A carne já está de fora do prato de muitas pessoas faz tempo, mas nos últimos meses o salário não paga mais nem itens da cesta básica, como leite. Enquanto algumas famílias precisam fazer substituições dos alimentos que ficaram muito caros, outras nem isso conseguem, e dormem sem saber se terão o que comer no dia seguinte. Sem os nutrientes necessários, a inflação coloca a saúde dessas pessoas em risco.

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Na comunidade Brejaru, há dois quilômetros do centro de Palhoça, na Grande Florianópolis, pelo menos 200 famílias passam por essa situação. É o caso da família de Evelin da Silva, que sobrevive com R$ 400 por mês — sendo que o preço médio da cesta básica de Florianópolis está R$ 760, segundo a última pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). 

Evelin está desempregada e o marido, pintor, viu os trabalhos desaparecerem nos últimos meses. O casal tem dois filhos: Leonardo, de sete anos, e Gale, de três. A mesa do café da manhã é composta de massa frita, feita de trigo, e água. 

— É frustrante pra mim como mãe, porque a gente quando tem um filho quer dar o melhor pra eles, e aí você se depara numa situação que tu não pode. Então você se sente impotente. Você não é capaz nem de ser mãe — desabafa ela. 

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Saúde em risco

A fragilidade das pessoas que vivem em insegurança alimentar deve ser um preço a ser pago no futuro, como explica a professora de nutrição da UFSC, Ana Paula Gines Geraldo.

— Alguns nutrientes específicos são importantes para o desenvolvimento cognitivo e para a aprendizagem […] Pode acontecer um déficit de crescimento, a criança crescer menos do que ela deveria, além de não formar a massa óssea corretamente que pode ter um impacto no futuro, como osteoporose — explica a nutricionista.

O cálcio, presente no leite e derivados, é extremamente importante para o crescimento ósseo e controle da pressão arterial. No entanto, o preço desse produto tão básico para alimentação disparou. Só no último mês, o leite longa vida teve aumento de 21,62%, segundo o Índice do Custo de Vida, calculado pela Udesc/Esag.

A nutricionista ainda destaca que a falta de uma alimentação adequada pode causar deficiência de vitamina B12, que está presente nos alimentos de origem animal, como carnes de boi, frango, peixe, ovos, que é exatamente o que as pessoas estão com dificuldade de comprar. A falta dessa vitamina pode causar diversos problemas, inclusive depressão.

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Restaurante popular abre para garantir direito à alimentação

Em meio ao cenário de insegurança alimentar que atinge todo o país, o Restaurante Popular de Florianópolis foi inaugurado pela prefeitura de Florianópolis no sábado (16). O local tem capacidade de produzir até 2 mil refeições por dia, incluindo o cardápio de café da manhã, almoço e jantar. 

Todos os moradores da cidade podem comer no restaurante, mas a preferência do serviço é para a população em vulnerabilidade social. Pessoas com nenhuma renda não precisam pagar taxas para se alimentar. 

Quem tem renda de até meio salário pagará R$ 3 no almoço e jantar. Para esse público, o valor do café da manhã será de R$ 1,50. Quem tem renda maior do que meio salário, terá de pagar R$ 6 e R$ 3, respectivamente. 

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