A decisão da Igreja Anglicana da Inglaterra de permitir a ordenação de mulheres como bispos, divulgada nesta segunda-feira, revela o avanço das vocações femininas em templos de todo o mundo – incluindo o Brasil.
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Embora judeus, muçulmanos e cristãos católicos ainda privilegiem a ordenação masculina, igrejas como a Batista, a Metodista, a Anglicana e a Luterana veem um número crescente de pastoras ocupar cargos cada vez mais importantes.
Ordenação de mulheres divide igrejas no Brasil
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Como os anglicanos são independentes em cada país, os seguidores brasileiros já previam a possibilidade de mulheres serem ordenadas sacerdotisas e chegarem ao bispado desde 1985. Porém, até o momento, segundo a reverenda Marinez Bassotto, nenhuma “bispa” foi eleita no Brasil.
– Ainda há um resquício de machismo e falta de consciência de gênero das próprias mulheres – avalia Marinez.
Em compensação, ela é a responsável pela catedral anglicana em Porto Alegre e concorreu ao bispado em 2012 com outros dois candidatos – ficou em segundo lugar. As chances de sucesso são crescentes: nos últimos anos, mulheres anglicanas alcançaram o episcopado em países como África do Sul e Nova Zelândia. A Igreja da Inglaterra, surgida de um cisma da Católica, faz parte dessa comunidade anglicana que conta com 80 milhões de fiéis em 165 países. A expectativa é de que a decisão dos ingleses, que já admitiam sacerdotisas desde 1992, sirva de estímulo.
– Esperamos que isso ajude a influenciar novos avanços aqui e em todo o mundo – afirma Marinez.
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O sexo feminino já deu um passo importante no Brasil este ano: em janeiro, a Igreja Batista nacional passou a admitir o ingresso de mulheres na Ordem dos Pastores. Até então, algumas pastoras vinham sendo ordenadas por comunidades batistas em decisões isoladas, mas a falta do registro na ordem nacional limitava sua ação ao local de origem. Agora, a expectativa é de que as poucos mais de 200 sacerdotisas (surgidas quase todas nos últimos 10 anos), se multipliquem rapidamente no universo de 15 mil pastores.
O debate travado nos últimos anos entre os religiosos batistas brasileiros resume os argumentos que costumam balizar a controvérsia entre os cristãos sobre a ordenação feminina. A ala contrária entende que a Bíblia reserva aos homens o sacerdócio, devido a indícios como a composição masculina do apostolado de Jesus. Os defensores da vocação feminina entendem que a escolha refletia o contexto da época.
– Consideramos um conceito mais amplo sobre o chamado de Deus, prevalecendo a tese de que não nos cabe interferir na vocação pastoral dado que homens e mulheres são iguais – afirma o pastor-presidente da Ordem dos Pastores Batistas no RS, Paulo Fernando Cabral da Silva.
Os metodistas aceitam pastoras há 40 anos no Brasil e, em 2001, uma mulher foi nomeada bispo pela primeira vez. A chance de mulheres assumirem igrejas católicas, sinagogas e mesquitas, porém, permanece reduzida. O Vaticano se baseia no exemplo bíblico.
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– A Igreja se firma no fato de que Jesus escolheu homens para serem ordenados sacerdotes – explica o vigário-geral da Arquidiocese de Porto Alegre, padre Irineu Brand.