Uma iniciativa do Serviço de Incentivo às Organizações Produtivas (Siop), vinculado à Secretaria de Assistência Social de Joinville, está levando capacitação gratuita para empreendedores locais, em especial, as pessoas em vulnerabilidade socioeconômica. Ainda pouco conhecida dos joinvilenses, a Join.Cubo é uma incubadora pública ativa desde 2016 e que já contribuiu com a formação de cerca de 100 participantes, se firmando como importante agente de fomento econômico comunitário.
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A proposta é desenvolvida por meio de aulas e oficinas semanais ao longo do ano, que tem como objetivo levar ao empreendedor maior entendimento sobre o que é empreender, e como planejar e fazer uma gestão mais segura, que impulsione os negócios e se reverta na conquista de mercado.
— É um processo formativo para quem está começando um negócio como forma de complementação de renda ou substituindo a colocação no mercado formal. São pessoas que trabalham com artesanato, alimentação, prestação de serviços e, que, na incubadora recebem diversos conteúdos. O foco é orientar e investir na formação para que eles aprendam a fazer a gestão do seu negócio de forma mais organizada — explica a gerente de Fomento à Geração de Emprego e Renda do Siop, Lisielen Goulart.
Conforme ela, a Join.Cubo está em sua terceira turma e, no momento, capacita 25 pessoas através da realização de atividades elaboradas por assistentes sociais, psicólogos, administradores, além de coordenadores e gerentes do Siop. As aulas também contam com parcerias de entidades e instituições de ensino locais, como a Associação de Joinville e Região de Pequenas, Micro e Médias Empresas (Ajorpeme); Universidade da Região de Joinville (Univille) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Ampliação na geração de renda
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Nas oficinas são abordados temas como gestão, marketing, perfil do empreendedor, relacionamento com o cliente, produção, técnicas de precificação, além de questões legais e previdenciárias. Cada aluno também precisa desenvolver o seu próprio plano de negócios, com orientação e acompanhamento dos professores.
O resultado é que 80% dos empreendedores que concluíram a formação no programa mantém o empreendimento ativo, ainda que muitos ainda não sejam formais ou sejam utilizados como fonte de renda principal. Para as famílias em situação de vulnerabilidade o potencial de geração de renda é visto como diferencial.
— O retorno que temos normalmente dos empreendimentos que acompanhamos é que eles passaram a fazer uma precificação (dos produtos) mais correta, porque muitas vezes eles estavam perdendo dinheiro ou então deixando de ganhar. Eles passaram também a ter uma organização e um planejamento de negócio sabendo aonde eles querem chegar e como se organizar para conseguir tirar as metas do papel — conclui Lisielen Goulart.
Mentoria impulsiona resultados de pequenos negócios
A joinvilense Pamela Baiochi é uma das beneficiárias da primeira turma da incubadora. Depois de dez anos trabalhando numa indústria, há dois ela decidiu investir em um negócio próprio na área de gastronomia e gastou todo o dinheiro de sua rescisão, R$ 15 mil, na compra de uma máquina para fazer salgadinhos. A aposta no empreendimento aliada às orientações que recebeu na Join.Cubo hoje se refletem em desenvolvimento.
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Em pouco mais de um ano a microempresária mudou de endereço e a “Delícias Baiochi” saiu de uma cozinha de um apartamento para ganhar forma em uma área própria anexo a sua nova residência. O marido dela, Alex, também saiu do emprego que tinha para ajudar a mulher. Por fim, a produção mensal saltou de 200 para 27 mil salgadinhos. Agora os próximos passos são a formalização e a aquisição de novos maquinários.
— Quando comecei não tinha planejamento mas uma certeza, de que a máquina de salgados seria a principal geração de renda para a minha família. Então conheci o Join.Cubo, fui atrás de orientação e através do que ia aprendendo eu colocava na prática. As conquistas mostram que tomei o caminho certo, mesmo ainda tendo muito o que investir — considera Pamela.
