O aquecimento da economia tem favorecido o consumo de alto padrão e isso vem se refletindo, entre outras coisas, na mobilidade. Nos últimos anos cresceu não somente a demanda da aviação comercial, como também da aviação executiva e o número de pessoas que pode dispor do luxo de comprar a própria aeronave. Para atender esta demanda, em 2009 empresários montaram em Porto Belo um condomínio aeronáutico, o único do Estado atualmente.

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Para se ter uma ideia, a quantidade de helicópteros em Santa Catarina, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), dobrou de 2001 a 2012. Eram 29 há 11 anos e neste ano chegaram a 63. Apesar de não se ter dados sobre aquisições de novos aviões, empresários do setor garantem que a aviação executiva tem crescido, pelo menos, 20% ao ano.

O Condomínio Aeronáutico Costa Esmeralda, nas proximidades da BR-101, foi fundado por Flavius Neves e Pedro Silvio de Souza. A pista de pouso do Condomínio tem 1,35 mil metros, o mesmo tamanho da do aeroporto Santos Dumont (RJ), e capacidade para receber aeronaves de até 15 toneladas.

Destoando entre os que disseram que o negócio não iria para frente, surgiram os amigos, compradores dos primeiros lotes para construção de hangares. O empreendimento engrenou e as áreas, que chegaram a ser comercializadas pela bagatela de R$ 35 mil, valem hoje de R$ 450 mil até R$ 2,5 milhões, segundo o vendedor Humberto Vitório Savoia. Mas esta valorização não fez os clientes dispersarem, pelo contrário.

Hoje, dos 171 lotes existentes apenas 33 estão disponíveis para a venda. Outros 5% das vagas são destinados para a locação. Além do preço do terreno, cuja metragem pode variar de 169 a 2,04 mil metros quadrados, os proprietários precisam construir o hangar e, o mais importante, ter uma aeronave.

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Há no condomínio hangares com suíte e piscina e aeronaves que variam de R$ 50 mil a US$ 5 milhões. O que para muitos é luxo, para eles é, na verdade, comodidade. Não precisar encarar filas nos aeroportos, ou ficar à mercê das conexões e cancelamentos de voos das empresas aéreas, tampouco se submeter a estradas engarrafadas, é o que tem levado muita gente a adquirir um avião.

Bruno de Aguiar Hering, 63 anos, é morador de Itapema, mas passa os períodos de folga na casa que possui em Gramado. Atualmente, as viagens à serra gaúcha tem durado em média 40 minutos, graças ao avião particular que ele mesmo pilota e fica guardado no condomínio. A esposa, que prefere ficar em terra firme, costuma sair antes para fazer o trajeto de carro.

O gerente do condomínio aeronáutico Costa Esmeralda, Tiago César Neves, conta que esse é o perfil dos clientes do empreendimento. Empresários, muitos deles de Blumenau e Curitiba, que viram na alternativa de manter um hangar uma forma de fugir das filas das BRs.

_Por estar numa das regiões mais visitadas do nosso litoral, o condomínio vive cheio de gente chegando e saindo, principalmente perto de fins de semana e feriados _ explica.

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Com o sucesso do Costa Esmeralda, os sócios estão viabilizando empreendimentos semelhantes em Natal (RN), Búzios (RJ) e Curitiba (PR). O condomínio de Búzios está em fase bastante adiantada e seu lançamento é previsto para o ano que vem.

Um luxo para poucos

Se para você ter o próprio helicóptero é um sonho distante, não fique desanimado. O economista e professor da Univali Eduardo Guerini explica que esse é um luxo para poucos. Na verdade, o Brasil vive um momento de crise depressiva, mas alguns aspectos como o aumento do crédito e o aquecimento em setores como o de agronegócios, está possibilitando que as classes altas estejam migrando do consumo de alto padrão para o consumo conspícuo, que nada mais é que o consumismo por status.

_Quando há um vento favorável na economia, tende-se a criar essa condição de consumo. No caso de pessoas que já tinham um poder aquisitivo, isso se reflete no consumo desses bens, no caso da classe média isso se reflete em outros setores _explica.

Segundo o professor, quando esses lampejos favoráveis ocorrem em determinado setor a classe média copia hábitos dos ricos de acordo com seu poder de consumo, como comprando produtos importados, como vinhos, queijos, etc. Como a mobilidade urbana hoje é um problema da maioria das cidades, nada melhor, segundo Guerini, que investir num bem de luxo que ainda possa auxiliar nessa questão.

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O economista destaca que o crédito facilitado também está contribuindo para o consumo de bens como jatinhos, mas para ele esse ainda é um luxo de poucos. Enquanto isso, as classes menos abastadas também têm feito uso das facilidades na aviação, como a concorrência entre as empresas, para movimentar os aeroportos.

Conforme dados da Anac, a movimentação de passageiros no aeroporto de Navegantes cresceu 428% de 2009 para este ano. De janeiro a julho de 2009, 173 mil pessoas passaram pelo terminal, sendo que no mesmo período deste ano foram mais de 740 mil.