Mesmo com a inflação desacelerando, quem tem reajuste de aluguel neste início de 2013 deve estar preparado para um susto: o IGP-M, índice que serve de referência para as locações, acumulou até março alta de 8,06% em 12 meses. No mesmo mês do ano passado, a alta acumulada era menos da metade da atual, de 3,23%.

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Em boa parte, o que explica a diferença é uma variável que não costuma aparecer nas contas de inquilinos e proprietários, ao menos no Brasil: o dólar. O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), escolhido pelo segmento imobiliário para reajustar aluguéis, é muito sensível às variações do câmbio por ser formado de diferentes indicadores, o de mais peso influenciado por preços de matérias-primas que são negociadas em moeda americana. Nos últimos meses, o dólar tem subido tanto que ontem, pela primeira vez desde janeiro, o Banco Central interveio no mercado para frear essa alta.

Embora assuste, o tamanho do reajuste deve ser considerado em conjunto com a do ano passado. Para uma inflação medida pelo indicador considerado oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que fechou em 5,84% em 2012, o reajuste em março havia sido bem inferior, em torno de 3%. Agora, para um IPCA acumulado em 6,31% até fevereiro passado, o peso no aluguel será maior, mas no final das contas o resultado é quase de equilíbrio. É por isso que Giuliano Spolavori, diretor comercial da Guarida Imóveis, avalia que não haverá pressão por troca de indexadores nos contratos:

– A tendência é de que não ocorra. Assim como oscilou acima da inflação oficial nesse período, não quer dizer que necessariamente isso vá ocorrer de novo. O interessante é ver o que influencia no índice. O IPCA já foi maior que o IGP-M em determinadas épocas. Se o dólar aumenta, tem maior influência em um índice ou em outro.

Para Salomão Quadros, coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV) e responsável pelo cálculo do indicador, o IGP-M dá sinais de ter entrado em trajetória de desaceleração mais firme, com redução no resultado mensal pelo terceiro mês consecutivo.

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– Após o primeiro trimestre do ano passado, cresceram os problemas da safra e o dólar também subiu. Por isso a diferença em relação aos 3% registrados nos 12 meses terminados em março de 2012. Nos três primeiros meses deste ano, o IGP-M tem diminuído – afirmou Quadros. – Agora, a taxa em 12 meses deve seguir em trajetória de baixa por um bom período.

Safra abundante favorece manutenção de preços

A desaceleração que deve ser vista nos próximos meses na taxa acumulada em 12 meses está relacionada com os preços ao produtor (IPA), que tiveram pequena variação em março, de 0,01%, ante 0,21% em fevereiro. Sobre os preços ao consumidor (IPC), a dificuldade de previsão, de acordo com Quadros, é maior.

De fevereiro para março, o IPC passou de 0,30% para 0,72%. Quadros lembra que o momento atual é de oferta agrícola mais abundante do que no início de 2012, quando houve problemas com a safra de soja – nacional e internacional. Além disso, o movimento do câmbio sugere um cenário mais favorável para o preço dos insumos industriais.

– O câmbio (valor do real frente ao dólar) ano passado foi desvalorizado. Este ano estamos vendo o movimento oposto, não com a mesma intensidade, mas parte será devolvida – ponderou Quadros.

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Inflação de índices

Quando se fala em inflação, cada um tem a sua, que varia de acordo com o tipo e a quantidade de coisas que compra. A inflação de uma família que tem bebê, por exemplo, é diferente da que é formada por pessoas de mais idade. Assim, também existem vários índices que tentam fazer médias a partir de diferentes pontos de vista. Veja a diferença entre o que é considerado oficial e o que reajusta os aluguéis:

IPCA – O “OFICIAL”

Embora o Brasil não tenha índice oficial de inflação, essa condição foi atribuída ao IPCA, calculado pelo IBGE, por servir de referência para o Banco Central acompanhar o sistema de metas de inflação. Foi escolhido para essa missão justamente por ser o mais abrangente: mede a variação de preços para famílias com renda de até 40 salários.

IGP-M – O DO ALUGUEL

Calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), é composto por três diferentes subíndices: ao produtor (peso de 60%), ao consumidor (peso de 30%) e na construção civil (peso de 10%). Como pesquisa preços no atacado, é mais sensível a altas e baixas na cotação do dólar. Também é o primeiro mensal cheio a ser divulgado.