Entidades ligadas à defesa dos animais fazem circular nas redes sociais uma petição pública contra a instalação, em Florianópolis, do Centro de Farmacologia Pré-Clínica, no Sapiens Parque, Norte da Ilha de Santa Catarina. O objetivo é impedir que o Centro, considerado o primeiro do país em tecnologia de ponta para o desenvolvimento de medicamentos, realize testes de toxidade em animais.

Continua depois da publicidade

Com a adesão de 15 entidades e cerca de 15 mil assinaturas em cinco dias, os ativistas questionam o uso de laboratórios e biotérios para a criação de cobaias. Para especialistas em Farmacologia, no entanto, a obra é fundamental para dotar o país de uma estrutura avançada e de padrão internacional para estimular toda a cadeia de inovação nas áreas de fármacos e medicamentos e tornar o Brasil menos dependente da importação de remédios.

Os investimentos de R$ 13 milhões são divididos entre 45% do Ministério da Saúde e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, por meio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), e 55% do Governo do Estado/Fundação de Apoio à Pesquisa Científica do Estado de Santa Catarina (Fapesc). Com área prevista de 5.300 m², divididos em laboratórios, incubadora empresarial e auditório para conferências e treinamentos, o CFR contará, inicialmente, com uma equipe de cerca de 40 pessoas, incluindo técnicos e pesquisadores.

Como é no Brasil

Continua depois da publicidade

A discussão em torno da manutenção da experimentação animal ganhou destaque em 2008, após a Lei 11.794 (Lei Arouca). Desde lá, todos os centros de experimentação animal precisaram criar comissões éticas no uso de animais para autorizar procedimentos. As comissões devem avaliar o grau de sofrimento dos animais e se os resultados esperados pela pesquisa justificam sua realização. Em cada comissão deveria ter pelo menos um membro de ONG de proteção animal

O que é: Centro de Farmacologia Pré-Clínica

Onde: Sapiens Parque, Norte da Ilha de Santa Catarina (acesso ao balneário Canasvieiras)

Área: 5.300m², divididos em laboratórios, incubadora empresarial e auditório para conferências e treinamentos

Prazo para funcionar: segundo semestre de 2013

Investimentos: R$ 13 milhões

Objetivos: reduzir o impacto dos gastos com medicamentos no SUS; reduzir o déficit comercial da balança comercial brasileira nas áreas de fármacos e medicamentos; aumentar a produção brasileira de patentes nas áreas de fármacos e medicamentos; contribuir para a melhoria das políticas públicas do país na área da saúde; treinar pessoal de qualidade nas áreas de fármacos e medicamentos para atender as demandas do governo e das indústrias.

Continua depois da publicidade

>>> Quem é contra

Ana Rita Hermes é presidente da Frente de Ação pelos Direitos Animais (Frada) de Joinville. Junto com o Instituto Ambiental Ecosul de Florianópolis/SC, a entidade é responsável pelo manifesto.

– Sabemos que existem estudos que possibilitam o uso em células humanas e depois em humanos, e não necessariamente em animais que acabam sendo descartados – diz.

Halen Guerra representa a Associação de Proteção aos Animais (Acapra) de Santa Catarina. Para ele, o uso de animais nas pesquisas – ratos, coelhos, gatos, cachorros – envolve fatores diversos:

Continua depois da publicidade

– Temos um grande mercado em torno disso e os animais são usados como matéria prima abundante.

Guerra lembra que Florianópolis foi a primeira cidade brasileira a regulamentar o uso de animais em pesquisas científicas. De autoria do vereador Deglaber Goulart, proíbe a vivissecção assim como o uso de animais em práticas experimentais que a eles provoquem sofrimento físico ou psicológico.

– Foi uma iniciativa importante, porém a aplicação é inócua já que os defensores dessa prática consideram que ao anestesiar o animal ele não tem sofrimento – diz.

Os argumentos

*A medicina humana não pode ser baseada em medicina veterinária, já que os animais são diferentes histológica, anatômica, genética, imunológica e fisiologicamente.

Continua depois da publicidade

*Animais e humanos reagem diferentemente a substâncias. Por exemplo, algumas drogas são cancerígenas em homens, mas não em animais.

*Doenças que ocorrem naturalmente e doenças artificialmente induzidas diferem com frequência e substancialmente.

>>> Quem é a favor

Para especialistas, o Centro de Farmacologia irá atuar como agente promotor de inovação, focado na realização de ensaios pré-clínicos e atraindo para Florianópolis indústrias farmacêuticas interessadas em desenvolver novos medicamentos e criar empregos altamente qualificados.

Continua depois da publicidade

– A atividade irá, ainda, fortalecer o setor farmacêutico gerando benefícios para o Sistema Único de Saúde – diz o farmacêutico Jarbas Mota Siqueira Júnior, gerente executivo do CFR no Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras (Fundação Certi).

Doutor em Farmacologia pela UFSC, ele tem experiência no desenvolvimento de estudos pré-clínicos com ênfase em Biologia Molecular, modelos experimentais relacionados ao crescimento tumoral e metástase, inflamação, nocicepção (relacionado à percepção da dor) e estudos toxicológicos em roedores (segundo recomendações internacionais).

Os argumentos

*Os testes são imprescindíveis para se conhecer os efeitos fisiológicos de uma nova substância no organismo como um todo.

Continua depois da publicidade

*As alternativas ainda não substituem os testes reais em animais.

*Com animais de laboratório se produzem vacinas e soros fundamentais para a vida humana, como o soro antiofídico (contra picada de cobras), que é feito ao se inocular pequenas e sucessivas doses de veneno de cobra em cavalos. Ou a vacina contra a difteria, botulismo e tétano.