Quando os termômetros começam a marcar menos de 10ºC, os olhos se voltam das belezas do Litoral para a região mais alta de Santa Catarina. A chegada do inverno incrementa a economia dos municípios da Serra catarinense, e a cada nova temporada o setor de serviços avança no desenvolvimento coletivo, a fim de oferecer novas experiências e opções a quem procura o frio como atração turística.
Continua depois da publicidade
Há pouco mais de dois anos, os municípios da região passaram a trabalhar o turismo de maneira integrada, por meio do Conselho de Turismo da Serra Catarinense (Conserra). A iniciativa fica sob o guarda-chuva da Associação de Municípios da Região Serrana (Amures). Desde o mapeamento das potencialidades de cada local até o levantamento econômico, todo o trabalho tem sido feito de maneira ordenada.
— A gente acompanha as chamadas públicas, faz com que os municípios cadastrem projetos. Hoje os postos de informações turísticas funcionam todos os dias do inverno, a sinalização turística também melhorou, além de buscar a articulação para investimentos públicos — explica Ana Vieira, assessora de turismo da Associação.
As belezas da paisagem do território serrano, cânions e reservas naturais, são o principal atrativo para os turistas. O que tem surgido nos últimos anos, para que esse movimento seja intensificado, são iniciativas particulares, investimentos no setor de hospedagem e na oferta de bares e restaurantes.
– Já é possível visualizar o crescimento. Urupema, por exemplo, tinha dois restaurantes, hoje são quatro. Bom Retiro recebeu uma nova empresa, investimentos no setor vinícola, roteiros de caminhadas, turismo esportivo, além de interessados em investir na região – exemplifica Ana.
Continua depois da publicidade
Crescimento em números
Das 18 cidades dentro da Amures, sete têm dados econômicos diretamente ligados ao turismo. Os números levam em conta o saldo dos negócios com emissão de nota fiscal, abertura de restaurantes, hospedagem, transporte e agências de viagem.
No último levantamento divulgado, referente à temporada de 2018, Lages gerou R$ 49,4 milhões de lucro, seguida por São Joaquim com R$ 3,2 milhões, Urubici com R$ 3,1 milhões e Bom Jardim da Serra com R$ 3 milhões.
A movimentação econômica, no entanto, é maior do que isso, tanto pela informalidade quanto pela falta de levantamento que inclua comércio, vinícolas, pontos turísticos sem controle de movimentação, entre outros. O setor de compras e o turismo nas mais de 20 vinícolas existentes na região trabalham em um levantamento próprio.
Para este ano, a região conseguiu aporte de R$ 300 mil por emenda parlamentar. O valor, via Ministério do Turismo, será usado para a elaboração do Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo da Serra Catarinense. O estudo ficará a cargo do Sebrae, com capacitação de gestores para planejar o turismo. Para Ana Vieira, o maior desafio é que as ações sejam permanentes e avancem independentemente das mudanças na gestão municipal.
Continua depois da publicidade
Urubici, São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Lages, Urupema, Bom Retiro e Rio Rufino sentem os reflexos do turismo no retorno de ICMS, mas a tendência é que os demais municípios, conforme o avanço das iniciativas, também tenham reforço na arrecadação. Na atual gestão estadual, o Conserra alinha algumas demandas para buscar o apoio do poder público, principalmente no setor de infraestrutura de estradas e sinalização turística.
Para quem escolhe a Serra como destino de férias ou de final de semana, o encantamento é tamanho que faltam argumentos na hora de apontar pontos de melhoria. O guia de turismo Rafael França Lobato de Andrade, de São Paulo, aproveitou o primeiro final de semana de inverno para trazer mais um grupo do interior paulista para conhecer a região. Só neste ano, essa é a terceira vez que ele vem para cá.
O pessoal pira quando vê as fotos, de tanto eu viajar e mostrar, começaram a surgir interessados em vir junto. Eles saem surpreendidos. Os lugares são lindos, o pessoal, bem educado. Só tenho respostas positivas de quem vem – elogia Andrade.
Na Serra do Rio do Rastro, quatis e belas paisagens
Depois de superar as mais de 200 curvas da Serra do Rio do Rastro – que liga Lauro Müller a Bom Jardim da Serra –, quem vem do Sul do Estado em direção à região serrana é recepcionado, além da bela vista, por um bando de bichinhos curiosos. Os quatis, mamíferos de pequeno porte que vivem por ali, estão habituados a “fazer graça” em troca de comida. Embora seja proibido alimentar os animais, os turistas acham graça e o hábito tem se tornado um problema.
Os ataques dos bichinhos aos visitantes têm se tornado cada dia mais frequentes. Basta ter uma sacola ou bolsa por perto, que o grupo começa a se aproximar.
Continua depois da publicidade
Além do risco aos humanos, a alimentação com doces, salgados e outros itens de fora da cadeia alimentar pode desenvolver doenças nos animais.

