A promessa de transporte coletivo interligado, que permita ao morador circular pelos bairros de Itajaí pagando apenas uma passagem, só deve sair do papel no ano que vem. Seis anos após o início das obras, dois terminais estão prontos, nos bairros Fazenda e Ressacada, mas somente o da Fazenda funciona. A terceira estrutura, no Bairro Cordeiros, ainda depende do término das obras. Enquanto isso, os usuários reclamam da falta de linhas _ problema que poderia ser minimizado com o pleno funcionamento do sistema integrado.

Continua depois da publicidade

Os terminais são construídos através de parceria entre o município e a Coletivo Itajaí, que é detentora do serviço. À prefeitura couberam as obras de infraestrutura, enquanto a concessionária ficou com a responsabilidade de fazer as plataformas. O investimento municipal nos terminais ultrapassa R$ 3,2 milhões, entre desapropriações e obras de infraestrutura.

– Estamos na fase de conclusão da área de Cordeiros para entregá-la à Coletivo Itajaí – diz o secretário Municipal de Urbanismo, Paulo Praun Cunha Neto.

A demora na interligação deve-se, segundo ele, a alterações que precisaram ser feitas nos projetos originais dos terminais. Também foram necessárias desapropriações na área de Cordeiros, que atrasaram o processo.

De acordo com Cunha Neto, o transporte coletivo ganhará agilidade com o sistema integrado. Algo essencial para usuários como Regiane Dutra, 26 anos. Na sexta-feira, junto ao ponto de ônibus da Rua 7 de Setembro, ela consultava nervosa o relógio. Atrasada, perdeu o coletivo que a levaria de volta para casa, no Bairro Paciência, às 16h50min, e há uma hora aguardava pela próxima condução. Disse que só chegaria em casa às 19h, quando o ônibus, depois de muitas voltas, pararia perto da casa onde mora. Para ela, a maior deficiência do transporte coletivo de Itajaí é a falta de itinerário _ uma reclamação recorrente, que atinge moradores da zona rural e de alguns bairros da cidade.

Continua depois da publicidade

– Já pensei em desistir de andar de ônibus e comprar uma moto. Só me falta a carteira e a coragem – disse Regiane.

Mesmo quem vive mais perto do Centro passa trabalho. Cíntia Tatiana Machado, 33, mora no Imaruí, e trabalha na região central de Itajaí de segunda a sábado. Aos finais de semana, quando os horários são reduzidos, tem que caminhar até a Avenida Caninana para pegar a condução.

– É uma vergonha que isso aconteça em um bairro tão perto do Centro.

Nova licitação

As constantes reclamações, aliadas a suspeitas de irregularidades e à falta de fiscalização do serviço, fizeram com que o Ministério Público recomendasse à prefeitura uma nova licitação para o transporte coletivo – ou então, mudanças na forma de prestação do serviço.

A Coletivo Itajaí, atual concessionária, é a única responsável pelo transporte público desde a década de 80. O último processo licitatório ocorreu em 2006, quando a empresa ganhou o direito de mais 15 anos à frente do serviço. Segundo o secretário de Urbanismo, uma nova licitação pode provocar mais atraso na interligação entre terminais.

Continua depois da publicidade

Falta de linhas multiplica as bicicletas

A geografia plana de Itajaí é um convite para quem se dispõe a pedalar. Mas é a falta de linhas a principal responsável pela multiplicação dos ciclistas na cidade. No final da tarde de sexta-feira, uma multidão sobre duas rodas voltava para casa após o dia de trabalho, na Avenida Mário Uriarte, Bairro Cordeiros. Entre eles estava o eletricista Marcelo de Amorim, 43 anos. Há um ano, ele trocou o ônibus pela bicicleta para fazer o trecho entre a empresa, que fica à margem da BR-101, e a casa onde mora, no Bairro São Vicente.

– Eu chegava a esperar uma hora pelo ônibus. Agora, pedalo alguns minutos e já estou em casa. Doutor em Gestão Territorial e professor da Univali, Jânio Vicente Rech diz que a rapidez de deslocamento é o primeiro quesito avaliado pelo usuário antes de optar pelo transporte coletivo. Só depois vêm o conforto e o preço do serviço.

– Quando há poucas linhas ou não se atende à demanda, as pessoas acabam optando por outro meio de transporte. Além das bicicletas, a facilidade de financiamento também aumenta o número de motos e carros circulando pela cidade _ o que impacta no trânsito.

Vans e micro-ônibus podem começar a operar

Uma alteração na lei orgânica do município pela Câmara de Vereadores permite que vans e micro-ônibus façam o transporte para bairros mais afastados e menos populosos, onde as linhas podem não ser interessantes para a concessionária. A alternativa seria viável nas linhas da zona rural, por exemplo, onde, embora escassos, os ônibus não chegam a ficar lotados.

Continua depois da publicidade

Segundo a Secretaria Municipal de Urbanismo, ainda não há prazo para que o serviço seja colocado em prática, já que depende de licitação. A decisão deve ficar a cargo do Conselho Municipal de Transporte Coletivo (Comtranc), que retomou as atividades há apenas dois meses, após ter ficado inoperante por quase dois anos.

As mudanças na legislação também determinam que mais uma concessionária passe a se responsabilizar pelo serviço assim que a cidade chegar aos 220 mil habitantes. O último Censo do IBGE, de 2010, informa que Itajaí tem 183 mil moradores.

Contrapontos

>> O que diz a Coletivo Itajaí

Consultor da empresa, Marco Littig explicou que a implantação de novas linhas é feita mediante solicitação da prefeitura ou do Conselho Municipal de Transporte Coletivo (Comtranc), que estava com as atividades suspensas desde 2010. Segundo ele, a interligação do transporte coletivo vai aumentar a oferta de linhas e facilitar a mobilidade para os usuários de ônibus de Itajaí. A empresa aguarda a finalização dos trabalhos da prefeitura para construir a estrutura do terminal do Bairro Cordeiros, o único que ainda não está pronto.

>> O que diz a prefeitura de Itajaí

Secretário de Urbanismo, Paulo Praun Cunha Neto disse que o Comtranc esteve inoperante devido a recomendações do Ministério Público, que apontou problemas de representatividade no órgão. O conselho voltou a operar há dois meses e uma das funções é promover estudos de demanda para visualizar onde são necessárias novas linhas, segundo Praun. Em relação à interligação dos terminais, a previsão do secretário é que estejam todos funcionando em 2013.

Continua depois da publicidade