A dona de casa Alcione Kuzawa, 36, foi até o Centro de Bem-Estar Animal de Palhoça ontem à tarde, para tentar castrar o gatinho que adotou recentemente a partir de um anúncio de doação publicado nas redes sociais. O médico veterinário, Fábio Niehues, que recebeu a moradora do bairro Portal da Barra, fez o cadastro dela e do animal, mas não soube precisar quando a operação seria realizada. Isso porque o órgão, inaugurado há dois meses pela Secretaria Municipal de Saúde para fazer castrações e microchipagem de identificação dos animais do município, ainda não tem equipamentos necessários para funcionar como deveria.
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– É frustrante. Sabemos que existe uma população animal bastante grande em Palhoça e a abertura deste Centro foi um ganho, mas até então praticamente não pudemos trabalhar – alega o veterinário.
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Segundo estudo realizado pela própria Prefeitura, e enfatizado pela outra médica veterinária Adriana Morsoletto, existem de 10 a 12 mil cães e gatos em situação de rua no município – sendo o bairro Frei Damião e as praias os locais com maior concentração.
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Devido aos entraves burocráticos, a população animal permanece sem amparo, ainda que não tenha faltado publicidade para a abertura do espaço em 13 de abril, mês do aniversário palhocense.
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Abriu sem licença
– O Centro de Bem-Estar Animal de Palhoça foi inaugurado inicialmente sem a licença do Conselho de Medicina Veterinária. Já corrigimos esse problema quando pedimos maior rapidez na homologação. Agora, esbarramos na licitação para a vinda dos equipamentos de microchipagem e anestesia inalatória para castração. Foi um desconhecimento da burocracia em relação aos prazos – explica a veterinária Adriana.
A meta da equipe é realizar de cinco a dez castrações por dia, mediante comprovação de residência e renda de até dois salários mínimos.
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O que diz a Prefeitura
Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde de Palhoça, a RE Funguetto Ribeiro ME foi a empresa escolhida para fornecer os microchips e leitores para identificação dos animais. O pedido foi feito em 8 de maio, quase um mês depois da abertura do Centro de Bem-Estar Animal.
A vencedora da licitação teriam o prazo de 10 dias para entrega dos itens – o que não aconteceu. O mesmo atraso acontece com a entrega do aparelho para anestesia dos animais, mas o poder público não informou o nome da empresa vencedora.
A expectativa é que a entrega dos equipamentos aconteça nos próximos dias, mas sem data fixa divulgada. A Prefeitura afirmou já ter notificado as empresas por não cumprimento dos prazos estabelecidos.
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– Como medida emergencial, iniciaremos na próxima segunda-feira, 15, as castrações com anestesia injetável, que não exige a máquina como acontece na modalidade inalatória. Quando o equipamento chegar, iniciaremos o procedimento de forma inalatória. As duas formas são autorizadas pelo Conselho – garante o diretor municipal de Vigilância em Saúde, Leonardo Kretzer.
Apelo da comunidade e até da PM
No último fim de semana, a tenente da Polícia Militar Juliana Lopes recebeu o chamado para atender um cavalo que agonizava em um terreno de Palhoça. Ela tentou acionar o Centro de Bem-Estar Animal para acudir o animal, mas não conseguiu contato nos telefones disponibilizados.
– Isso infelizmente é normal, sempre recorremos, mas nunca conseguimos auxílio. É uma negligência do poder público. Infelizmente não foi o primeiro e nem vai ser o último animal a morrer – diz a policial.
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Mas a médica veterinária do órgão municipal, Adriana Morsoletto, reforça as competências do Centro recém inaugurado:
– Nós não prestamos serviços clínicos ou hospitalares aos animais. Para prestar socorro, existem as universidades como a Udesc ou clínicas particulares. Nosso serviço é o de cadastrar e, se solicitado, castrar os bichinhos quando solicitado pela população – orienta a profissional.
Adriana também reforça que eles não podem intervir em propriedades privadas quando há suspeita de maus tratos e que esse tipo de ocorrência é regido pela Polícia Ambiental. A Prefeitura só pode recolher animais quando eles estão em via pública – atrapalhando o trânsito, por exemplo.
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– Nesses casos, se for necessário, fazemos o sacrifício humanizado do animal – explica.
A veterinária Adriana Morsoletto aguarda a chegada dos equipamentos para poder trabalhar. Foto: Marco Favero/Agência RBS
Não podem atender
De maneira complementar, o Centro também irá trabalhar com conscientização da população contra o abandono. Mas a presidente dos Amigos e Protetores dos Animais de Palhoça (Aprap), Shalma Teixeira, reforça que o município de Palhoça ainda tem de avançar quando o assunto são políticas públicas para os animais.
– Foram gastos R$ 150 mil no Centro para não atender nem um cachorro atropelado. Não há compromisso por parte da Prefeitura em relação à proteção animal. Há uma demanda reprimida muito grande por esse tipo de serviço – defende a representante do órgão, que diz receber de 25 a 30 animais por dia para recolhimento em uma casa de passagem.
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