Na próxima segunda-feira, ao invés de comemorar o início da instalação do ILS no Aeroporto Lauro Carneiro de Loyola, Joinville estará ainda amargando a dúvida de quanto tempo mais precisará esperar para ver em operação o sistema que possibilita pousos em condições de mau tempo.
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A administração municipal informou ontem que a Infraero ainda não licitou a compra da estação meteorológica de superfície (EMS 1), pré-requisito para que o ILS seja utilizado. Com isso, em vez de entrar em funcionamento em junho deste ano, o sistema corre o risco de operar apenas em 2014.
Na quinta-feira, em reunião que deveria ser rotineira, no Rio de Janeiro, o secretário de Integração e Desenvolvimento Econômico, Jalmei Duarte, foi informado pelos representantes da Infraero que a EMS 1 ainda não havia sido licitada.
Antes, era dado o prazo de março de 2013 para que o equipamento estivesse funcionando. Agora, é necessário abrir um edital internacional, no qual os fornecedores têm até 60 dias para se inscrever – isso caso não haja contestação judicial. Depois, são pelo menos mais 180 dias para que a EMS chegue ao Brasil, fora os prazos para transportar o aparelho até Joinville e para a construção da base para instalação do equipamento.
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A Infraero informou que a publicação do edital para a compra da estação meteorológica, “um dos requisitos para a operação do ILS categoria 1”, está prevista para ocorrer ainda neste mês.
Nesta sexta, a Força Aérea Brasileira (FAB), que responde pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), informou que, por enquanto, o cronograma de instalação do ILS em Joinville está mantido. Mas o coordenador do curso de ciências aeronáuticas da PUC/RS, Hildebrand Hoffmann, reforça que, mesmo sendo instalado, o sistema não pode operar sem a EMS.
– O ILS precisa da estação meteorológica para cumprir sua razão de ser de pousar em condições meteorológicas adversas – diz.
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A informação pegou de surpresa o prefeito Udo Döhler.
– Ou é descaso da Infraero ou é incompetência. Não podemos tolerar isso. Faremos o possível para diminuir esse prazo – afirma.
– Não era o esperado. Ainda não sabemos o que ocorreu. Isso atrapalha o desenvolvimento do aeroporto de uma forma que não esperávamos – afirma o gerente de navegação aérea do aeroporto, Orlando Bejarano.
Com poucas opções para mudar o cenário, Udo diz que irá se reunir com o ministro da Defesa, Celso Amorim, para pedir que o ministério assuma a compra da EMS e acelere o processo.
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– Não vamos ficar parados. Buscaremos outras formas para que Joinville não sofra com esse impedimento burocrático. Faremos pressão política e tentaremos que eles assumam o compromisso da compra desse aparelho.
OS PASSOS PARA A INSTALAÇÃO DO EMS
Em março, a Infraero deve abrir o edital internacional para a compra do equipamento.
A partir disso, serão 60 dias com o edital aberto. Há necessidade de homologação das candidaturas e o prazo pode se estender, caso algum fornecedor conteste a licitação.
Com o aparelho comprado, é preciso mais 180 dias para que chegue no Brasil.
Quando estiver no País, precisa passar por burocracias alfandegárias.
Com o produto em Joinville, e considerando que a base para a instalação já esteja construída, ainda é necessário ter a homologação da Anac e da Infraero.
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Neste cenário, a Prefeitura de Joinville calcula o prazo mínimo de um ano para que todo o processo seja concluído.
O QUE É ILS?
O ILS é um instrumento de auxílio à navegação aérea que orienta aeronaves nas operações de pouso em situações meteorológicas adversas. Foi um investimento de cerca de R$ 8 milhões, sendo R$ 5 milhões da Infraero para a estrutura física e tecnológica e R$ 3 milhões da Aeronáutica para o equipamento.
O QUE É O EMS?
A estação meteorológica de superfície 1 (EMS 1) é um equipamento essencial para o funcionamento do ILS 1. A EMS é um sistema que coleta dados meteorológicos, como umidade relativa do ar e pressão atmosférica por meio de sensores, além de ser responsável pela captação da visibilidade para as aeronaves, pela indicação da direção e da velocidade do vento. ?
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NOVA REUNIÃO
No dia 10 de abril, Joinville vai ser sede da reunião do grupo que discute as obras para melhoria do Aeroporto Lauro Carneiro de Loyola. O encontro, que normalmente ocorre a cada 60 dias, foi antecipado após a notícia do atraso na compra da estação meteorológica. Serão discutidas formas de antecipar a operação do ILS e o entrave sobre as desapropriações necessárias para a ampliação.
– Tentaremos fazer dessa reunião uma força política para que arranquemos uma solução efetiva para os problemas. Precisamos recuperar os prazos e fazer com que o ILS esteja logo funcionando – diz Jalmei Duarte, secretário de Desenvolvimento Econômico.
