A vontade de calçar o salto alto ou passar o batom vermelho da mãe segue frequente e bem comum na vida das meninas. Com o passar dos anos, porém, este comportamento anda acontecendo mais cedo e com mais intensidade. Expostas a sites, jogos de vestir e maquiar, revistas e muita informação de moda, as pequenas não querem subir em qualquer salto. Mesmo com poucos anos de vida, reconhecem o que é fashion e querem um guarda-roupa com as mesmas inspirações do closet da mãe.

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– Faz parte do desenvolvimento das meninas desejar ser como a mãe. Quem não lembra da imagem clássica de uma pequena calçando o sapato de salto e experimentando o colar de pérolas da mãe? Esse desejo faz parte da constituição da feminilidade – analisa a psicanalista Paula Sarmento Leite. – A diferença é que antigamente essa cena se mantinha como uma brincadeira, era uma “arte”, muitas vezes feita escondida. As meninas ficavam imaginando como seria o dia em que usariam o sapato de salto. Hoje, esse tempo está abreviado. A brincadeira se transforma em realidade muito rapidamente.

É por volta dos cinco anos que a menina começa a se identificar mais com a mãe e a querer usar suas roupas, maquiagens, acessórios. Os conflitos entre as duas podem ficar mais intensos. Cabe à mãe contorná-los.

– O velho e trabalhoso “não” ainda continua sendo o argumento mágico. Claro que ele precisa ter consistência. Os pais precisam confiar que vale a pena deixar a criança ser criança – comenta Paula.

Ela lembra que a tendência atual da inversão de gerações não acontece só de filha para mãe:

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– As mães também estão confusas, já que o ideal preconizado atualmente é de que elas se vistam cada vez mais como meninas, eternamente jovens. De um lado estão as mães vestidas como as meninas e de outro as meninas como as mães. Que grande confusão geracional! Fica difícil dizer “não” assim, mas ele tem que ser dito diante do exagero – explica Paula.

O mercado de moda parece ter entendido o novo cenário. Sabendo que as pequenas estão mais exigentes sobre o que usar, tem injetado nas coleções de moda infantil pitadas de fashionismo, criando, por exemplo, lotes de peças nas cores que foram hit nas passarelas adultas e que certamente, recheiam o guarda-roupa da mãe. Bom para os pais, que encontram nas lojas roupas que caem no agrado das meninas e que não ficam inadequadas para a idade.

– Pode ser muito divertido mãe e filha compartilharem experiências neste universo da moda, desde que de forma criativa e equilibrada. O essencial é os pais pensarem sobre o seu conceito de infância, o que faz sentido e o que eles consideram importante para suas filhas – alerta Paula.

Em suma: não se deixe seduzir pela compra de peças de grife pela grife. Crianças necessitam de conforto, boa modelagem e tecidos de qualidade – tudo para preservar o bem-estar e a liberdade que precisam para exercer exatamente o que são: crianças.

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