O polo moveleiro do Planalto Norte catarinense, que contempla São Bento do Sul, Rio Negrinho e Campo Alegre, tem expectativa de crescimento moderado do setor até o ano que vem. Afetado por uma crise nos últimos anos, o segmento de móveis e madeira emprega 11,5 mil pessoas em mais de 500 fábricas e lojas na região. Parte da reação do mercado poderá ser sentida neste final de semana na 27ª Feistock, que deve gerar mais de R$ 13 milhões em negócios até domingo, em São Bento do Sul.
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Com forte participação no ramo das exportações, o segmento de móveis e madeira — responsável por 12% do que é vendido ao mercado externo pelo Estado no ano — sentiu os impactos da instabilidade cambial. Já no mercado interno, a queda do consumo também refletiu num menor número de vendas e influencia diretamente na economia local. Somente em São Bento, a categoria representa cerca de 20% do produto interno bruto (PIB) do município.
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Entre janeiro e setembro, a cidade foi responsável por 11% das exportações do setor no Estado — de US$ 753,7 milhões, conforme dados do Observatório da Indústria da Fiesc. Porém, a participação neste nicho já foi maior e o desafio é retomar o patamar anterior. No início da década, São Bento despachava 17% dos móveis e madeira exportados por SC. Hoje, a cidade é superada por Caçador, no Oeste, que aumentou de 14% para 17% de participação.
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Desafio de retomar a relevância nas exportações
Também resultado das crises que atingiram o setor, as empresas moveleiras do Planalto Norte precisaram fazer adequações e ampliar a presença no mercado interno. Como consequência, o volume exportado variou nos últimos sete anos. Entre janeiro e setembro de 2010, o Estado exportou no ramo o equivalente a US$ 510 milhões, sendo 29% resultantes do Planalto Norte. No ano seguinte, as exportações no setor tiveram queda de 12% em nível estadual (US$ 448,3 milhões) e 19% (US$ 118,1 milhões) em nível regional.
A reação no volume de exportações do segmento ocorreu em 2013 em Santa Catarina, quando foram exportados US$ 487,7 milhões em mercadorias. Já o Planalto Norte voltou a apresentar melhora apenas em 2014, quando atingiu US$ 136,3 milhões. Nos últimos dois anos, o resultado regional no mercado externo nos nove primeiros meses do ano variou pouco, com recuo de 0,2% em 2016 (US$ 144,2 milhões) com relação a 2015 e elevação de 12% neste ano (US$ 161,3 milhões). Uma sinalização de retomada.
Adaptações para vender mais nos dois mercados
Representantes de sindicatos e associações da indústria moveleira acreditam que o setor siga, de forma lenta, os sinais de recuperação econômica brasileira e volte a crescer em breve. Entre as apostas do polo para conquistar espaço tanto no país quanto no exterior são os produtos de madeira maciça renovável no lugar de chapas, produção de móveis desmontáveis, design inovador e acabamento.
Para José Antonio Franzoni, Presidente do Sindicato das Indústrias da Construção e do Mobiliário de São Bento do Sul (Sindusmóbil), que representa 240 empresas do ramo na cidade e em Campo Alegre, o crescimento deve ser moderado e pouco expressivo a curto prazo. A expectativa é de melhora mais efetiva no ano que vem.
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— Enfrentamos uma crise severa nos últimos anos porque as empresas da região atuam parte voltadas ao mercado interno e parte em exportação. No mercado nacional houve recessão. Na exportação, forte desvalorização do dólar, agravada em 2015. O câmbio voltou a valorizar e estabilizar, entre 2016 e 2017, mas o dólar está no limite mínimo para viabilizar a competitividade no mercado externo — avalia ele.
Empresário, Franzoni entrou para o setor moveleiro em 1989 e, de lá para cá, aponta que as empresas da região passaram por reestruturações para continuarem competitivas no mercado. Entre a década de 1990 e metade da década de 2000 a maior parte da produção era escoada para o exterior, mas com a crise de 2008, por exemplo, muitas tiveram que se voltar para o mercado interno.
Tecnologia e inovação para continuar competitiva
Essa aposta foi feita Artefama Móveis de Madeira Rústica e Sustentável, que está há 72 anos no mercado e mantém 560 funcionários na cidade. O número é um terço menor do que a fábrica mantinha no auge das exportações, em 2005. Para continuar competitiva e com parte da produção para exportação, a empresa aposta em inovações e tecnologias embarcadas, além de melhorias na gestão de processos e investimentos em produtividade.
Segundo Daniel Lutz, presidente da Associação Brasileira do Mobiliário (Abimóvel), para que os móveis e madeiras brasileiros sejam mais competitivos lá fora, o ideal é que o dólar esteja no patamar dos R$ 4. Ele também está confiante na retomada do crescimento.
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— O móvel no mercado nacional não é considerado um produto de extrema necessidade, então o consumidor segura a compra e reflete em queda nas vendas. Houve também uma redução nas exportações, mas a perspectiva é de melhora no ano que vem. O importante é o controle da taxa de câmbio e o incentivo às políticas econômicas para o setor — destaca Daniel.
— A região ainda se destaca como um dos maiores polos do setor em exportação porque essa tradição começou aqui na década de 1980. Os importadores vieram buscar esses produtos e acabou dando certo.
Dimensão do setor nas três cidades
Dados do Observatório da Indústria da Fiesc mostram que o segmento moveleiro é o que mais emprega dentro da indústria de transformação na região, que registra maior participação na composição de empregos nos três municípios.
Sozinha, São Bento do Sul emprega 5.147 pessoas em cerca de 220 estabelecimentos do ramo, 82% deles na fabricação de móveis e 18% em madeira. Em Rio Negrinho, são 135 empresas e 2.720 trabalhadores no setor e na cidade vizinha de Campo Alegre, cerca de mil dos quatro mil empregos ocupados são na área.
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O setor também domina os materiais exportados pelos municípios nos últimos sete anos. Em São Bento do Sul, os móveis e a madeira são responsáveis por 49% do total exportado pelo município em 2017, de US$ 148,9 milhões. Em 2010 a participação era ainda maior: 78% dos US$ 102,4 milhões enviados para fora do país.
Campo Alegre tem presença ainda maior da indústria moveleira na quantia exportada pelo município. Em 2010 e 2017, 99% das exportações vieram do setor, respectivamente, de US$ 17,6 milhões e US$ 21,9 milhões. Já Rio Negrinho, segunda maior força regional do ramo moveleiro, aumentou a participação de 80% para 90% entre os produtos exportados no início da década (US$ 30,9 milhões) e agora (US$ 50,4 milhões). A indústria da transformação também domina mais de 80% do PIB anual dos dois municípios: 66,2% provenientes da madeira e celulose, em Rio Negrinho, e, 21,6%, em Campos Alegre.
O presidente do Sindicato das Indústrias da Construção e do Mobiliário de Rio Negrinho (Sindicom) — que engloba 31 empresas associadas —, Claudinei Veiss, destaca que o giro econômico do município está voltado à indústria moveleira, superando os 60%. Segundo ele, algumas empresas como a Famorine, na qual ele trabalha, eram voltadas para a exportação e se voltaram ao mercado interno, mas as maiores seguiram no ramo de exportações.
— Com a reação do dólar as empresas exportadoras estão mais confiantes e o mercado pode ficar mais aquecido a partir do ano que vem. A expectativa é de manutenção do quadro atual de trabalhadores e de crescimento nos mercados interno e externo — avalia.
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