Furtos, pequenos roubos, ameaças e intimidação. Esses são alguns dos problemas que vêm afligindo moradores e comerciantes do Centro de Florianópolis, que relatam a sensação de insegurança que domina as ruas centrais da cidade, principalmente à noite. Muitos deixam de fazer atividades rotineiras, como ir à academia após as 20h, e outros precisam fechar as portas do comércio antes dos horários habituais, como bares e farmácias.
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Para a Polícia Militar (PM), as ocorrências de furtos e roubos se mantêm estáveis nas últimas semanas, e os responsáveis pelos crimes muitas vezes são pessoas que se infiltram entre os que vivem nas ruas do Centro Histórico. Os crimes servem para alimentar as bocas de tráfico de drogas localizadas em algumas comunidades do Maciço do Morro da Cruz, segundo a polícia.
Quem está há décadas trabalhando na região percebe o problema, como Gabriela Soares, uma das proprietárias da Kibelândia, restaurante de comida árabe há mais de 50 anos funcionando na Rua Victor Meirelles, no Centro. Segundo ela, uma série de fatores vem contribuindo para o que chama de ¿deterioração¿ da região central, com casos de pequenos furtos e roubos se repetindo, bem como brigas, ameaças e intimidações a pedestres, frequentadores de bares e motoristas que estacionam os veículos nas proximidades.
— O problema é que essa sensação de insegurança afasta os moradores, nosso movimento cai, e agora no verão, quando era para a coisa melhorar, piora ainda mais, porque os turistas não vão querer vir ao centro e muito menos passear. Estamos desesperados, porque a situação só piora, cada vez há mais pessoas que usam drogas e ficam por aí perambulando. Aqui, costumamos fechar à meia-noite, mas com pouco movimento, fechamos às 23h — conta Gabriela.
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A subgerente de uma farmácia no entorno da Praça XV de Novembro, que prefere não se identificar, conta que o estabelecimento antes fechava às 22h, mas agora, devido aos furtos e até roubos ocorridos no local, passou a fechar às 21h. Nem a presença de um segurança de empresa particular na farmácia intimida os ladrões, que costumam aproveitar a loja cheia de clientes para praticar pequenos crimes.
— Depois das 20h e aos sábados a situação fica bem complicada, porque o movimento diminui, e ficamos vulneráveis, já que às vezes eles entram alterados aqui e nos ameaçam. Já tivemos furtos e roubos aqui — afirma.
Moradores evitam o Centro Histórico
Não são apenas os comerciantes que sofrem com a insegurança no Centro. A auxiliar administrativa Cássia Schmidt, 34 anos, não mora na região, mas frequentava uma academia por ali, o que deixou de fazer depois de ser algumas vezes abordada por usuários de drogas. Por esses dias que antecedem o verão, ela não costuma caminhar pela região depois das 20h.
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— É perigoso, porque são muitas pessoas morando nas ruas, e os que usam drogas são mais complicados — justifica.
Pelos cálculos da prefeitura, que embasou um estudo apresentado em junho na Câmara de Vereadores, existem na cidade 421 pessoas em situação de rua, sendo que 144 estão em casas de acolhimento, 46 no Albergue Municipal, 66 nas Casas de Apoio e 32 em unidades cofinanciadas pela Secretaria Municipal de Assistência Social. Entre as 277 pessoas que estão efetivamente nas ruas, 67,1% se concentram no Centro.
Nos meses de novembro e dezembro, contudo, esse número costuma aumentar em cerca de 25%, revela a assessoria de imprensa da Secretaria de Assistência Social da Prefeitura de Florianópolis. Segundo a pasta, a rotatividade nas casas de apoio é grande, pois muitos deles ficam pouco tempo na cidade.
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Em conversa com a reportagem, o prefeito Cesar Souza Junior (PSD) falou do Centro Pop, do albergue, do consultório de rua, das equipes de abordagem e da contratação de mais de 140 pessoas para atuarem na assistência social.
— Mas não podemos obrigar as pessoas a irem para o abrigo. E a cidade é um polo de atração para as pessoas em situação de rua, especialmente no verão. O que eu recomendo é que as pessoas não alimentem os moradores em situação de rua, mas os encaminhem ao Centro Pop ou para o nosso albergue, porque lá nós vamos dar o tratamento adequado — orienta.
O que diz a polícia
O tenente-coronel Marcelo Pontes, comandante do 4° Batalhão de Polícia Militar, entende que a tendência é aumentar o número de pessoas em situação de rua, porém, ainda em dezembro “essas pessoas costumam se deslocar para as praias, principalmente o norte da Ilha e a Lagoa da Conceição”.
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Pontes afirma que muitos se infiltram no meio das pessoas em situação de rua para praticar crimes, fazer pequenos arrombamentos e furtos para sustentar o vício em crack. O tenente-coronel, que não conseguiu repassar à reportagem o número de ocorrências na região nas últimas semanas, disse que um dos responsáveis por crimes no Centro já foi preso duas vezes, e solto logo em seguida.
— É difícil, pois o furto é um crime de menos potencial, e essas pessoas entram presas, mas logo são soltas — conclui.