O Instituto Alok vai investir financeiramente em uma organização que trabalha com reflorestamento e preservação da araucária na Terra Indígena Laklãnõ Xokleng, no Vale do Itajaí. A parceria foi estabelecida no mesmo momento em que o Instituto Zág foi escolhido como um dos vencedores do Prêmio Equador 2023, anunciado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Foram 500 indicações recebidas de 108 países. O Zág foi o único do Brasil. O Instituto Alok soma-se ao PNUD na premiação aos Xokkeng.

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Na cultura Xokleng, a árvore Zág possui valor sagrado e simbólico, mas encontra-se na lista de árvores ameaçadas de extinção devido à exploração descontrolada, restando apenas 2% da mata original. Foi a partir da informação de que a espécie estava com os dias contatos que o casal Nduzi e Isabel Gakran decidiu fundar o Instituto Zág, que no idioma indígena quer dizer araucária.

– Por questões contratuais não divulgamos valores, mas estamos muito felizes com esse olhar do Instituto Alok, pois se trata de um reconhecimento importante, que vai dar visibilidade mundial ao trabalho que estamos desenvolvendo junto à comunidade – conta Isabel, com a filha bebê nos braços e batizada com o nome Zágtxo Gakran, em reverência à árvore secular.

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No começo, sem muita estrutura, o casal passou a recolher pinhas, separar os pinhões, plantar em sacos biodegradáveis e criar mudas. Em média, o tempo é de um ano para que as plantinhas surjam.

Esses esforços incluem a remoção de árvores invasoras, a valorização das tradições ancestrais, e realização de atividades educativas com públicos diversos, como estudantes, para salvaguardar a araucária como fonte de nutrição, medicamento e identidade cultural. O plantio é feito sempre com a participação das crianças, um estímulo para que desde cedo elas reconheçam a importância espiritual e social.

– Para nós do Instituto Zág, existe uma interdependência entre a árvore e o povo Xokleng – diz Isabel.

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Antes do contato com o homem branco, oficialmente em 22 de setembro de 1914, os Xokleng eram um povo nômade que se deslocava em busca de alimento. As exuberantes matas de araucárias ofereciam comida e abrigo. Além disso, o deslocamento da floresta de Mata Atlântica para a Mata de Araucárias permitiu um importante papel na cultura, a partir dos contatos com outros povos, como os Kaingang e mesmo outros grupos Xokleng.

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Veja fotos do projeto de preservação na comunidade indígena

“O futuro pode ser tecnológico e sustentável”, defende DJ Alok

De acordo com números oficiais, o Instituto Alok, criado em dezembro de 2020, investiu cerca de R$ 10 milhões em projetos sociais espalhados por cinco países. Em 2022, o dinheiro ajudou 170 mil pessoas no mundo, sendo 12 mil no Brasil. Conforme números do próprio Instituto, pelo menos um milhão de pessoas no Brasil, Moçambique, Madagascar, Malawi e na Índia foram beneficiadas em diversas atividades.

As iniciativas incluem projetos de formalização na área de tecnologia para povos indígenas, renovação e reformas de vilas em países do continente africano, ações contra o trabalho infantil na Índia e apoio a uma instituição de crédito que ajuda a financiar negócios de agricultores no interior do Brasil. Em meados de setembro, o DJ esteve presente no “SDGs in Brazil”, o maior encontro de sustentabilidade corporativa da rede brasileira do Pacto Global, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.

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Alok apresentou-se ao vivo com músicas do álbum “O futuro é ancestral”, compostas em coautoria com lideranças musicais dos povos Kariri-Xocó, Huni Kuin, Yawanawa e Guarani. Na ocasião, o DJ goiano disse:

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– O futuro pode ser tecnológico e sustentável, mas para isso precisamos ouvir a voz da floresta e co-criar soluções com essas vozes.

Além do debate, em que participaram convidados como Samela Sateré-Mawé (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), Carlos Nobre (USP), Carolina Pasquali (Greenpeace Brasil) e Patricia Ellen (Systemiq e Aya Initiative), Alok gravou uma performance no alto do edifício da ONU com os artistas Mapu Huni Kuî, Owerá MC e Grupo Yawanawa. Os bastidores e o processo criativo foram filmados pela Maria Farinha Filmes, como parte de um documentário que investiga a potência do encontro entre o músico e os povos originários.

Premiação leva Indígenas catarinenses para a COP 28, em Dubai

Nesta semana, a pequena Zág foi com os pais retirar o passaporte na unidade da Polícia Federal em Blumenau. Por ser um dos vencedores do Prêmio Equador 2023, os coordenadores do Instituto Zág vão participar de eventos associados à Assembleia Geral da ONU, à Cúpula dos ODS, à Cúpula de Ambição Climática da ONU. Em novembro, estarão na COP 28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

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O foco é a celebração do Nature for Life Hub, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Ocorre que, agora, o Instituto Zág faz parte de uma rede de iniciativas composta por mais de 200 comunidades reconhecidas pelo Prêmio Equador pelas contribuições para a mitigação da mudança do clima e para a redução da pobreza. Acerca da 28ª Conferência de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), a partir de 30 de novembro, em Dubai, uma das maiores expectativas é o Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas, do qual o governo brasileiro estará representado.

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Anfitriões da COP 28, os Emirados Árabes estão posicionados oficialmente para serem beneficiados com a transição energética. Acredita-se que o ponto-chave da COP 28 seja a discussão em torno do Acordo de Paris, e como as nações colocaram em prática as ações previstas por esse acordo, cuja finalidade é limitar a elevação da temperatura do planeta a 1,5 °C até 2050.

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