Um campo de terra batida com traves feitas com troncos de árvore é o espaço de aquecimento dos índios Guaranis antes dos jogos da Seleção Brasileira, no Oeste de Santa Catarina.
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As 30 famílias de Guaranis que reivindicam uma área entre os municípios de Saudades e Cunha Porã moram em quatro hectares cedidos pelos Kaingang da Terra Indígena de Toldo Chimbangue, em Chapecó.
Na chegada é possível ver uma bandeira do Brasil colocada na varanda. A camisa da Seleção também marca presença num varal. No campo de terra, ela é algo raro. Aparecem camisas do Inter, Grêmio e calções do São Paulo e Flamengo. E os cabelos pintados não são exclusividade de Neymar e Daniel Alves.
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Rafael Barbosa fez um corte e pintura que lembram os jogadores da Seleção. Mas, como joga de zagueiro, o craque que o inspira a fazer as jogadas no campo de terra é David Luiz.
No barranco que serve de arquibancada, Lasier Mariano de Morais usa o manto verde e amarelo com o nome de Ronaldinho nas costas.
– Ele faz falta na seleção – avalia.
Mas mesmo sem seu principal ídolo, ele considera que o Brasil é o favorito.
De repente Fred entra em campo com a bandeira do Brasil. O menino de um ano e onze meses, que tem o nome inspirado no atacante da seleção, quer levar a bandeira para o avô, Miguel Barbosa, que está no gol.
Além do nome inspirador ele tem boa genética para jogar futebol. Afinal, sua mãe, Tatiane Barbosa, também bate uma bola. Quando os homens saem elas entram em cena. E Tatiane é a autora do primeiro gol do time.
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Um dos destaques é Márcia Barbosa, que também faz parte do time feminino e que joga contra outros times. Ela gosta do clima de Copa.
– A gente joga bola e se diverte – conta.
Além do futebol, Márcia e outras índias pintam os filhos com as cores verde e amarelo.
Há também pinturas tradicionais, em preto, feitas por Maria Cecília Barbosa. Entre os desenhos estão o sol, que representa uma divindade, e traços que imitam pés de saracura.
– É para proteção – explica Maria Cecília.
Na hora do jogo, os Guaranis se reúnem nas casas. Na residência de Daniel da Silva e Neuza Barbosa, tem até tevê por assinatura. A sala vira arquibancada. Mas o grito de gol não saiu. A confiança do dono da casa diminui.
– Tem bastante time bom – disse Daniel.
Para ser campeã, a seleção vai precisar de um reforço nas pinturas de proteção.