Aos 21 anos, Rosi Dedekind trabalhava, era casada e tinha uma filha de apenas sete meses. No alto do Hotel Colon, onde a família morava, ela e o marido, Martin, cuidavam da pequena Marina, que estava febril.
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O dia 13 de novembro de 1983 chegava ao fim, e as últimas centenas de pessoas que participaram da sessão das 22 horas no Cine Colon já deviam estar chegando a suas casas.
Assim que acalmaram a bebê e se deitaram, preparados para dormir, no quarto do casal, o telefone tocou. Passava da meia-noite. Martin, ao atender a ligação, conta a esposa, permaneceu despreocupado, pois era impossível imaginar que o chamado se tratava de algo grave.
Desceu com um extintor de incêndio pela passagem que levava ao cinema construído 27 anos atrás pelo avô, Nelson Walter. Quando abriu a porta, as labaredas já tomavam conta do espaço e ele teve consciência de que, sozinho, não conseguiria apagar as chamas que consumiam um dos mais importantes ambientes de lazer de Joinville.
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Enquanto o fogo se espalhava pelo número 80 da rua São Joaquim, no centro da cidade, Rosi começou a acordar os 35 hóspedes e a evacuar o hotel. A demora de aproximadamente 30 minutos para cortar a rede de energia na área atrasou o trabalho dos bombeiros que, a essa altura, preocupavam-se também com as chamas que passavam a atingir o hotel e, até o fim dos trabalhos, teriam queimado metade dele, do terceiro ao sexto andar.
Conforme matéria publicada no jornal A Notícia na terça-feira, 15 de novembro, o sub-comandante do Corpo de Bombeiros de Joinville na época, Renato Kühn, disse que foram mobilizadas oito viaturas e utilizados 130 mil litros de água no combate ao incêndio.
Nas praças Nereu Ramos e Lauro Müller, que cerceam cinema e hotel, uma multidão se aglomerava – alguns deles em trajes de dormir. Às 5 horas da manhã do dia 14, os bombeiros finalizavam o rescaldo e os primeiros trabalhadores do turno da manhã começavam a chegar.
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– Esse momento mexeu com a gente. Até então, estávamos preocupados com os hóspedes. Quando vimos nossos funcionários aparecendo para trabalhar, foi um momento tocante pela forma como nos olhavam. Ninguém acreditava que aquilo era verdade – conta Rosi, hoje com 51 anos.
Depois de remover água, entulho e móveis, veio a constatação definitiva de que o curto-circuito em um disjuntor do cinema – causador do incêndio – acabou com as 1.200 poltronas, a tela com 16 metros de largura, as cortinas costuradas pela avó de Martin, o carpet, os aparelhos de ar condicionado e o assoalho.
Intactos, permaneceram apenas a escada, a sala de projeções e a película de A Máquina Prateada, filme exibido na última sessão de domingo – e também a última da história do Cine Colon.
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Após três décadas, sem a cobertura e transformado em estacionamento para o hotel, o Cine Colon ainda mantém parte do seu formato original, com a sala de projeções, imponente, no topo do recinto, mas um triste adicional: as paredes chamuscadas, sem pintura – uma dolorosa lembrança daquela madrugada que pôs fim a um dos marcos do cinema em Joinville.
O início
Nem a família de Rosi e Martin nem a empresa Arco-Íris, que na data do incêndio administrava o cinema, resolveram reconstruir o Cine Colon. Se ele ainda existisse, estaria completando, nesta quinta-feira, 57 anos. Sim, numa infeliz coincidência, o cinema nasceu e morreu na mesma data.
Lá em 1956, um contratempo fez com que Música e Lágrima, que narrava a trajetória do músico Glenn Müller, deixasse de ser exibido. Em vez dele, a abertura do espaço apresentou o musical Sete Noivas para Sete Irmãos, dirigido por Stanley Donen e com Jane Powell e Howard Keel no elenco.
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No dia 14 de novembro daquele ano, às 17 horas, a sessão inaugural contou com a presença da imprensa e de autoridades. Às 20 horas, o cinema abriu as portas ao público, que pagou Cr$ 50 (cruzeiros) pela entrada – valor completamente revertido em benefício dos asilos Abdon Batista e Bethesda. O Hotel Colon só ficaria pronto sete anos mais tarde.
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