Então a indecisão traz seus próprios adiamentos,

E dias são perdidos lamentando outros dias perdidos.

Estás a sério? Aproveite neste mesmo minuto;

O que você pode fazer, ou sonhar que pode, comece já;

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A audácia tem dentro dela genialidade, poder e magia.

(Johann Wolfgang von Goethe)

Eles não leram Goethe, o maior pensador alemão, que viveu entre 1749 a 1832. Mas fizeram neste 2014 o que ele escreveu lá atrás. Thais Doreto, 35 anos, começou 2014 como arquiteta. Termina o ano como doceira. Caroline Schmitz, 28 anos, entrou janeiro deste ano como designer, em Shenzhen, na China. No último domingo do ano atua como terapeuta holística, na praia dos Ingleses, Norte da Ilha. Edésio Meira, 42 anos, era um morador de rua na primeira noite deste ano. Chega a 2015 como eletricista predial.

Não é fácil tomar a decisão de se reinventar. Especialmente quando se trata da profissão. Mas possível. No livro Identidade de Carreira, Herminia Ibarra, apresenta de forma didática a maneira pela qual as pessoas podem aprender a trabalhar sua identidade pessoal para realizarem uma transição profissional.

A autora reúne 23 casos e mostra que essas inquietações ocorrem mais comumente entre pessoas entre os 33 e 55 anos, por serem estas as idades das apropriações (do ter) profissionais (salários, cargos e benefícios), materiais (casa própria e carro) e sociais (família, círculo de amigos, hobbies) cruzando com as questões mais íntimas. Isso por causa da pressão constante que ambas exercem sobre as pessoas, sendo muitas as cobranças individuais e sociais.

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Para a autora, existem momentos na vida que estamos mais propensos e dispostos a mudar. São fases em que a pessoa pensa mais e se mostra mais decidida. Por isso, é preciso estar atentos. Com histórias individuais diferentes, Thaís, Caroline e Edésio fizeram de 2014 um ano possível de mudança.

Designer mudou a profissão depois de viagem espiritual pela Ásia

A designer Caroline Schmitz, 28 anos, a Carol, começou 2014 criando imagens para uma rede de presentes e decoração na cidade de Shenzhen, ao lado de Hong Kong, na China. Chega neste último domingo do ano como terapeuta prânica(terapia energética) e life coach (consultor para a vida onde o coach é o mentor), na praia dos Ingleses, Norte da Ilha.

– Certo dia percebi que não fazia mais sentido passar o dia na frente do computador criando superfícies (embalagens). Decidi ser dona do meu próprio tempo – conta.

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Entre março de 2013 e abril 2014, período em que esteve na China, Carol passou por muitas experiências. O contato com pessoas de todas as partes do mundo, o convívio com jovens chineses e o olhar sobre a produção em série a fizeram amadurecer. Mas nada, conta, igual ao que aconteceu nos sete meses seguintes ao pedido de demissão. Aproveitou para viajar por 13 países da Ásia.

– Usei o dinheiro que juntei trabalhando e, sozinha e sem um roteiro estabelecido, fui ao encontro de uma cultura desconhecida – recorda.

Pouco dos percursos foram feitos de avião. A maior parte em trem, ônibus e barcos. Mais do que as belezas de territórios exóticos encontrados em lugares como Tailândia, Malásia, Laos, Bali, Vietnã, Camboja, entre outros, Carol sentiu-se provocada interiormente à medida que conhecia ruínas, templos, monastérios. Na Índia, onde permaneceu três meses, aprofundou a espiritualidade. Queria desapegar-se das coisas materiais, romper com coisas que a incomodavam, buscar uma paz interior que deseja retribuir.

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– Amo ser terapeuta, viver a história do outro como parte da minha me alimenta.

Formada em Desinger pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Carol retornou para o Brasil para acompanhar uma cirurgia cardíaca do pai. Para este novo ano, planeja retornar para índia e conhecer pessoalmente a sua líder espiritual Amma.

O retorno para Florianópolis exigiu readequação. Vinha de uma experiência profunda de meditação. Iniciada na Escola de Mistérios (Modern Mistery School of Advance, sediada no Canadá), teve em Hong Kong tempo da aprendizagem com Raymond Lo, renomado mestre e conhecedor de Feng Shui, I Ching e astrologia chinesa.

– Eu me achava estranha caminhando no shopping, com tanta gente, aquele corre-corre. Agora, estou acostumada.

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Carol optou em não abrir um consultório. O atendimento é feito na casa ou ambiente de trabalho da pessoa. Para ela, as coisas estão interligadas. Muitos entram em contato pela página que tem no Facebook.

Conta que os pais sempre a estimularam, inclusive nas viagens para o Exterior, mas que amigos e conhecidos acharam que ela tinha virado monja. Alguns acharam que estava com algum problema, fugindo da vida. Na verdade, diz, só estava indo ao encontro dela.

– Abandonei o barco e ganhei o oceano – responde.