Uma iniciativa da população índigena Xokleng Laklãnõ tenta salvar as araucárias do risco de extinção. A espécie, símbolo do sul do Brasil, é considerada sagrada para a tribo e mobilização o grupo para reflorestar o território onde eles vivem no Alto Vale do Itajaí. São 14 mil hectares, com nove aldeias e uma população de cerca de 2 mil pessoas.
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O projeto é liderado pelo casal Nduzi Gakran e Isabel Gakran. Eles fundaram em 2019 o Instituto Zág, que na língua indígena significa araucária. A missão é recuperar o que se perdeu com a chegada dos colonizadores e resultou na exploração madeireira. Desde quando o trabalho começou, já foram plantadas aproximadamente 40 mil mudas.
A meta é chegar, o quanto antes, em um milhão e ultrapassar os limites da terra indígena, hoje demarcada legalmente nos municípios de Doutor Pedrinho, Itaiópolis, Vitor Meireles e José Boiteux. Isabel revela que o plano é alcançar inclusive a Serra catarinense, famosa pelo produção de pinhão.
A pressa do casal tem explicação nos números. De acordo com o biólogo da Universidade Federal de Santa Catarina (USFC) João de Deus Medeiros, cerca de 45% do território catarinense já foi coberto de araucárias. Atualmente a estimativa é de que esteja presente em apenas 3% da área original.
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A União Internacional para Conservação da Natureza classificou a espécie como em risco extremo de extinção.
— Quando a gente descobriu o risco de extinção, começamos a nos organizar. Nossa árvore é sagrada e não pode desaparecer, ela não pode morrer, porque se a nossa árvore morre é como se a gente morresse junto — diz Isabel.
Nessa jornada de reflorestamento o casal não está sozinho. Conta com o apoio de voluntários e até doações que ajudam a fazer a logística do projeto. Isso porque eles buscam as sementes da árvore em cidades como Urubici e Paulo Lopes, e precisam de dinheiro para a viagem e mantimentos.
Depois preparam as mudas em sacos biodegradáveis. A partir daí, leva cerca de um ano para ficarem prontas para o plantio. A estimativa é de que, em 15 anos, as árvores comecem a produzir pinhão, fruto que já foi a base da alimentação Xokleng e também usado para produção de remédios, conta Ndilli Kopakã, líder indígena.
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Todo o processo de reflorestamente do território Xokleng Laklãnõ acontece sob os olhos atentos e curiosos das crianças da tribo. Um dos símbolos do esforço para salvar as araucárias, segundo os indígenas, tem pouco mais de um mês de vida. Zágtxo Gakran, filha dos fundadores do Instuto Zág, nasceu no meio do plantio da árvore.
— É por ela e pelas futuras gerações que a gente está fazendo isso — define Isabel.
Uma história de resistência
Assim como as araucárias podem desaparecer, os Xokleng por pouco não foram exterminados. Isso ocorreu por volta de 1870, quando a etnia passou a ser vista como uma ameaça à ocupação territorial de Santa Catarina, explica o antropólogo Jefferson Virgilio. Grupos chamados de “bugreiros” caçavam os indígenas.
— No intervalo de seis anos, morreu um quarto da população. Efetivamente beirou à extinção — afirma o pesquisador.
Segundo ele, no auge da ocupação, o povo indígena tinha cerca de quatro mil pessoas. Em 1914, eram pouco mais de 100. Hoje são aproximadamente 3 mil.
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— Assim como os Xokleng resistiram, as araucárias também resistirão. Enquanto existir araucária, a gente sempre vai estar aqui — diz Ioko Kopakã, cacique indígena.
Segundo João de Deus Medeiros, biólogo da UFSC, é difícil fazer uma projeção de quantos anos ainda haverá araucária no território catarinense. Entretanto, um estudo publicado em 2019 na revista Global Change Biology faz uma prvisão: a espécie pode sumir até 2070 se nenhuma estratégia de conservação for desenvolvida.
— Vai depender muito da maneira como nós atuarmos. Ainda temos uma tendência a instabilidade muito grande nas políticas públicas de conservação — frisa.
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Para o biólogo, o projeto do povo Xokleng é uma lição.
— Ver agora os indígenas tomando iniciativa para tentar corrigir erros nossos é algo inspirador e que deveria, inclusive, servir como exemplo principalmente para as nossas autoridades públicas — chama atenção o biólogo João de Deus.
Isabel, a criadora do Instituto Zág junto com o marido, é uma otimista quanto salvar as araucárias do risco de extinção.
— Se não for nós, será minha filha, no caso nossa futura geração Quem sabe junto com a nova geração de não indígenas também — deseja.
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