Diante do segundo pedido de reajuste do preço do gás natural pela SCGás em pouco mais de dois meses, o presidente do conselho da Infragás, Cláudio Ávila da Silva, que representa os consumidores industriais, diz que não há razão para alta.
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Argumenta que entrou em vigor o reajuste médio de 0,75% em janeiro e há uma tendência de queda do preço do petróleo, consequentemente do preço do gás natural no mercado mundial, o que deve compensar a defasagem atual dos preços da SCGás, hoje em torno de 3%. A companhia encaminhou para a Agência Reguladora do Estado (Agesc) uma solicitação de reajuste médio de 6,39% para entrar em vigor em 1° de abril.
O pleito da SCGás é de alta de 6,39% para a indústria, 6,61% ao gás natural veicular (GNV), 3,34% para o comércio e 4,33% para residências. Ela alega que precisa do reajuste para cobrir o custo de 7,94% do gás natural de outubro de 2014 a fevereiro deste ano causado pelo câmbio; o desequilíbrio financeiro pelo fato de o custo do gás ser mais caro do que o valor repassado aos consumidores; e de a Agesc não ter considerado o repasse integral do custo do gás nas tarifas no reajuste de janeiro. Informa que seu caixa teve déficit acumulado de R$ 42,5 milhões no primeiro bimestre.
Conforme Ávila, a expectativa é de que a agência não autorize o aumento e, se autorizar, espere os seis meses entre um reajuste e outro conforme prevê o regulamento do setor. Também afirma que a Agesc deve verificar se as premissas de custos colocadas pela SCGás condizem com a realidade.
Fotografia do momento
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– Nós tivemos, há menos de um mês, um aumento médio de 0,75%, as indústrias tiveram 0,63%. Então, nos causou surpresa eles apresentarem um novo pedido de reajuste. Estamos interpretando que a SCGás está aproveitando um momento em que o dólar alto e o preço do petróleo, mesmo caindo, não chegou no seu menor nível, ou seja, eles tiraram uma fotografia desse momento para mostrar que há uma defasagem em termos de tarifa. Mas o próprio documento apresentado por eles mostra o aumento do dólar e a queda do preço do petróleo – comentou Ávila.
Para o representante da Infragás, as indústrias não têm condições de absorver mais esse aumento porque enfrentam uma sucessão de reajustes. Somente na conta de luz a alta supera 20%. A economia do país registra retração. O setor de materiais de construção prevê queda de 3,1% este ano.
SCGás contesta Infragás
Na manhã deste sábado, a assessoria da SCGás enviou para o Diário Catarinense uma série de argumentos contestando colocações da Infragás e incluindo mais informações. Confira todo o comunicado abaixo. Na sequência, leia também a posição da Infragás sobre dois tópicos polêmicos entre a companhia distribuidora e o representante dos clientes industriais.
Comunicado da SCGás
Sobre as afirmações da Infragás, sócia da SCGás, publicada recentemente em matéria do diario.com
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Posição da Infragás sobre duas polêmicas
O presidente da Infragás, Cláudio Ávila, que representa os consumidores industriais no conselho da SCGás, discorda de procedimentos de gestão da distribuidora. Confira abaixo duas opiniões dele sobre a administração da companhia.
Falta de caixa
– A SCGás alega, no pedido de reajuste, que o caixa está baixa. Nós não concordamos com a solução (do reajuste) porque a empresa tem utilizado do seu caixa próprio para fazer investimento de longo prazo. Quando ela faz isso com o caixa próprio tem 20% de remuneração para jogar na tarifa. Investimento de longo prazo você faz com financiamentos do BNDES, Caixa. Se ela faz investimento com recurso de terceiro, a remuneração da tarifa é somente o custo do investimento, cerca de 7% a 8% ao ano. Eles estão fazendo uma opção para ter uma remuneração maior na tarifa. Não pode o consumidor ser penalizado por uma opção econômica da SCGás. Se tivesse tomado recursos de longo prazo para investir e deixado o caixa para despesas operacionais não teria problema de caixa hoje. Já sugerimos no conselho da SCGás que ela busque recursos de longo prazo para investir.
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Parte da receita em depósitos judiciais
– Em 2012, a SCGás sugeriu um aumento e a Agesc negou. Mas existia um programa de fidelidade-pontualidade desde que a SCGás foi implementada. Ele dava um desconto de cerca de 13% para incentivar as indústrias deixarem de usar carvão e óleo diesel e adotarem o gás natural, que era bom sob o ponto de vista ambiental e era importantíssimo para a SCGás que precisava de consumidores. Ela incentivou que quanto maior a conversão, maior a fidelidade. Quando houve a negativa de aumento em 2012, num ato administrativo, a diretoria da distribuidora acabou os programas e houve um aumento de quase 14% nas tarifas. Isto (o programa) estava assinado em contrato e era um direito adquirido. Eles, de forma unilateral, sem aviso prévio, avisaram que a fatura teria aumento porque o incentivo acabou. Aí as empresas se reuniram, buscaram escritórios de advocacia e apresentaram estudo dizendo que eles não poderiam suspender isso. As empresas entraram Justiça e passaram a depositar em juízo esse valor. No final deste ano, esses depósitos deverão alcançar cerca de R$ 80 milhões. Nós estamos ainda no primeiro grau, teve uma audiência em fevereiro e não houve acordo entre as partes. O juiz vai prosseguir com a ação e nós entendemos que os consumidores (industriais) têm razão no pleito. Esse recurso que está lá só pode ser utilizado com despacho judicial. Há um erro na contabilização. A SCGás está colocando no seu fluxo de caixa como recurso futuro. Na nossa avaliação isso não pode. Se nós ganharmos parte ou integralmente a ação, ela vai ter que tirar do seu balanço, ou seja, está dando como certo que esse recurso é dela, o que é uma antecipação judicial.