Estarão presentes representantes da FAB, da Infraero, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e do Decea.
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PLANOS SERÃO ADIADOS
A Prefeitura de Joinville dava como tão certa a operação do ILS até junho, que já vinha fazendo planos de como aumentar o número de passageiros que passam pelos saguões do Lauro Carneiro de Loyola.
Na semana passada, Jalmei Duarte, secretário de Desenvolvimento Econômico, e Sérgio Ferreira, presidente da Promotur, tiveram encontro para discutir um plano para que as companhias turísticas vendessem pacotes para o Nordeste com saídas diretas de Joinville. Atualmente, os voos precisam ser feitos a partir de Curitiba ou Florianópolis.
– Isso atrasa todos os nossos planos para melhorar a infraestrutura para a população da região de Joinville e das cidades próximas – disse Jalmei.
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Apenas com o ILS funcionando, era estimado que o aeroporto de Joinville dobrasse seu número de passageiros. Assim, teria capacidade para movimentar até 800 mil passageiros por ano. ??
DESAPROPRIAÇÕES
Existe ainda mais um entrave para as melhorias no aeroporto: há dez dias, a Prefeitura de Joinville descobriu que a Infraero não quer se comprometer com o pagamento de todas as desapropriações necessárias para a ampliação. Isso porque, em um primeiro momento, a administração municipal teria apontado 71 terrenos como necessários para realizar as obras.
Mas após constatar a necessidade de se fazer a retificação no rio, surgiu a necessidade de outras 101 desapropriações, sobre as quais a Infraero não estaria assumindo a responsabilidade. Em princípio, o governo havia destinado R$ 21,6 milhões para as indenizações. Em nota, a Infraero informou ontem que “o acordo vigente com a Prefeitura prevê desapropriações”.
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Por enquanto, a Prefeitura não sabe o que vai fazer.
– Ainda não temos resposta para este problema. Ficamos surpresos pela informação. Tentaremos forçar politicamente, mostrando para a Infraero o quanto essas obras são importantes para o município – disse Jalmei Duarte.
Nesta sexta-feira, era para ter ocorrido a primeira posse de terreno. Mas o local ainda não foi tomado porque foi dado um prazo de mais uma semana para que se encontre um último morador.
“Isto é um retrocesso imenso para Joinville”
A Notícia – Quando o senhor soube que a EMS não foi comprada?
Udo Döhler – Recebi a informação ontem (quinta-feira), no fim do dia. É um retrocesso imenso para Joinville. Ou é descaso da Infraero ou é incompetência. Lutamos muito tempo pelo ILS, para melhorar nosso aeroporto, e agora não podemos aceitar esse tipo de passo para trás. Faremos força política. Nos reuniremos com o ministro da Defesa, vamos buscar alguma forma de adiantar esses prazos.
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AN – O que houve com as desapropriações?
Udo – Eles não estão querendo cumprir o combinado. Não esperávamos essa postura. Vínhamos pedindo para as reuniões de trabalho que temos com a Infraero serem em um espaço menor do que três meses para eliminar esses problemas. Agora, vamos tomar nossas providências. Não podemos ser lesados. As desapropriações irão acontecer. Vamos buscar soluções para isso.
AN – Mas não houve erro por parte da Prefeitura? Tanto a questão da EMS quanto a da ampliação do aeroporto não deveriam ser checadas antes?
Udo – Acreditamos que houve erro por parte da Infraero. Tínhamos a promessa e a certeza de que teríamos tudo funcionando em breve. Agora, temos esse retrocesso. Levaremos todos nossos representantes para Brasília, faremos uma força conjunta com a comunidade empresarial e social e, com isso, vamos encontrar uma solução para o assunto. ??
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Resta correr atrás. Outra vez
Claudio Loetz | Colunista de Economia
Já ultrapassou todos os limites o descaso com que a comunidade joinvilense é tratada pelo governo federal quando o assunto é o projeto e a instalação do equipamento ILS 1 no Aeroporto Lauro Carneiro de Loyola. Agora, só depois da chegada do sistema, a Prefeitura de Joinville descobriu que nada de efetivo deve acontecer em 2013.
Os usuários das companhias aéreas ainda terão de esperar pelo menos um ano para contarem com mais segurança de voo. Quatro elementos definem a realidade: descuido técnico imperdoável; incompetência política; falta de fiscalização por parte dos interlocutores municipais; e desinteresse por parte da União.
Nossas lideranças políticas não têm conseguido os avanços esperados. O empresariado tem demonstrado poder de lobby limitado em Brasília para obter respostas positivas a reivindicações comunitárias essenciais.
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Assim, a Infraero tem enxergado Joinville bem perto do fim da fila de prioridade. Os gestores que analisaram o projeto desconheciam a dimensão do que tinham em mãos. Fica claro: ninguém sabia exatamente do que se tratava e o que realmente era necessário fazer. Resta correr atrás. Outra vez.