Por mais que os líderes do crime organizado em Santa Catarina estejam isolados em presídio federal e não surjam evidências claras de novas articulações, os comandos das polícias Civil e Militar, e do sistema prisional, decidiram intensificar as ações de inteligência no Estado.

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O motivo principal é o aniversário do Primeiro Grupo Catarinense (PGC), no dia 3 de março. Tímida por enquanto, a mobilização semanas antes visa a evitar que as forças de segurança sejam surpreendidas com onda de ataques como aconteceu no ano passado, quando a facção se antecipou e ordenou crimes nas ruas em fevereiro.

Sigilosas e cujos acessos ficam limitados a poucos policiais, as ações de inteligência costumam ter foco em duas frentes: via escutas telefônicas, até mesmo com grampos de dentro de presídios, e em áreas conflagradas, com policiais que vão a campo atrás de pistas com informantes ou fazendo abordagens a suspeitos.

As cúpulas policial e dos presídios catarinenses dizem que não há motivos concretos para a população se preocupar ou até mesmo ser alertada. Isso vale também mesmo com as recentes afrontas a bases e postos da Polícia Militar no Estado.

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Desde o dia 1º, unidades ativadas ou desativadas da corporação foram atingidas a tiros ou tentativas de incêndio em Florianópolis (Vila Aparecida e Rio Vermelho), São José (Lisboa e Jardim Zanelato) e Chapecó (Marechal Bormann e São Pedro).

Os dois comandos, das polícias Militar e Civil, garantem que foram atos de vandalismo e não têm relação com o PGC. Essa tese só ruiu publicamente na quinta-feira, a partir de uma declaração do comandante do 10º Batalhão da PM em Blumenau.

O tenente-coronel Cláudio Roberto Koglin disse ao Jornal de Santa Catarina, do Grupo RBS, que há um estado de alerta sim porque teria sido detectado um salve-geral (ordem para ataques) feito por facção criminosa. Ele então pediu aos seus policiais para redobrarem a atenção.

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Na Polícia Civil, ninguém da chefia ou da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) fala em novas ameaças do PGC. Entre os policiais, o clima é de preocupação e alerta.

– Reforçamos a inteligência, embora nas últimas ocorrências estejam descartadas ações de autoria de organização criminosa. Prefiro pecar pelo excesso que por omissão – disse na sexta-feira o delegado-geral da Polícia Civil, Aldo Pinheiro D’Ávila.

O alcance dos criminosos a fuzis e metralhadoras é a preocupação da polícia no momento. Outra batalha a ser vencida diariamente é decifrar os códigos das facções usados cada vez mais para fugir dos rastreamentos telefônicos.

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Facção

O Primeiro Grupo Catarinense (PGC) foi fundado dentro de presídios catarinenses por criminosos em 3 de março de 2003.

Violência

Entre novembro de 2012 e fevereiro de 2013, os líderes da facção ordenaram duas ondas de atentados nas ruas de Santa Catarina. Houve mais de 100 casos de incêndios a ônibus e ataques a unidades policiais. Em outubro de 2012, o bando também ordenou o assassinato da agente prisional Deise Alves, em São José.

Trégua

Só houve trégua depois que a polícia fez prisões e mapeou 98 criminosos e, em fevereiro de 2013, com a ajuda da Força Nacional de Segurança, enviou 40 líderes para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

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Aniversário

Agora, há temor de que com a proximidade do aniversário da facção, em março, haja comemoração com crimes nas ruas. Outra preocupação é vingança com crimes nas ruas por causa do pedido de renovação da manutenção dos líderes do PGC por mais 12 meses no RDD feito à Justiça pelo Departamento de Administração Prisional (Deap).

Casos investigados

16 de janeiro

Uma viatura da Polícia Civil é parcialmente queimada de madrugada na 1ª Delegacia de Polícia, no Bairro Forquilhinha, em São José. Policiais suspeitam que o crime esteja ligado a uma prisão em flagrante.

30 de janeiro

Dois carros são incendiados no pátio de uma revenda em Itajaí. Um deles é uma viatura da Polícia Militar. O fato também aconteceu de madrugada.

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2 de fevereiro

Tiros são disparados por volta de 23h contra a base da Polícia Militar na Vila Aparecida, região Continental de Florianópolis. Os disparos atingem a parede dos fundos e o carro de um morador. O autor teria sido visto correndo a pé. Os vidros do posto são blindados em razão de outros ataques.

1º de fevereiro

A base da Polícia Militar do distrito de Marechal Bormann, em Chapecó, no Oeste, é incendiada de madrugada. Um homem de 20 anos foi preso. Peritos encontraram as mesmas marcas do tênis do suspeito na unidade policial e na casa dele.

4 e 5 de fevereiro

Mais três fatos foram registrados no Estado. Em São José, quatro tiros foram dados contra a base da PM do loteamento Lisboa. Em Chapecó, outra base foi incendiada. Já em Florianópolis, um carro e uma antiga base da PM no Rio Vermelho foram queimados.

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7 de fevereiro

Uma base da Polícia Militar foi alvejada com três tiros, por volta de 20h40min, no Jardim Zanellato, em São José. Dois homens numa moto passaram atirando.