trouxe os reforços de Tinga e Jorge Wagner.
A disputa foi envolta por polêmicas, e, após uma decisão contestada do então presidente do STJD, Luiz Zveiter, e de um erro do árbitro Márcio Rezende de Freitas, o Alvinegro se sagrou campeão.
Indignada, a torcida colorada realizou muitos protestos. A direção também não escondia a irritação. No fim do campeonato, o Inter chegou a promover uma comemoração, alegando que o time era o campeão por direito.
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Confira a cronologia dos fatos que envolveram os dois clubes no Brasileirão mais polêmico da história:
18/09/2005 – Ascensão colorada
No domingo do dia 18 de setembro, o Inter venceu o Atlético-PR por 3 a 2 no Beira-Rio, graças aos gols do meia Ricardinho, do lateral-esquerdo Jorge Wagner e do atacante Rafael Sobis – este último vivia uma boa fase, e já não ouvia mais as vaias do início do ano. Com o resultado, o time assumiu a liderança da competição, na qual se manteve até o início de outubro.
02/10/2005 – A perda da liderança
O Inter se mantinha na ponta, mas, na véspera de um duelo decisivo contra o Fluminense no Beira-Rio, uma surpresa. Devido a denúncias de que o ex-árbitro Edílson Pereira de Carvalho manipulava resultados de jogos do Brasileirão, as 11 partidas conduzidas pelo juiz foram canceladas e remarcadas. O Inter perdia os três pontos da vitória sobre o Coritiba no Beira-Rio e a liderança para o Corinthians, que ainda ganhava a chance de recuperar os pontos das derrotas para São Paulo e Santos.
28/10/2005 – Vitória do mesmo jeito
Como quem diz que tudo deve ficar no lugar onde estava, o Inter não apenas venceu seu jogo repetido, mas também fez o mesmo placar: 3 a 2 sobre o Coritiba.
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24/10/2005 – Empate no lugar da derrota
No seu primeiro jogo remarcado, o Corinthians foi ao Morumbi e empatou em 1 a 1 com o São Paulo. Assim, recuperou um dos pontos perdidos. Ainda faltavam três.
13/10/2005 – Vitória na segunda chance
O Corinthians aplicou 4 a 2 no Santos no segundo jogo remarcado. Assim conquistou quatro pontos dos seis que havia perdido. Era líder com folga.
20/11/2005 – A expulsão de Tinga
O Inter continuou na cola do Corinthians, mas não conseguiu tirar a diferença de quatro pontos lucrada pelo time paulista com a decisão do STJD. A chance era vencer o adversário no Pacaembu. O jogo estava bom. O argentino Tevez abriu o placar aos 37 do primeiro tempo. O colorado Sobis empatou aos três da etapa final. E o Inter partiu para cima em busca da vitória.
Aos 29 da etapa final, Tinga entrou na área corintiana e foi derrubado pelo goleiro Fábio Costa. Pênalti claro, visto por todos, menos pelo árbitro Márcio Resende de Freitas, que encerrava uma bela carreira de forma melancólica: aplicando cartão amarelo no volante colorado, alegando simulação. Como já tinha recebido um amarelo – era um jogo complicado -, o camisa sete foi expulso. Muitas reclamações do lado colorado.
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– Está na hora de darem a taça para o Corinthians – ironizou o então presidente Fernando Carvalho.
04/12/2005 – O fim
Na data da última rodada do Brasileirão, uma liminar concedida pela justiça gaúcha ao advogado – e torcedor do Inter – Leandro Konrad Konflanz havia impedido a CBF de entregar o troféu ao campeão. Para superar a diferença de quatro pontos do Corinthians e se sagrar campeão mesmo com a anulação dos jogos, o Colorado precisava golear o Coritiba e torcer para uma derrota corintiana para o Goiás.
No fim, o Corinthians levou 3 a 2 e o Inter foi derrotado por 1 a 0. Diante de ameaças de exclusão do Inter da Copa Libertadores 2006 – que o clube acabou conquistando -, Konflanz desistiu da batalha judicial e, na segunda-feira seguinte, os jogadores alvinegros levantaram a taça. Ficou engasgado.
24/09/2007 – Confissão
A Polícia Federal investigava supostas irregularidades da parceria entre Corinthians e MSI. Achou algo suspeito: uma conversa telefônica na qual o ex-presidente alvinegro, Alberto Dualib, dizia o seguinte:
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– Olha se não tivesse aquela m… daquela anulação de 11 jogos, nós estaríamos fora… porque o campeão de fato e de direito seria o Internacional – completa Dualib, antes de afirmar que o título foi conquistado graças a “um ponto roubado”.
02/12/2007 – O rebaixamento corintiano
Com os títulos da Libertadores e do Mundial em 2006, a torcida do Inter já não lamentava mais a perda do Brasileirão de 2005. Mas não esquecia. Na última rodada do Brasileirão de 2007, o Colorado enfrentaria o Goiás no Serra Dourada. Se perdesse, colocaria o Corinthians na obrigação de vencer o Grêmio no Olímpico.
Os jogadores do Inter não queriam perder, mas a torcida colorada levou faixas para o Serra Dourada lembrando a polêmica de 2005. Desesperado na briga contra a degola, o Goiás venceu por 2 a 1. E o Corinthians empatou no Olímpico, sendo rebaixado para a segunda divisão. Após o jogo de Porto Alegre, o goleiro alvinegro Felipe acusou os jogadores colorados de perderem de propósito, para se vingarem do que aconteceu em 2005. O capitão colorado Fernandão respondeu com ironia:
– Se o Corinthians quiser que nós joguemos por eles, que paguem nossos salários.

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