A vacina contra a Covid-19 trouxe a primeira dose de “esperança” e “liberdade” para quem assistiu ao pior da pandemia do novo coronavírus em Santa Catarina. Esses sentimentos foram narrados pelos três primeiros catarinenses a serem imunizados contra a doença, no fim da tarde desta segunda-feira (18), em São José, na Grande Florianópolis.
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Se Santa Catarina não teve até o momento o caos vivido em capitais como Manaus (AM), também vivencia seu drama particular com aglomerações, casos, complicações e mortes pela Covid-19. Até está segunda o Estado tinha quase 6 mil óbitos provocados pela doença. O primeiro a receber a vacina em SC pertence a um grupo que assiste de perto a este pior lado da pandemia: as internações em UTI e as mortes que esvaziam famílias.
O enfermeiro Júlio Cesar Vasconcellos de Azevedo, 55 anos, morador de Florianópolis, lembrou dessas cenas após receber a primeira dose do imunizante, um vidrinho menor que um dedo capaz de atrair toda a atenção do pequeno auditório em meio ao corredor hospitalar, hoje tomado por jornalistas. Após ser vacinado, Júlio Cesar fez um apelo para que as pessoas pensem nesses riscos e em seus familiares para se vacinar.
— Que as pessoas pensem nos seus pais, nos seus “vozinhos” em casa para que tomem a vacina em nome do amor.
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Para outra grande parcela da população, os principais efeitos da pandemia são o isolamento e as restrições necessárias para proteger os familiares e evitar a doença. O segundo a ser contemplado com uma dose saída das disputadas caixas de isopor capazes de causar guerras políticas foi João de Jesus Cardoso, 81 anos. Ele reside em uma casa de repouso em São José e representa este grupo de idosos que, expostos e sob risco de complicações da doença, sofrem com as restrições mais severas.
“Liberdade”
Talvez por isso a sensação descrita pela terceira pessoa a ser vacinada em SC, a cacique Eunice Antunes, tenha sido a de “liberdade”. Eunice, que tem o nome indígena de Kerexu Yxapyry, é professora, mãe e líder de uma comunidade indígena Guarani da região de Morro dos Cavalos, em Palhoça.
Reconhecida pela defesa das populações indígenas, ela compareceu à cerimônia de vacinação com adereços que representam sua cultura e uma camiseta com dizeres “Resista como um indígena”. Um grupo sabidamente mais vulnerável ao vírus e que careceu de atenção nas aldeias para que pudessem ser protegidos da doença.
Nesta segunda, em uma rápida fala após receber a vacina, Eunice lembrou das tradições, mas também venerou a ciência. Mostrou ser uma líder avessa ao negacionismo e defendeu que todos os catarinenses tenham acesso à vacina.
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— Minha sensação ao receber essa vacina é de liberdade. A gente passou um ano, praticamente, que foi uma eternidade, presos por motivo de proteção, mas também naquela incerteza de como chegaríamos onde chegamos hoje. Então quero agradecer às divindades, à sabedoria, à ciência e à união dos povos — celebrou.
As primeiras vacinas aplicadas simbolicamente em SC provocaram, de certa forma, sensação de liberdade a todos os catarinenses. Não que a batalha esteja vencida, longe disso. As doses enviadas ao Estado contemplam apenas 30% dos trabalhadores de saúde, que são um dos grupos da fase 1 da campanha de vacinação.
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Em entrevista coletiva, o governador Carlos Moisés antecipou que a vacinação deve se estender durante todo o ano em SC e que o cronograma depende da liberação de mais doses por parte do governo federal. Portanto, nada mudou no perigo representado pelo coronavírus e os cuidados ainda são essenciais.
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No entanto, é como se essas primeiras doses, que nesta terça-feira começam a chegar a outras cidades do Estado, disseminassem esperança. Devolvesse proteção após um ano em que ninguém escapou de sair ferido.
“Alívio”
O alívio das primeiras vacinas veio após um dia de muita expectativa. Desde as primeiras horas do dia os brasileiros assistiram ao embarque das doses para os Estados, a partir da central de distribuição do Ministério da Saúde, em Guarulhos (SP).
Santa Catarina foi um dos primeiros a recebê-las. Outras unidades da federação sofreram com atraso de voos e problemas de logística do governo federal, que frustraram planos de iniciar vacinação ainda nesta segunda. Em SC, muitos municípios se organizavam para tentar iniciar a vacinação ainda nesta quarta.
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No fim da tarde, o Estado anunciou um evento simbólico e sinalizou que as só seriam transportadas para as regiões a partir da terça. Coube ao Instituto de Cardiologia anexo ao Hospital Regional de São José garantir que o dia não se encerrasse sem a imagem dos primeiros catarinenses vacinados.
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O clima de euforia, ainda que contido, estava presente na cerimônia de vacinação simbólica. Por alguns minutos, dúvidas sobre como será a vacinação no restante do Estado puderam esperar pacientemente para contemplar a aplicação das doses.
Uma esperança que a partir desta terça começa a alcançar todos os catarinenses.