Rivais no passado, índios e proprietários rurais da região de Bonsucesso travaram confrontos memoráveis pelo domínio das terras. Desde a década de 1990, indígenas pleiteiam a expansão de 14 mil para 37 mil hectares o território da Reserva Duque de Caxias, entre os municípios de Vitor Meireles, José Boiteux, Itaiópolis e Doutor Pedrinho. Os fazendeiros, que perderiam as terras com a nova demarcação, sofreram episódios violentos de embargo das cargas de eucalipto e pinus, bloqueio de estradas e ameaças das tribos que reivindicavam o território. Desde 2003, após o ministro da Justiça assinar uma portaria autorizando a ampliação da reserva, tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) uma ação que contesta a expansão. Uma década depois, os inimigos se unem por uma causa comum: reivindicar o asfaltamento da SC-477.
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A rodovia liga Indaial, no Médio Vale do Itajaí, a Canoinhas, no Planalto Norte, cruzando as BRs 470 e 280. Até o Centro de Doutor Pedrinho, a estrada é asfaltada. Nos 58 quilômetros seguintes, que passam pelas localidades de Bonsucesso e Alto Forcação, ambas em Doutor Pedrinho, e Moema, em Itaiópolis, somente estrada de chão. Quarta-feira passada, o governador Raimundo Colombo esteve na região para lançar o edital de pavimentação de 29,2 quilômetros da rodovia, entre Doutor Pedrinho e a região de Volta Grande, em Rio Negrinho. Mas o traçado a ser pavimentado será uma rota alternativa, não a existente, o que revolta índios, donos de terras e moradores da região de Bonsucesso.
Reserva tomará espaço da rodovia, se for ampliada
Os índios costumam usar a rodovia para pegar ônibus, que vem de Mafra toda sexta-feira, ou seguir de carro até o Centro de Doutor Pedrinho, onde vendem artesanatos, fazem compras e buscam atendimento no hospital ou na prefeitura. Além disso, é a rota principal para o Médio Vale. Os donos de terras, que dependem da estrada para escoar a produção agrícola de arroz, milho e a extração de pinus e eucaliptos, temem pela desvalorização dos terrenos.
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– É muito importante para nós esse asfalto. Hoje estamos nos unindo com o pessoal de Bonsucesso e da Forcação para reivindicar a rodovia – argumenta Simeão Priprá, integrante e ex-cacique da Aldeia Bugio.
A estrada também é caminho para a Reserva Biológica de Sassafrás. A mudança do traçado ocorreu devido à indefinição do STF sobre a ampliação da reserva indígena, que, se aprovada, tomará a área de domínio da rodovia. Temendo embargos futuros na obra ou questionamentos jurídicos, o Estado optou por traçar outro trecho mais ao Norte da cidade. Com o novo traçado, o percurso entre Doutor Pedrinho e Itaiópolis terá cerca de 30 quilômetros a mais.
– Nós levaremos muito tempo para resolver esse problema (impasse da reserva). É uma coisa que se arrasta há 10, 20, 30 anos. Como é uma estrada que a gente quer começar com início, meio e fim, no prazo adequado, a solução foi alterar o traçado. O outro trecho fica para o futuro, até que essa questão seja resolvida – justifica o governador.
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