Enquanto as atenções de governantes, empresários, ambientalistas e da população estão voltadas à construção do estaleiro bilionário da OSX em Biguaçu, na Grande Florianópolis, outro grande empreendimento enfrenta impasses na Justiça Federal. Trata-se da exploração de uma mina de fosfato e da construção de uma fábrica de fertilizantes em Anitápolis, cidade localizada a 97 quilômetros da capital catarinense. Os impactos regionais dos dois temas serão debatidos nesta quarta-feira e quinta-feira no auditório da Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
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Há mais de um ano as obras da fosfateira estão embargadas, por determinação de uma liminar da Vara Ambiental de Florianópolis, e a licença ambiental prévia está suspensa. O prejuízo, segundo a Indústria de Fosfatados Catarinense (IFC), hoje comandada pela multinacional Vale, chega a quase US$ 1 milhão por mês. A ação civil pública foi movida pelo Ministério Público Federal (MPF) em setembro de 2009.
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Mais que a questão econômica que embasa a aposta no empreendimento, os impactos no meio ambiente e na saúde pública dos moradores da região têm ganhado amplitude. Hoje a Vale enfrenta duas ações ajuizadas contra o empreendimento. Além disso, seis prefeituras ingressaram oficialmente na ação contrária ao empreendimento. A última foi Laguna, em 6 de outubro. O prefeito Célio Antônio (PT) teme pelos reflexos da fosfateira no complexo lagunar.
– Pelo menos 2,5 mil famílias vivem da pesca aqui. Estou preocupado com o impacto que a mineração pode causar na nossa região – afirmou.
A primeira ação envolve impactos ambientais na região rica em nascentes, que agrega rios que abastecem a Bacia Hidrográfica do Braço do Norte, do Rio Tubarão, e podem afetar 25 municípios. Foi movida pela Associação Montanha Viva e conseguiu com a liminar parar o processo de instalação da fosfateira. Segundo a ação, em caso de rompimento das barragens de rejeitos (resíduos da fabricação de fertilizantes), poderá haver contaminação até mesmo no complexo lagunar, em Laguna.
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De acordo com o advogado Eduardo Lima, especialista em Direito Ambiental, Políticas Publicas e Ciências Ambientais, a Fundação de Apoio ao Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma) não deveria ter conduzido a licença ambiental.
– No projeto de Anitápolis consta a derrubada de 278 hectares de vegetação nativa de Mata Atlântica, que está ameaçada de extinção. Neste caso, avaliação deveria ser do Ibama – destaca.
Defensoria Pública da União alerta para risco à saúde pública
A outra ação, assinada pelo defensor público federal Gabriel Faria Oliveira, questiona sobre a existência de um estudo de avaliação de risco à saúde humana. Segundo Oliveira, ofícios foram encaminhados aos municípios possivelmente afetados, à Fundação do Meio Ambiente do Estado (Fatma), à Secretaria de Saúde do Estado, à Vigilância Sanitária, e ao prefeito de Anitápolis, Saulo Weiss (PMDB).
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Oliveira afirma que somente Anitápolis respondeu positivamente sobre o suporte no atendimento à saúde, caso haja um acidente tóxico causado pela fosfateira
Vale apoia o projeto da fosfateira
A multinacional informa que está estudando o Projeto Anitápolis e que em todas as regiões brasileiras onde atua e em outros países, a política é atuar com consciência e responsabilidade socioeconômica e ambiental. Técnicos da empresa programam visitar a área da mina nos próximos dias.
Uma das justificativas em defesa da fosfateira é a posição do Brasil como o quarto maior consumidor do mundo (18 mil toneladas de fertilizantes fosfatados são consumidas no país) de fertilizantes, e o terceiro em importação.
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A instalação da fosfateira também pode reduzir a dependência brasileira do fertilizante importado. As importações representam mais de 56% do consumo brasileiro de fertilizantes, ou seja, 11 mil toneladas.
Fora do Brasil, nos países desenvolvidos como Alemanha, França e Estados Unidos, a legislação de mineração é equivalente à do país, afirma o superintendente do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) em Santa Catarina, Ricardo Peçanha. O diferencial está na fiscalização efetiva, já que no Brasil a quantidade de servidores públicos é bem menor, afirma Peçanha.
O superintendente do DNPM conta que em países subdesenvolvidos ocorrem mais danos ao meio ambiente e à população, por causa da legislação que não é tão rigorosa e do baixo investimento tecnológico. Mas enfatiza que a mineração é bem explorada no exterior. Hoje, o maior produtor de fosfato no mundo é o Marrocos, no noroeste da África.
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Fosfateira pode trazer riscos à saúde
Os processos químicos do projeto de Anitápolis podem gerar riscos à saúde da população que vive na região da área da mina.
A afirmação é do estudo da engenheira química e PhD em Química pela Universidade Federal de Santa Catarina Sônia Corina Hess feito a pedido do Ministério Público Federal (MPF) e da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa.
A especialista afirma que, nas fosfateiras, é comum ocorrer vazamento de gases para a atmosfera, decorrentes da produção do ácido sulfúrico, que pode resultar em chuva ácida.
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– Além da extração do fosfato, também será construída uma fábrica de fertilizantes com produção de ácido sulfúrico e ácido fluorídrico, substâncias perigosas – alerta Sônia.
De acordo com o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (Rima) serão gerados 197 mil toneladas de ácido sulfúrico por ano, armazenados em três tanques de 2,5 mil metros cúbicos. A Secretaria do Estado da Saúde afirma que o Sistema Único de Saúde (SUS) não tem como suprir a demanda no atendimento nos municípios da região, que poderá ser afetado pela mina.
No licenciamento para a instalação da fábrica de fosfato não há nenhum estudo de Avaliação de Risco à Saúde Humana.
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