Superfilhos hoje, futuro brilhante amanhã. Será?
O desejo de criar futuros gênios, com habilidades esportivas e carreira promissora é comum entre muitos pais. Mas, na casa de algumas famílias que anseiam, desde muito cedo, por uma vida de sucesso para as crianças, a pressão do dia a dia pode extrapolar limites. Além da rotina escolar, a agenda dos pequenos exige tempo e disposição, que deixariam qualquer adulto sobrecarregado.
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É justamente esse excesso de ansiedade dos pais e de atividades – com aulas de idiomas, balé, natação, futebol, música, entre outras – que está deixando as crianças mais estressadas. Conforme um estudo da International Stress Management Association (Isma-Brasil), feito em Porto Alegre e em São Paulo com 220 crianças de sete a 12 anos, oito de cada 10 crianças que visitam o pediatra têm sintomas físicos relacionados ao estresse. Entre as causas, 63% apontaram a falta de apoio dos pais e dos adultos e, para 56%, a pressão devido ao excesso de atividades.
– A criança não pode mais brincar na rua, então fica olhando TV, na internet e com excesso de tarefas que não são para ela. Além disso, existe uma necessidade de prepará-la para o mercado de trabalho, principalmente por uma questão de segurança financeira – explica Ana Maria Rossi, presidente da Isma-Brasil.
Nessa ânsia de qualificar a gurizada e prepará-la para um concorrido mercado profissional, muitos pais esquecem de fortalecer o lado emocional dos filhos por meio do diálogo aberto, do lazer, das atividades em família e, até mesmo, por meio da presença física em momentos simples da vida. Ou seja, por mais que se transformem em pessoas qualificadas, esses adultos do futuro correm o risco de serem infelizes e terem problemas emocionais. O nervosismo, por exemplo, atinge 75% desses pequenos. Medo, irritação e impaciência também são consequências que ficam para sempre.
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Para a psicóloga Rosane Cristina Pereira Spizzirri, mestre em psicologia social e da personalidade, além da carga de estresse e pressão, a criança que passa parte da infância com uma rotina atribulada e com pouco contato com os pais, principalmente com a mãe, pode apresentar também quadros depressivos.
– Vejo o estresse como uma impossibilidade de compreender aquilo que se sente. É como uma bola de neve para as crianças, porque elas são muito exigidas e não têm maturidade suficiente para suportar a pressão. Todo esse processo traz tristeza e, depois, a depressão – afirma Rosana.
Atenção aos sinais
Pais devem estar sempre atentos, principalmente para perceber quando estão exigindo demais dos filhos.
:: Crianças estressadas geralmente têm baixa tolerância à frustração e dificuldade de se adaptar a situações novas. A agressividade com os pais, irmãos ou amigos pode ser uma forma de manifestar frustração.
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:: Quando a criança mente que tem um sintoma, como dor de cabeça ou dor de barriga, pode ser um sinal de que está sobrecarregada. Converse com seu filho para saber o que está ocorrendo. Ele pode estar se sentindo incompetente para determinada tarefa ou precisando de atenção.
:: Antes de encher a agenda da criança com atividades, pergunte o que ela gostaria de fazer. Na conversa, busque saber se o que você propõe realmente a deixa feliz. Nunca cobre resultados nem use atitudes punitivas quando seu filho não quiser fazer alguma
atividade extraclasse.