Como comprar um petro? A criptomoeda venezuelana, com a qual o governo pretende driblar as sanções dos Estados Unidos e resolver seus graves problemas de liquidez, já estão à disposição do público, mas poucos sabem usá-la.
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Após um mês de pré-venda privada, na qual o governo diz ter recebido “ofertas de intenção de compra” de 5 bilhões de dólares de 133 países, na última sexta-feira foi lançada a oferta pública, que será concluída em meados de abril.
O desconhecimento reina, apesar do amplo investimentos midiático.
A confusão é tamanha que uma das maiores lojas de departamento do país colou a mensagem “Aceitamos petro como forma de pagamento” nas vitrines, mas retirou-a horas depois, porque os funcionários não sabiam o que dizer aos interessados.
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“Não temos informação sobre como funcionaria a cobrança dos clientes, por isso tiramos”, explicou à AFP o gerente de uma unidade.
As criptomoedas são “um conceito muito técnico”, que “nem todos entendem”, disse à AFP Asdrúbal Oliveros, presidente da consultoria Ecoanalítica.
O governo venezuelano está carente de recursos, diante da queda da receita petroleira – fonte de 96% da receita do país – e das sanções americanas, que dificultam o financiamento externo.
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Na semana passada, Washington também proibiu suas empresas e cidadãos de negociar o petro – respaldado nas vastas reservas venezuelanas de petróleo.
Declaradas em moratória parcial por pagamentos atrasados de títulos em 2017, a Venezuela e sua petroleira estatal PDVSA devem pagar, neste ano, cerca de 8 bilhões de dólares.
– ‘Nem ideia’ –
Especialistas como Oliveros duvidam das chances de sucesso do petro, diante de uma gestão econômica considerada errática. Um déficit de 20% do PIB e uma hiperinflação que o FMI projeta em 13.000% para 2018 alimentam a desconfiança.
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Embora ele tenha acabado de anunciar a eliminação de três zeros no desvalorizado bolívar para impulsionar a economia, Maduro quer que a criptomoeda se dissemine como forma de pagamento de produtos e serviços.
Na quinta-feira passada ele ordenou usá-la nas operações estatais, inclusive da PDVSA.
Para isso, ele listou os serviços turísticos entre os itens que devem ser pagos com a moeda virtual. Ariadna Zamora, chefe de uma agência de viagens, não sabe como.
“Ninguém explicou nada, como você confia em algo que você não conhece?”, disse a operadora de 52 anos à AFP.
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Maduro informou que os petros podem ser adquiridos com euros, rublos, iuanes, liras turcas, e três criptomoedas: bitcoin, ethereum e zen.
Seriam vendidos em casas de câmbio virtuais, nas quais ainda não estão disponíveis.
O vice-presidente Tareck El Aissami anunciou que também serão ofertados em leilões de divisas – monopólio estatal – que se realizam semanalmente.
Para comprar petros, o interessado deve se registrar em um site e baixar uma carteira virtual que permite executar as operações.
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“Não nada… Não tenho nem ideia”, declarou à AFP Carolina Méndez, sobre a possibilidade de aceitar petros em sua sorveteria.
José Ángel Álvarez, presidente da Assciação Nacional de Criptomoedas, que fomenta seu uso, acredita que o petro pode se consolidar, mas pede transparência e “romper o muro da desinformação”.
– Opacidade –
Ao prestar contas da pré-venda privada, Maduro não especificou quantas unidades foram negociadas, ou seu preço. “Não sabemos de onde vêm esses 5 bilhões de dólares”, disse Oliveros.
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O governo fixou em 60 dólares o “preço de venda de referência”, equivalente ao preço do barril de petróleo venezuelano, esclarecendo que poderia variar.
De acordo com um documento, o Estado reserva para si 17,6 milhões dos 100 milhões de unidades da emissão e ofereceria o restante entre a venda privada (38,4 milhões) e a venda pública (44 milhões).
A 60 dólares, o valor máximo que pode ser levantado na pré-venda está longe do valor anunciado, exceto se houvesse mudanças na emissão, o que prejudicaria a “confiança”, diz Oliveros.
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O preço teria variado entre 20 e 30 dólares, segundo o economista César Aristimuño.
* AFP