O Adhemar Garcia, na zona Sul de Joinville, ganhou oficialmente ontem um novo ponto de lazer, de cultura e de esporte com a inauguração do Parque São Francisco. Não faltaram visitantes de outros bairros e da comunidade local, que já usavam toda a estrutura antes mesmo da abertura oficial. Um dos diferenciais do novo parque é a pista de skate em formato de pé. Ela acabou sendo o espaço mais movimentado no dia da entrega à comunidade, que se divertiu à beira da avenida Alwino Hansen.
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De Belém do Pará ao Sul de Joinville, um grupo de amigos veio de longe em busca de novas oportunidades de trabalho e qualidade de vida. Encontraram na cidade emprego e lazer. Silas Brito, de 33 anos, e seu skate que o digam. A função de soldador em uma indústria garantiu a vinda e a permanência de sua família em Joinville.
Silas e a esposa, Natália, chegaram em janeiro, quando ela ainda estava grávida. Escolheram no bairro Santo Antônio para morar e criar o filho. Salis, “que é Silas de traz pra frente”, foi o nome escolhido para o novo joinvilense da família, hoje com nove meses. No colo da mãe, os olhos de Salis procuravam o pai, que não parava de “dropar” na rampa. A inquietude só diminuiu quando o pai levou o filho para um “rolê”. Os dois desceram e subiram as rampas juntos no mesmo skate.
– Eu deixo, mas prefiro nem olhar – comentou Natália, preocupada.
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– Então, não olha, amiga – aconselhou a outra paraense do grupo, Vanessa Bastos, de 19 anos, que veio morar em Joinville com o marido, Danilo Carvalho, de 27.
– Esse menino é radical, só gosta de brincadeira assim – concluiu Nani Gomes, a vizinha de Natália e Vanessa.
– Se fosse eu nessa pista, já teria trombado com alguém – previu Danilo, já descalço dos patins, ao ver a dupla desviar de um menino que cruzaria o caminho dos dois no meio da pista.
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Enquanto isso, a dupla Silas-Salis andava pelos “dedos do pé de São Francisco” e descia o calcanhar da pista. Ao sair da rampa e entregar o filho para Natália, Silas perguntou:
– Gostou do rolê?
Salis ainda não fala, mas fez um beicinho tão eloquente quanto mil palavras. Nem as calçadas escaparam de mais uma voltinha, diante do princípio de choro. Dessa vez, o menino andou sentado e sozinho no skate.
Comparando Joinville a Belém, Natália percebeu que lá não existem parques nos bairros. Tudo fica resumido ao Centro da cidade. A vizinha Rosângela é a única catarinense no núcleo paraense do bairro Santo Antônio. Ela, que é natural de Florianópolis, já morou em Curitiba e há muito tempo se perguntava por quê a maior cidade do Estado não tinha locais públicos voltados ao lazer. Hoje, o cenário mudou um pouco. Segundo ela, apesar do pouco verde das árvores e do sempre presente cinza do concreto, os parques têm “várias atividades para diversas idades”.
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Um lugar para o samba
Lilian e as filhas esperam pelo momento de subir ao palco com a Escola Fusão
O samba ganhou um teto no Adhemar Garcia. O palco onde tocou a orquestra e a bateria foi prometido como local de ensaio dos sambistas. A Escola Fusão do Samba, que tem a maioria dos participantes vivendo no bairro do Parque São Francisco, vai ditar o ritmo do local. Paulo Sérgio da Rosa, presidente da Fusão, reconhece que a comunidade precisava desse incentivo e reconhecimento.
– Somos quase responsáveis pelo parque, somos daqui – constatou o presidente, que se comprometeu a cuidar do espaço inaugurado ontem.
A irmã dele, Lilian Cristina da Rosa, que levou as filhas Ana Luísa, de 9 anos, e Ana Beatriz, de 7, também reconheceu a importância do parque.
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– Era o que estava faltando aqui para o bairro – avaliou Lilian – Tinha o Parque Caieiras, que está muito abandonado.
Para a mãe das meninas, não falta nada no parque, nem acessibilidade. Beatriz é cadeirante, mas Lilian não teve dificuldade para andar com ela por todos os lugares. Mesmo com as limitações no movimento, Bia é passista da Fusão, junto com a irmã.
Parque bom é parque seguro
O alerta para os usuários do parque vem de um morador do bairro Paranaguamirim. Cansado de cenas de violência, João Correia, aposentado de 60 anos, aprovou o parque, mas está de olho no futuro. De visita à casa da irmã, que tem casa no Adhemar Garcia, ele resolveu conferir as atividades culturais da inauguração.
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– Isso daqui está muito bom. Só não podem deixar a maconheirada tomar conta daqui. Para ser bom, tem que ter polícia – argumentou.