Logo ao lado de paisagens exuberantes da natureza catarinense, na região da Praia do Sonho, em Palhoça, um desastre ambiental transforma em cinzas uma grande parte do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. Focos de incêndio desde o meio-dia de terça-feira (10) seguem queimando a área do parque e, segundo a Polícia Militar Ambiental, já consumiram 558 hectares até a tarde desta quarta-feira (11). A medida é equivalente a 812 campos de futebol.

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O número deve aumentar, pois o fogo ainda não foi contido e já cruza as estradas rurais que cortam o trecho do parque que fica entre a BR-101 e a Praia do Sonho. Por volta das 18h desta quarta, os bombeiros que atuam no local contabilizavam quatro focos de queinada.

O combate aos focos de incêndio, que começou na terça, continuou até as 4h desta quarta, em uma ação que envolvia impedir que as chamas chegassem às residências ao lado do parque.

Nenhuma casa chegou a ser atingida, e o fogo foi controlado, mas uma mudança no vento fez com que o incêndio seguisse nesta quarta de manhã em direção ao Sul do parque, em uma área sem residências.

No entanto, por ser uma região de mata fechada, o combate ficou mais difícil, dependendo da ação do helicóptero Arcanjo, do Corpo de Bombeiros, que incessantemente buscava água em um lago às margens da BR-101 e soltava sobre a floresta.

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Arcanjo no combate ao incêndio
Helicóptero Arcanjo 01 busca água em um lago às margens da BR-101 para soltar nos focos de incêndio na mata fechada (Foto: Gabriel Lain / Diário Catarinense)

Por terra, mais de 30 oficiais da Polícia Militar Ambiental tentavam se aproximar das chamas para usar abafadores, mas o perigo de ser cercado pelo fogo impediu vários dos avanços.

Outros 50 bombeiros militares e comunitários atuam no local e mais 20 homens das Forças-Tarefa dos Batalhões de Bombeiro Militar de Balneário Camboriú e Criciúma estão a caminho. Até as 16h desta quarta, foram lançados 44 mil litros de água pelo Arcanjo 01 e aproximadamente 80 mil litros pelos caminhões de combate a incêndio. No fim da tarde, a operação ganhou reforço de caminhões-pipa.

O combate com água de caminhões dos bombeiros só foi possível perto do meio-dia, quando o fogo se aproximou da Estrada do Espanhol — que cruza a área do parque que está em chamas. Três caminhões dos bombeiros no local tentaram impedir que o fogo cruzasse a estrada e seguisse queimando o parque em direção ao Sul, mas, por volta das 15h30min, as chamas atravessaram a estrada.

Segundo os bombeiros, dois focos de incêndio se intensificaram ao longo do dia. Imagens aéreas feitas de manhã mostravam apenas fumaça, enquanto novos vídeos feitos pela equipe no Arcanjo por volta das 16h mostram o fogo se espalhando e com chamas mais altas no interior do parque.

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Equipes dos bombeiros tentavam entrar na mata para combater o fogo com abafadores
Equipes dos bombeiros tentavam entrar na mata para combater o fogo com abafadores (Foto: Gabriel Lain / Diário Catarinense)

Para equipes que trabalham dentro do Parque da Serra do Tabuleiro e assistiam ao incêndio, o caso representa uma perda irreparável ao meio-ambiente, com a morte de animais e a destruição da mata nativa. Moradores também passavam pelo local e ofereciam ajuda aos bombeiros na tentativa de amenizar os impactos.

Para o capitão João Hélio Schneider, comandante da 4ª Cia da Polícia Militar Ambiental, responsável por coordenar os trabalhos no incêndio nesta quarta-feira de manhã, não há incêndio por causa espontânea no local. Causas humanas criminais ou acidentais serão apuradas depois que o fogo for contido. Ele cita, no entanto, que pela proximidade com loteamentos irregulares o incêndio pode ter iniciado com a tentativa de limpeza de algum terreno.

Moradores prestam auxílio aos trabalhos

Pelo menos 10 moradores da região, de locais como a Guarda do Embaú e da Praia da Pinheira, estão no local auxiliando, voluntariamente, para apagar as chamas. Eles usam bombonas d’agua e abastecem em casa ou nos riachos que encontram mais próximo aos focos de incêndio.

Julia Minelli 27 anos é voluntária. Acompanhada de outros moradores, foi até a área de incêndio ainda na noite de terça-feira (10).

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— A gente chegou aqui às 22h e saiu às 2h. Não tinha mais fogo. Isso aqui (mostra a região queimada) era tudo verde quando saímos daqui — conta Julia.

Grupo de voluntários ajuda trabalho para conter o fogo
Grupo de voluntários ajuda trabalho para conter o fogo (Foto: Tiago Ghizoni/Diário Catarinense)

Emili Penélope Pereira, 30 anos, chama voluntários para contribuir:

— A gente precisa de ajuda. Há uma hora não tinha nada disso. Há pouco as chamas subiram. Quem puder vir ajudar, trazer água, é muito importante.

Os voluntários foram orientados pelos bombeiros para que não se aproximem das chamas mais altas e nem caminhem sozinhos perto dos locais com muita fumaça.

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— A gente combate esses focos pequenos, onde já acabaram as chamas mais altas, para que o fogo não volte forte de novo — disse Emili.

Fauna deve sofrer maior impacto do incêndio

O incêndio que atinge o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro pode resultar em um prejuízo significativo para a fauna da unidade ambiental, avalia o professor Orlando Ferretti, do curso de Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Membro do Observatório de Áreas Protegidas, da UFSC, Orlando acredita que, além dos 558 hectares de vegetação já consumidos pelo fogo, animais em extinção em grande parte de Santa Catarina podem estar entre os mais afetados pela queimada.

— O fato de ser uma área de restinga bem estabelecida tem feito com que muitos animais fiquem ali, inclusive animais de grande porte. Então, esse pode ser o maior impacto do incêndio. Animais como antas, capivaras, muitos roedores, além de gatos do mato podem estar entre os afetados pelo fogo — comenta o professor.

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A rapidez com que as chamas se espalharam torna a situação mais dramática. Carlos Cassini, coordenador do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, relata que entre a manhã e a tarde desta quarta-feira (11) as chamas percorreram uma área de seis a sete quilômetros em cerca de três horas, o que pode ter dificultado a fuga dos animais.

Mapa do incêndio na serra do tabuleiro
(Foto: Arte NSC)

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