No início de um ano marcado pelo ceticismo na economia, outro indicador decepcionou: o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência para a meta de inflação do Banco Central (BC), fechou 2013 em 5,91%, acima de 2012. O resultado acentuou a acidez de especialistas e empresários quanto aos rumos da economia brasileira, que terá mais desafios a superar.

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Ainda que ninguém esperasse um IPCA em 4,5%, centro da meta do BC, a alta de preços refletida no índice ficou acima do esperado pelo mercado, que projetava 5,82%, e da expectativa do próprio governo, que confiava em um resultado abaixo do registrado em 2012 – 5,84%. O avanço inesperado se deve ao aumento no mês de dezembro, de 0,92%, o maior desde abril de 2003. As principais influências no ano vieram de alimentos e bebidas, que dispararam 8,48%.

– Há uma alta permanente e generalizada de preços, agravada pelo abandono da busca pela meta. Se o juro não subir e o gasto público continuar a galope, teremos um 2014 igual a 2013: com preços em alta e crescimento baixo – afirma Marcelo Portugal, professor de economia da UFRGS.

O alerta ecoa certo pessimismo em relação à economia. Inflação em alta se soma à saída de dólares e ao risco de maior custo do crédito para consumidores e empresários, o que pode ter reflexos no ritmo de atividade.

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– Temos crescido a uma média de 2% nos últimos anos, muito por adiar reformas essenciais. Em algum momento o governo terá de subir ainda mais o juro para conter a inflação e atrair recursos, inibindo ainda mais a economia – analisa Armando Castellar, coordenador de Economia Aplicada da Fundação Getulio Vargas.

Mas quem prefere apostar que o limão econômico do início de 2014 vire limonada vê boas oportunidades se abrindo com a recuperação da economia internacional e a chance de elevar a exportação com a alta do dólar. O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp e conselheiro da presidente Dilma Rousseff, avalia que o dólar ascendente poderá atrair investimentos para o Brasil, uma vez que as multinacionais enxergariam o país como potencial polo exportador:

– O ideal seria encostar em R$ 2,80. Inflação não se resolve com câmbio ou juro, mas com a solução de problemas estruturais históricos que inibem a indústria e reforçam reajustes de preços.

Para transformar limões azedos como…

… preços altos

Inflação acima do centro da meta oficial – 4,5% – pelo quarto ano seguido, em 2013, endossou o coro de alguns economistas de que o governo terá de ser mais duro no combate ao aumento de preços. Isso significa juro básico mais alto, que tende a tornar mais caro o crédito ao consumidor e refrear a economia.

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… desconfiança de investidores

Este ano começou como terminou 2013: investidores questionam a política econômica, bolsa de valores cai e há previsão de atividade anêmica. Esta semana, a agência de risco Standard & Poor’s avisou que pode rebaixar a nota da dívida pública brasileira. Essa desconfiança dificulta o acesso ao crédito do governo e de empresas, diminuindo o investimento na produção.

… dólar escasso

No ano passado, saíram do país US$ 12,3 bilhões. Foi o maior saldo negativo do câmbio desde 2002. Em 2014, essa trajetória deverá se manter, pois os Estados Unidos, por meio do Federal Reserve (banco central do país), estão colocando menos moeda no mercado e atraindo recursos investidos nos emergentes. Resultado: o dólar tende a subir ainda mais, encarecendo os produtos importados e as viagens internacionais.

Em uma limonada mais palatável, com…

… grande eventos

Mesmo cercada de ceticismo, a Copa do Mundo deve ter efeito benéfico na economia. A Fundação Getulio Vargas estima que o evento movimente R$ 142 bilhões no comércio e em serviços de hotelaria, gastronomia e transporte aéreo. As eleições de outubro também devem ajudar a estimular a economia, tanto por meio de investimento público quanto em negócios específicos.

… mais exportações

O dólar na casa de R$ 2,40, e com tendência de alta, torna os produtos brasileiros mais baratos lá fora, e pode gerar novos negócios para empresas que exportam. Os mercados americano e europeu estão voltando a aquecer, outra boa notícia aos exportadores. Confirmando-se esse cenário, a tendência é de maior geração de empregos na indústria.

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… concessões

Em ano eleitoral, o governo deve fazer o possível para acelerar leilões para conceder serviços ao setor privado. Em 2013, foram 18 licitações de estradas e aeroportos, que podem gerar R$ 80 bilhões em investimento nos próximos 35 anos. As obras movimentam a economia e ajudam a melhorar condições de transporte e venda de produtos.