Indicado para a 11ª cadeira do Supremo Tribunal Federal, o jurista gaúcho Luiz Fachin já chegou à sabatina da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, nesta terça-feira, rodeado por críticas, e foi convidado a comentar temas que têm sido foco da resistência ao seu nome, como questões de propriedade, família e posicionamento político. Após longa sessão – que começou às 10h e encerrou pouco antes das 23h – sua indicação foi aprovada com 20 votos favoráveis e sete, contrários. A votação no plenário do Senado deve ocorrer na próxima terça-feira.
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Durante a sabatina, o advogado e professor negou a militância política. Disse não ter qualquer ligação com o PT, e que nunca fez proselitismo político-partidário. O indicado para a cadeira do STF citou o exemplo do ex-ministro Joaquim Barbosa para dizer que existe independência da Suprema Corte em relação ao partido pelo qual foi indicado. A fala se deu após questionamento do senador Humberto Costa (PT-PE) sobre o fato de Fachin ter pedido votos para a campanha da presidente Dilma Rousseff, em 2010.
Fachin usa redes sociais para responder a críticas
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Fachin alegou que foi procurado, em 2010, por advogados do Estado de São Paulo para manifestar seu apoio à candidatura da petista à Presidência do Brasil e acrescentou que estava, por coincidência, na capital paulista, no dia em que foi feita uma cerimônia para apoiar a campanha de Dilma ao Palácio do Planalto, e que por isso leu o manifesto pedindo votos à petista.
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– Quero salientar que não tenho nenhuma dificuldade, nenhum comprometimento caso venha a vestir eventualmente a toga do STF e apreciar causas de partidos políticos – disse Fachin, que emendou sua fala dizendo que é uma tradição dos ministros do Supremo manter a independência daqueles políticos responsáveis por sua indicação.
Opinião sobre aborto
Luiz Fachin foi questionado, em mais de uma ocasião, sobre sua opinião a respeito de aborto, e se posicionou contra, destacando que “defende a vida” e é “contra qualquer forma de interrupção:
– Sou contra (o aborto). Sou um defensor da dignidade da vida humana. Essa é minha posição, como cristão e humanista.
União entre pessoas do mesmo sexo
Fachin disse defender a diversidade, o não preceito e o respeito às escolhas de cada pessoa, desde opção a sexual até a religiosa.
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– Sou favorável a que haja lei e que, na lei, que se dependesse de mim, seria favorável à atribuição de direitos civis. Mas que não se deve heterossexulaizar a homossexualidade. Não explicitar condutas, não defender modelos a serem seguidos por quem quer que seja – defendeu.
Suposta ligação com o MST
Já no início de sua exposição inicial, Fachin disse defender a vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade. A ala ruralista do Congresso levantou questionamentos desde a indicação de Fachin sobre artigo publicado pelo jurista a respeito do direito de propriedade que o aproximava do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Fachin citou memórias da “lavoura” e emoções que “se superlativaram durante certo período” de sua vida. Ele disse ter defendido, no entanto, as situações em que há desejo de produzir na terra, dentro da lei.
– Sempre fui e sou contra qualquer forma de violência – afirmou.
PEC das Bengalas
Para Fachin, o aumento da idade de aposentadoria para ministros de tribunais superiores e do STF de 70 para 75 anos “tem coerência com a realidade”. Ele evitou tecer comentários detalhados sobre a aprovação da chamada PEC da Bengala pela Câmara dos Deputados, no dia 5, elevando a idade de aposentadoria dos magistrados. Não se pronunciou, por exemplo, sobre a possibilidade de ministros que já compõem as cortes terem de passar por uma nova sabatina caso desejem ficar até os 75 anos no exercício da função.
Redução da maioridade penal
A respeito da redução da maioridade penal, Fachin defendeu o aprofundamento da discussão com a sociedade. Segundo ele, o Congresso Nacional tem a primazia no debate. Mesmo sem posicionamento a favor ou contra a redução da maioridade de 18 para 16 anos, Fachin informou que considera essa cláusula como pétrea na Constituição, ou seja, que não pode ser alterada.
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Estrutura da família
Em relação às acusações de que teria pregado a poligamia em artigo acadêmico, afirmou que tem como um de seus “princípios fundamentais” a estrutura de família.
– A Constituição é nosso limite. Dentro desse limite, ela prevê as possibilidades e, portanto, o relacionamento fiel. A fidelidade é um projeto de vida e é da estrutura da família. Essa é a dimensão monogâmica, que é um princípio estruturante da família. Acredito que meu comportamento é de família, a família que se tem. Talvez a prova do que estou dizendo seja o alto dos bons 37 anos de casamento, dos quais só me arrependo por terem sido só 37 até agora – concluiu.
Financiamento privado de campanhas
Questionado sobre sua opinião sobre o financiamento privado de campanhas eleitorais, assunto que está parado há mais de um ano no STF, Fachin disse que talvez não seja uma discussão para a Suprema Corte, sugerindo que esse tema deva ser debatido no Congresso.
– Em tese, há certas circunstâncias em que o Supremo não deve atravessar a rua – disse.
O indicado ao STF disse ainda que não gostaria, contudo, de se comprometer com essa opinião.
– Digo em tese, não quero que seja esse tema apreendido como comprometimento.
Mensalão
O julgamento do mensalão também foi abordado na sabatina. Em resposta ao senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), Luiz Fachin afirmou que o Supremo deu uma resposta à sociedade brasileira, uma vez que os ministros aplicaram a lei no caso concreto e as decisões se deram por maioria dos integrantes do tribunal.
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Exercício da advocacia enquanto procurador
Com relação a um suposto exercício ilegal da advocacia enquanto era procurador, porque a Constituição do estado do Paraná proibia a prática acumulada com cargo público, de acordo com a oposição e o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), Fachin argumentou que a Constituição Federal, que se sobrepõe à do Paraná, autorizava o acúmulo dos cargos. Fachin alegou ter exercido advocacia particular quando era procurador do Estado no Paraná porque o edital do concurso para o cargo, em que foi aprovado, previa impedimento apenas para advogar contra a Fazenda Pública. O indicado mostrou sua carteira de advogado, em que há anotação da OAB do Paraná com a autorização do exercício da advocacia privada no período em que era procurador do estado.
*Zero Hora, Estadão Conteúdo e Agência Brasil