Perturbações menstruais, infertilidade e aborto espontâneo podem ter como causa o mau funcionamento da glândula tireoide, alerta o ginecologista e obstetra Arnaldo Schizzi Cambiaghi, diretor do Centro de Reprodução Humana do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia e autor de livros sobre fertilidade.

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Segundo ele, a a infertilidade é indiscutivelmente o problema mais fácil de identificar e tratar entre todos os demais distúrbios provocados pelo excesso ou carência de hormônios da tireoide. A glândula fabrica dois hormônios: a tiroxina (T4) e a tri-iodo-tironina (T3). A tiroxina é considerada mais importante por atuar como um maestro do metabolismo.

Abaixo, o especialista detalha a relação entre fertilidade e problemas na tiroide.

::: Hipotireoidismo

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É mais comum entre as mulheres e pode ser classificado em:

:: Hipotireoidismo instalado: ocorre quando há queda na produção do T4. Os sintomas são bem evidentes: constipação, fluxo menstrual aumentado, ganho de peso, diminuição do apetite, letargia, depressão, problemas cognitivos, fadiga, pele seca, intolerância ao frio ou dores musculares.

Algumas mulheres com disfunção da tireoide podem ainda apresentar níveis elevados de prolactina, o hormônio que induz a produção de leite materno após o parto. Excesso de prolactina também pode dificultar a gravidez, pois impede a ovulação.

:: Hipotireoidismo subclínico: ocorre quando as alterações hormonais são discretas, apresentando T4 ainda em nível normal. Os sintomas são sutis, como a infertilidade, abortos repetidos ou simplesmente dificuldade em perder peso. Isso é ainda pior, pois os médicos podem subestimar os sintomas.

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Outro efeito do hipotireoidismo é uma condição conhecida como defeito da fase lútea, como é conhecida a segunda metade do ciclo menstrual, da ovulação à menstruação. Ela dura normalmente de 12 a 16 dias, mas se a fase lútea for menor que 10 dias haverá problemas de fertilidade, uma vez que o endométrio (revestimento do útero) não se desenvolve o suficiente para que o embrião se implante.

As doenças da tireoide que levam ao hipotireoidismo na maioria das vezes se manifestam após os 30 anos. É a partir dessa fase da vida que a tireoide costuma falhar. Mulheres com hipotireoidismo têm mais chance de perder o bebê, na proporção de três para um, comparativamente a mulheres cuja tireoide funciona bem.

Durante toda a gravidez, os hormônios da tireoide são essenciais para a manutenção da gestação e a transferência de parte do hormônio da tireoide do lado materno para o feto, por meio da placenta.

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::: Hipertireoidismo

O cenário oposto é o hipertireoidismo, em que a glândula tireoide torna-se hiperativa, e o metabolismo do corpo funciona muito rápido. Sinais de hipertireoidismo incluem evacuações mais frequentes, perda de peso, ciclos irregulares, aumento do apetite, insônia, nervosismo, intolerância ao calor, tremores nas mãos e palpitações cardíacas.

Uma causa comum de hipertireoidismo é a Doença de Graves, uma doença autoimune que tende a ser adquirida de forma familiar e afeta a glândula tireoide inteira. Outra causa de uma tireoide hiperativa são os chamados nódulos quentes, que podem se formar sobre a glândula. Nesse caso, a maior parte da glândula continua a funcionar normalmente, mas o nódulo contém células que produzem muito do hormônio T4.

Seja qual for a causa do hipertireoidismo, o resultado é que a condição pode, por vezes, impedir a ovulação e causar infertilidade. Mas o maior problema é que uma mulher com hipertireoidismo não pode conceber, pois seu metabolismo pode estar tão fora de equilíbrio que pode causar a morte do bebê dentro do útero ou aborto espontâneo.

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