Tive um infarto e os médicos disseram que preciso de uma cirurgia cardíaca com urgência, mas recebi alta sem fazer o procedimento. Estou indo para casa decepcionada, porque fiquei 20 dias esperando e simplesmente ganhei alta porque não tem recursos para fazer.

O desabafo acima é da joinvilense Melania Nazário Dumes, de 43 anos, minutos depois de receber alta do Hospital Regional Hans Dieter Schmidt de Joinville na terça-feira (17), três semanas depois de sofrer um infarto em casa dia 27 de março, e sem saber quando fará a cirurgia cardíaca de que precisa. Assim como ela, a paciente diz haver cerca de 20 pessoas em situação semelhante, que terão de esperar para fazer o procedimento no local.

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A situação acontece há cerca de um mês devido a instabilidade de uma peça do equipamento específico utilizado nesse tipo de cirurgia, que demanda a parada do coração e recurso de circulação extracorpórea (técnica utilizada para desviar o sangue não oxigenado do paciente e devolver sangue reoxigenado para a sua circulação) — como por exemplo nos casos de ponte de safena e troca de válvula cardíaca. É justamente na bomba oxigenadora (máquina coração – pulmão) que a instabilidade foi notada.

Com a descoberta da adversidade, o equipamento passa por análise constante e enquanto o real problema não é identificado a direção do hospital decidiu segurar a realização das cirurgias cardíacas de urgência (necessárias, mas que possuem caráter menos imediatista do que em casos emergenciais). Desde então, são efetuados somente e prioritariamente os procedimentos cirúrgicos de emergência no setor, ou seja, os casos mais graves e em que há situação crítica ou risco iminente ao paciente.

— Não é falta de recursos., nós optamos por segurar as cirurgias nos casos de urgência como uma medida de segurança para não colocar os pacientes em um risco enquanto não identificamos a origem dessa instabilidade no oxigenador — explica sobre a decisão Marcus Grudtner, diretor-geral do Hospital Regional Hans Dieter Schmidt.

— A cirurgia serve para fazer um benefício e não prejuízo, então em forma de cautela suspendemos as cirurgias que conseguimos segurar e estamos priorizando as cirurgias de emergência para que a gente consiga resolver o problema — complementa.

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Em busca de solução

Segundo a direção hospitalar, desde a identificação da instabilidade ao menos um terço das cerca de 20 cirurgias demandadas foram realizadas normalmente, uma vez que se enquadram no grupo emergencial. Nos demais casos, em que a necessidade cirúrgica não é precoce o hospital está cadastrando os pacientes no sistema estadual de regulação de leitos dessa complexidade. Com isso a cirurgia poderá ser feita em outras unidades de saúde especializadas, como em Mafra, Itajaí e Florianópolis, mediante vaga.

Enquanto isso, a direção do Hospital Regional afirma ainda que mantém em curso diversas medidas para resolução da questão, como testes e averiguações do equipamento, empréstimo de oxigenadores, e a programação de uma inspeção da empresa responsável pelo oxigenador utilizado no hospital, que deve ser feita na próxima semana.

Em uma cirurgia marcada para essa quarta-feira (17) também está confirmada a presença de um especialista de Florianópolis, que opera esse tipo de equipamento para acompanhar o processo. Ainda não há prazo para a resolução e normalização total dos procedimentos.

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Famílias aguardam em meio à angústia

Para as famílias, porém, a decisão gera incômodo. Segundo Osvin Dumes, que a acompanha o tratamento da esposa no Regional, diversas famílias enfrentam a incerteza do que pode acontecer caso a espera pela cirurgia se arraste. Ainda segundo ele, a angústia aumenta com a explicação que recebeu de que a suspensão dos procedimentos foi tomada por conta da ocorrência de falhas numa peça do equipamento usado nas cirurgias.

— Os médicos estão fazendo o que podem, mas infelizmente eles mesmos reconhecem que o Estado não está repassando o equipamento para eles operarem. Isso vai além do descaso, é uma falta de respeito dos governantes com os pacientes e também com os próprios profissionais que não tem como trabalhar sem equipamento necessário — relata.

Osvin e a esposa relataram que agora, depois da alta, eles devem procurar alternativas para que a cirurgia dela seja realizada o quanto antes. Isto porque, conforme o casal, Melania está com três artérias do coração entupidas, uma delas com cerca de 90% de obstrução no fluxo sanguíneo.

— Ela tem que operar porque corre risco de ter outro infarto e uma hora para outra e simplesmente não aguentar mais. Então vamos tentar operá-la em outro lugar, mas e com os outros pacientes o que pode acontecer? — questiona Osvin.

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— É um problema iminente que precisa ser resolvido logo, afinal de contas estamos falando de vidas — completa.

Sobre a situação de alta para os pacientes que aguardam na fila por uma cirurgia, a direção do Hospital Regional informa que “o paciente que os cirurgiões cardíacos elencaram que ele não precisa aguardar a cirurgia no hospital, ou seja, o risco dele aguardar no hospital ou em casa é o mesmo, optou-se então por dar a alta a esses pacientes”.

— Isso não quer dizer que eles esteja no final de uma fila. Esse paciente continua em acompanhamento pelo hospital e assim que a situação normalizar ele está entre os primeiros a fazer a cirurgia. E, se porventura diagnosticado uma piora no quadro de saúde dele, ele será operado de forma emergencial se assim for necessário — afirma Marcus Grudtner.

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