Ao voltar a romper o limite da meta oficial, desta vez com mais força, a inflação de 6,7% acumulada em 12 meses até junho levou o governo a indicar maior corte de despesas para ajudar a conter os preços.

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A alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) também cria mais expectativa para a reunião do Banco Central (BC), que na próxima semana deve elevar o juro básico.

Sexta-feira, ainda antes da divulgação do IPCA, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisou que o governo irá ampliar em até R$ 15 bilhões o corte nas despesas previstas no orçamento deste ano. Outro bloqueio de R$ 28 bilhões havia sido definido em maio. O anúncio deve ocorrer na próxima semana. Em entrevista ao programa Bom Dia Brasil, da TV Globo, disse que serão reduzidas principalmente despesas de custeio.

– Não haverá cortes em investimento nem nos serviços sociais do governo – afirmou.

Mantega indicou que os cortes serão em viagens e passagens, material permanente, serviço de terceiros e aluguéis. De acordo com o ministro, o governo acompanhará o impacto ao longo do ano. Se houver necessidade, novas medidas serão tomadas, mas sem aumento de impostos, prometeu.

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A redução das despesas é necessária para cumprir a meta de 2,3% do superávit primário – a soma das receitas e despesas do governo, descontados os gastos com pagamento de juros.

O governo também está estudando a redução do imposto cobrado sobre a importação de alguns insumos básicos, como aço, produtos químicos e fertilizantes. Porém, segundo Mantega, a medida só deve ser adotada em setembro. O imposto mais baixo alivia o impacto da alta do dólar nos preços dos insumos importados.

BC pode elevar juro mais uma vez na próxima semana

Na terça e quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne para decidir o juro, principal instrumento do governo para controlar os preços e cumprir a meta de inflação de 4,5% ao ano, com tolerância para variar entre 2,5% e 6,5%.

As apostas são de elevação de 0,50 a 0,75 ponto percentual. Caso o juro anual chegue a 8,5% – hoje está em 8% -, a poupança voltará à regra antiga, que dá remuneração maior.

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Em março, o IPCA já havia ultrapassado o teto, mas voltou a ficar abaixo, embora perto, do limite nos dois meses seguintes. Nas últimas semanas, o presidente do BC, Alexandre Tombini, tem repetido que a inflação está reduzindo o ritmo de alta e deverá voltar a ficar abaixo de 6,5% neste semestre. Na semana passada, porém, o BC elevou sua expectativa do IPCA neste ano de 5,7% para 6%.

A projeção de menor ritmo de aumento dos preços nos próximos meses é compartilhada por especialistas. As principais motivações são a se-quência de alívio nos itens de alimentação, já observado em junho, e a deflação esperada com o cancelamento de reajuste das passagens dos ônibus.

Há, ainda, tendência de queda nos preços de etanol e gasolina e o cancelamento do reajuste dos pedágios em São Paulo, lembra Fábio Romão, economista da consultoria LCA, que estima IPCA de 6,34% acumulado em 12 meses, dentro da margem. O percentual se aproxima do cálculo do economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal: 6,3%.

O câmbio, no entanto, é o principal efeito complicador nesse cenário. De acordo com Juan Jensen, sócio da Tendências Consultoria Integrada, se o dólar estabilizar em torno de R$ 2,25, ante os R$ 2 de alguns meses atrás, o impacto direto dos 12,5% de alta da moeda americana será de 0,63 ponto percentual no IPCA de 2013. Jensen disse que a variação cambial já traz efeitos nos preços do atacado, mas ainda não são sentidos no varejo.

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Protestos ajudaram a segurar alta dos preços

As manifestações que ocuparam as ruas do país em junho foram aliadas do combate à inflação. O aumento das passagens de transporte urbano teve o maior peso na alta de 0,26% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mas o cancelamento dos reajustes ajudou a segurar o percentual. Além disso, ao provocar o fechamento de lojas, os protestos reduziram as vendas e inibiram a pressão sobre os preços, especialmente os alimentos.

Os gastos com tarifas dos ônibus urbanos cresceram 2,61% em junho e tiveram impacto de 0,07 ponto percentual no IPCA, ante deflação de 0,02% em maio. Sem esses aumentos, o índice teria ficado em 0,19%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A expectativa é de que a suspensão tenha uma influência maior em julho, com uma retração entre 3% e 5% na taxa deste mês.

Em junho, a inflação desacelerou em relação à maio, quando ficou em 0,37%. Mas no ano passado, na passagem de maio para junho, o IPCA reduziu o ritmo mais fortemente e passou de 0,36% para 0,08%. O resultado de 0,26% é o menor desde junho de 2012. No primeiro semestre, o índice acumulado é de 3,15%.