Ainda recente na memória, o contágio das bolsas de valores com a crise de países ou empresas voltou a empurrar ladeira abaixo os pregões em todos os fusos horários ontem. O receio de investidores é de que a Grécia – mesmo socorrida com 110 bilhões de euros (cerca de R$ 253 bilhões) – não consiga colocar as contas em dia e ainda leve junto outros países europeus com contas fragilizadas. Os primeiros da lista seriam Espanha e Portugal – não necessariamente nesta ordem.

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No Brasil, a Bolsa de São Paulo (Bovespa) seguiu de perto a onda de nervosismo global e amargou queda de 3,35% – patamar mais baixo desde 9 de fevereiro. Alguns analistas já falam em um possível “ponto de virada” para as bolsas.

Nos EUA, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, recuou 2,02% – a maior queda em três meses. Na Europa, o índice britânico FTSE caiu 2,56%, enquanto o índice alemão Dax retrocedeu 2,6%. O risco de a Espanha entrar no rol do países em dificuldade para fechar as contas jogou o índice da bolsa de Madri no chão: -5,48%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) negou, entretanto, que o governo espanhol esteja pedindo um empréstimo para a instituição.

Confira ao lado possíveis reflexos dessa nova sacudida nos pregões mundiais.

Bolsas

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A instabilidade deve marcar os próximos dias, já que ainda é incerto o grau de contágio da crise grega sobre o restante da Europa. Portanto, os pregões de países emergentes devem ser marcados por mais fuga de investidores estrangeiros, responsáveis por boa parte do volume na Bovespa.

Se a turbulência se agravar, nações emergentes poderão ser vistas como mais arriscadas, prejudicando a atração de investimentos. Conforme analistas, um possível efeito no Brasil ocorreria mais por contágio do que por problemas da economia interna.

Dólar e euro

O dólar vinha se mantendo depreciado em relação ao real por conta da entrada constante e volumosa de investimentos estrangeiros. A moeda americana segue a lei da oferta e procura: havendo excesso de dólares no país, vale menos. Com a fuga de investidores estrangeiros para cobrir suas posições na Europa, a tendência é que a cotação do dólar suba.

Se fica mais caro comprar dólares, quem pretende viajar para a Europa pode se beneficiar. A tendência é que o euro sofra desvalorização com os problemas da Grécia, Espanha e Portugal. Assim, ficaria mais barato comprar euros e produtos europeus. No mercado internacional, a moeda europeia caiu para o menor nível em 13 meses em comparação ao dólar, chegando a US$ 1,3004.

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Economia interna

Se a crise na Europa se agravar, os setores exportadores também serão prejudicados. Com a desvalorização do euro, fica mais barato trazer produtos do Velho Continente. Em compensação, fica menos rentável para a indústria brasileira vender mercadorias para lá. Em um cenário mais pessimista, a retirada de capital incluiria também a suspensão dos investimentos estrangeiros no setor produtivo. Se isso acontecesse, o Brasil cresceria mais lentamente com recursos mais escassos para expandir a produção, redução no nível de emprego e renda.

Sistema financeiro

Os maiores bancos nacionais provaram robustez ao enfrentar a recente crise global, e desde então vêm se capitalizando. Assim, é improvável que precisem de ajuda do Banco Central, considera o economista Celso Grisi, da FEA-USP. Ele ressalta que bancos médios e pequenos, com mais dificuldade de captar recursos, poderão ser encampados pelos maiores ou precisar de um resgate, caso a crise se consolide.

Espanha e Portugal

Na avaliação de analistas, outra razão para a queda das bolsas – além de dúvidas sobre o pacote de resgate de 110 bilhões de euros prometido pelos países europeus e pelo FMI à Grécia – seria o receio de que a crise enfrentada pela economia grega possa se repetir em outras nações europeias. Há temores de que países como Portugal e Espanha possam encontrar dificuldades para levantar o suficiente para cobrir seus déficits orçamentários.

Os dois países tiveram a classificação de seus títulos de dívida rebaixada na semana passada. Num sinal de que o nervosismo está se espalhando, os títulos portugueses e espanhóis mostraram alta de rendimentos nos últimos dias.

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A moeda europeia

O prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, previu ontem o possível fim do euro se a Europa não conseguir solucionar os problemas institucionais fundamentais depois da crise grega. Stiglitz analisou que o plano de ajuda, combinado com um plano de austeridade, não frearão o ardor dos especuladores em apostar em um enfraquecimento da zona do euro.

Petróleo

O barril fechou ontem abaixo de US$ 83, na maior queda desde fevereiro. Os contratos futuros de petróleo recuaram 4% em meio a renovados temores quanto à capacidade da Grécia de cumprir as exigências.

O desempenho da commodity é um indicativo da tendência da economia mundial. A alta ou queda da cotação quase sempre decorre de uma projeção em relação ao consumo. Economias retraídas vão consumir menos combustível.