Economia solidária
Com o mote de impulsionar também ações compartilhadas, a incubadora não foca apenas nos casos individuais, ela agrega representantes de cooperativas e associações. Um dos exemplos vem da recicladora Márcia Aparecida dos Santos, que recebe capacitação na Join.Cubo e leva o aprendizado para seus colegas de trabalho na Associação Ecológica dos Catadores Recicladores de Joinville (Assecrejo), onde trabalha há dez anos.
A entidade está se formalizando para se tornar cooperativa e as orientações adquiridas nas oficinas são consideradas pela administração do estabelecimento como essenciais para o futuro da organização. Conforme Márcia, que representa o grupo na incubadora, o maior aprendizado que leva para os colegas é o de que todos eles são empreendedores. Para ela, é essencial mostrar os valores de cada um e como eles devem lidar com o cliente, fazer pesquisas de mercado, manter a atividade diante de uma crise ou mesmo conquistar mais espaço no mercado.
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— Por meio da capacitação já pensamos em bastantes projetos e queremos crescer, melhorar o galpão e a qualidade do nosso trabalho. Já mudamos alguns processos e nossa intenção é ser uma referência e mostrar que trabalhar com a reciclagem, quando há organização, pode dar certo. Estamos abrindo a mentalidade do pessoal de que podemos mais, ter um salário digno e ser tratados não só como cidadãos, mas como bons empreendedores — cita ela.
De acordo com o presidente da Assecrejo, Severino Tavares 17 famílias dependem dos rendimentos da associação e as primeiras mudanças começaram a aparecer. Hoje eles reciclam cerca de 70 toneladas de materiais por dia e, com os projetos em desenvolvimento ou que pretendem desenvolver querem chegar a 150 toneladas. A intenção é que o rendimento médio por trabalhador, de aproximadamente R$ 1,4 mil, também cresça e alcance o dobro do valor atual.
Entre as mudanças já notadas desde que a associação começou a receber mentoria está a otimização do serviço, com a implantação de esteira de triagem, braço hidráulico (que estava parado há seis anos), destinação correta de não reciclados, além da formulação de caixa para a Assecrejo – que possibilitou a aquisição de um veículo de fretes pago a vista por R$ 57 mil. Também houve fortalecimento de campanhas para descarte consciente.
—As melhorias são sentidas até mesmo na linguagem, no modo de se vestir, na organização do serviço e no aumento de produtividade e de renda. Já conseguimos, por exemplo, sair de um atravessador através do diálogo e da separação de um material melhor e de mais qualidade, negociando com a indústria. A sucata era vendida como uma coisa só e nisso estávamos perdendo dinheiro, enquanto atualmente separamos por tipo de material e os vendemos com valores diferenciados — conta Severino.
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Inclusão
Outro viés importante é o do empreendedorismo inclusivo. Atualmente, a incubadora realiza formação diferenciada para 26 usuários dos Serviços Organizados de Inclusão Social (Sois), do município. A medida amplia o olhar de geração de oportunidades de renda e de qualidade de vida para os joinvilenses.
— São pessoas que apresentam algum transtorno mental e também tem acesso ao programa. Fazemos as oficinas em separado, mas o conteúdo é o mesmo que o da outra turma. A diferença está na dinâmica do trabalho, em que acabamos respeitando mais o tempo de aprendizado de cada um deles para que, de fato, entendam o conteúdo e possam usar isso também na associação — aponta a gerente do Siop.
COMO PARTICIPAR
Normalmente o edital de participação na Join.Cubo é aberto pela Prefeitura de Joinville no início de cada ano. Qualquer cidadão pode se inscrever no processo de seleção conforme adequação aos critérios estabelecidos. A prioridade de ocupação das vagas considera as pessoas que possuem cadastro único e que sejam atendidas pela Secretaria de Assistência Social, em situação de vulnerabilidade social. As aulas acontecem às terças-feiras, das 8h30 às 11h30 no auditório do Centro Público de Atendimento ao Trabalhador (Cepat).