Graças ao cuidado dos pais, Marina Michel Sousa, 5, visita o pediatra de três em três meses. Em uma das consultas de rotina no início do ano, o médico notou um inchaço incomum na barriga da menina e pediu exames, que foram feitos no mesmo dia por rede privada de saúde. A pequena foi levada para o Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, ao final daquela segunda-feira após o diagnóstico assertivo de leucemia – neoplasia que, junto a outras modalidades, contempla o câncer infantil.

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PRF’s raspam o cabelo em homenagem às crianças em tratamento no Hospital Infantil

– Eu chorava muito. E a Marina chorava por me ver chorando. Ela não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que era grave por estar indo para o hospital. Quem contou para ela foi uma menina que também se trata aqui. A menina explicou que a Marina estava dodói e teria de deixar que soldadinhos, no caso os remédios, entrassem no corpinho dela para combater os inimigos – lembra com olhos marejados a mãe Débora Michel Sousa, 38.

Assim como Marina, outras 150 crianças são diagnosticadas com câncer infantil em Santa Catarina a cada ano. No brasil, são quase 12 mil novos casos anualmente. A incidência é maior entre 5 e 6 anos de idade. Leucemia, tumores do sistema central e linfomas são as formas de expressão mais frequentes. Instituições públicas de saúde em Florianópolis, Itajaí, Blumenau e Joinville recebem as crianças de até 15 anos incompletos com câncer.

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A notícia boa é que o índice de cura é elevado: 73% no Estado, frente à média de 70% no Brasil. Os números são do Instituto Nacional do Câncer (INCA) em 2014.

Crianças em tratamento no Hospital Infantil Joana de Gusmão recebem visita mágica

Apesar de carequinha, Marina não perde o sorriso, nem quando tem de deixar os brinquedos de lado para ir às sessões de quimioterapia. Ela se encaminha para a metade do tratamento e, segundo os médicos, o organismo responde bem.

– Agora eu gosto de ficar aqui. As enfermeiras são legais. Mas estou feliz porque hoje vou poder ir pra casa brincar – comemora a menina.

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Marina se diverte com o lenço que ganhou no Hospital Infantil: ela prefere a tiara esverdeada. Foto: Guto Kuerten/Agência RBS

Diagnóstico precoce é fundamental

Um dos objetivos da campanha Novembro Dourado, que acontece exatamente no mês do Dia Nacional de Combate ao Câncer Infanto-juvenil em 23 de novembro, é alertar para a importância do diagnóstico precoce da doença. A médica responsável pela área de Onco-Hematologia do Hospital Infantil Joana de Gusmão, doutora Denise Bousfield da Silva, explica o motivo:

– Toda criança deve ser acompanhada pelo pediatra, que é treinado para perceber os sinais de alerta. Sintomas do câncer mimetizam [se confundem] sintomas de outras doenças mais frequentes. A persistência deles é que levanta a suspeita do câncer infantil. Tumores na criança têm menor período de latência e são de alta fração de proliferação. Então, quanto mais precoce é o diagnóstico, menos espalhada a doença vai ser – garante.

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Apesar de as células cancerígenas se espalharem mais rapidamente nos pequenos, a resposta da criança ao tratamento costuma ser melhor quando comparada aos adultos, por isso a taxa de sobrevida elevada.

– A quimioterapia atua melhor em células que se proliferam rapidamente. Só que ela não atua exclusivamente contra as células malignas, então acontece queda de cabelo mais acelerada, feridas na boca e risco de infecção. Por isso a gente cuida muito, porque a principal causa de óbito desses pacientes é por infecção – detalha a médica.

Em ação do Novembro Dourado, membros da Polícia Rodoviária Federal tiveram os cabelos raspados pelas crianças em tratamento de câncer. Foto: Guto Kuerten/Agência RBS

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Sinais de alerta do câncer infantil

– Mancha branca nos olhos, perda recente de visão, estrabismo, protrusão (deslocamento para frente) do globo ocular;

– Aumento de volume (massa) do abdômen e pelve, cabeça e pescoço, membros, partes moles (coxa, por exemplo) testículos e glândulas;

– Sinais ou sintomas sem explicação: febre prolongada, perda de peso, palidez, fadiga, manchas roxas pelo corpo e sangramentos;

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– Dores progressivas nos ossos, articulações nas costas e fraturas, sem trauma proporcional;

– Sinais neurológicos: alteração da marcha, desequilíbrio, alteração da fala, perda de habilidades desenvolvidas, dor de cabeça por mais de uma semana com ou sem vômitos, aumento do perímetro cefálico.

– Ínguas que aumentam progressivamente de tamanho;

– Palidez inexplicada, que não é anemia;

– Sangramentos;

– Manchas roxas no corpo que não são originadas por trauma (batidas);

– Dor de cabeça e vômito que fazem a criança despertar, parar de brincar;

– Puberdade precoce.

Fonte: Hospital Infantil Joana de Gusmão