A melhor maneira de entender o quinteto inglês The Horrors é procurar por fotos antigas da banda numa pesquisa internética – mas “antigas” é modo de dizer, já que a banda começou a aparecer em 2005/ 2006.
Continua depois da publicidade
Com certeza, o pesquisador vai se deparar com uma das imagens mais rock’n’roll dos últimos anos: os cinco de cabelos pretos, desgrenhados no melhor estilo punk, usando roupas pretas e apertadas até mesmo para uma trupe esquelética.
Mas também é possível encontrar as fotografias mais novas. Têm cor, ao contrário das primeiras, e têm texturas oníricas. Elas indicam com fidelidade a transformação dos Horrors, de sensação gótico-punk com shows curtos e intensos, para uma das mais caprichosas formações da cena inglesa atual. Agora eles se vestem com cores e modelos diferentes, os cortes de cabelo mudaram, as expressões estão bem menos tensas. Nem parecem membros de uma banda de rock avançadinha.
O disco de transição para esse estado de espírito foi Primary Colors (2009), com sua capa a la Pornography, do The Cure, e uma sonoridade entre o Neu! e o shoegazing. O grande momento de Primary Colors era Sean Within a Sea, música com oito minutos que são a melhor viagem que o rock produziu desde Paranoid Android do Radiohead.
Continua depois da publicidade
Algumas peças se sobressaem nesse cenário. Com a voz gutural, o vocalista Faris Badwan é a face pública do grupo.
Tom Cowan, o tecladista, traz o diferencial, criando uma sonoridade à parte de qualquer outra. Mas precisa de uma apoio importante, o da criativa e barulhenta guitarra de Joshua Hayward.
Não é de estranhar que Skying, que chega agora ao Brasil pela Lab 344, continue a transformação iniciada no álbum anterior. Oferecem uma mistura um pouco mais adocicada, aumentando a quantidade de baggy na receita, e se conectando ao pós-punk inglês da mais gelada cepa, em especial ao injustamente esquecido The Sound de Adrian Borland. Still Life, principal peça do quebra-cabeça do novo disco, é Simple Minds “cuspida e escarrada”.
Continua depois da publicidade
Os momentos em que o disco resplandece são aqueles em que a guitarra se choca com as texturas etéreas, como é o caso de Moving Further Away e Endless Blue, ou em que o grupo molda o presente lambendo o passado – caso da urgente I Can See Through You.
Pode-se não gostar de tudo o que esses cinco lançaram, e até criticar os momentos de simples cópia, mas não há como negar que eles conseguem algo valioso: nos surpreender.
Skying, de The Horrors, Lab 344, 10 faixas, R$ 27,90