Além da recepção dos bichinhos, quando o dia está ensolarado não há quem resista à sinuosidade da SC-390. O casal de São Paulo, Silvina Bustos e Rafael Golin, que chegou na região na quarta-feira, estava ansioso pela visita. Ele tem família em Lages, mas a pesquisadora acadêmica é argentina, e apesar de estar no Brasil há 11 anos, ainda não conhecia a serra.
– Eu gosto porque tem mato. Aprecio o frio, sou da região da Patagônia, então tudo que envolve a natureza me encanta – resume Silvina.

Ampliar a estadia de turistas é um dos desafios da Serra
O que não falta são opções para passear na Serra catarinense: cânions, parques, vinícolas, paisagens de tirar o fôlego. Mas a permanência na região ainda é menor do que o esperado. A maior parte das reservas é para um ou dois dias, no máximo, o que impede que os impactos econômicos no setor sejam maiores.
Continua depois da publicidade
O casal Alexandre Fistarol, 37 anos, e Jessica da Rosa, 28, saiu de Ascurra, no Vale do Itajaí, ainda na madrugada, e contemplou o nascer do sol no Morro das Antenas, em Urupema.
— Não vamos ficar, estamos só de passagem. Vamos pegar a estrada e seguir sem marcar nada, vamos parar pelo caminho. No momento, o destino certo é descer a Serra do Rio do Rastro — comentou Fistarol.

Olhando de baixo para os imensos paredões da Serra do Rio do Rastro, Dirce Foggiatto Basso, 63, e Ademir José Basso, 62, contemplavam o caminho que tinham pela frente. A viagem é em comemoração aos 33 anos de casados, que os moradores de São José dos Pinhais, no Paraná, resolveram celebrar em terras catarinenses. A hospedagem foi em Urubici, e eles ficam na região até este domingo (24).
Novas paisagens na Serra do Corvo Branco
Além dos pontos turísticos conhecidos, como o Morro das Antenas, em Urupema, a Cascata do Avental e o Morro da Igreja, em Urubici, a região tem o desafio de buscar novas rotas para quem já conhece esses locais.
Continua depois da publicidade
Desde janeiro, a Serra do Corvo Branco – que liga Grão Pará e Urubici –, conta com um novo empreendimento, que apresenta aos turistas novas perspectivas.
A gente sempre sobe a serra de moto, só nós dois, mas desta vez trouxemos os filhos. É encantador, não tenho palavras. Essa vista a gente não conhecia, foi a primeira vez – comenta a diarista Liliane Gomes, 30 anos, moradora de Florianópolis.

São quatro mirantes, com parte do trajeto de carro e o restante em trilhas sinalizadas. O ingresso custa R$ 20, e também há opção de passeios a cavalo, por um custo adicional. Para o ano que vem, o empreendimento deve ganhar uma passarela de conexão entre dois pontos dos cânions, um atrativo a mais para quem tem coragem e busca novas aventuras.