Daqui a alguns anos, a versão eletrônica do noticiário será um dos caminhos para saber como Santa Catarina enfrentou a pandemia do coronavírus. Com alguma exceção, também o formato impresso. A leitura de jornais, especialmente pelas novas gerações já incluídas no mundo virtual, transportou-se do papel para a tela do computador. 

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Próximos de um passado não tão distante, pode-se recorrer aos arquivos para sabermos como a imprensa cobriu o surto da poliomielite, que especialmente entre as décadas de 1970 e 1980 se abateu sobre Santa Catarina.

– A imprensa teve um papel de responsabilidade ao ajudar a conscientizar a população, principalmente, o rádio e os jornais, uma vez que a televisão não era tão popular – observa João Batista, frequentador da Biblioteca Pública de Santa Catarina, em Florianópolis, e que faz dos arquivos fonte de pesquisa.

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Batista considera que a poliomielite foi vencida por um esforço coletivo dos brasileiros, o qual envolveu governo militar, Ministério da Saúde e governos estaduais e também o jornalismo praticado em décadas passadas.

A utilização de jornais como fonte valiosa para a historiografia, principalmente a partir da segunda metade do século passado, tem papel na reconstrução dos fatos a partir da cobertura noticiosa e não apenas opinativa. Folhear jornais e revistas das décadas passadas mostra o papel relevante da imprensa nas informações sobre a saúde das crianças. Mesmo que bastante diferente de hoje se levando em conta o processo tecnológico – não havia redes sociais – o jornalismo praticado na época colocou a questão da vacina como pauta das redações.

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Isso vale para os principais e maiores jornais da época: O Estado (Florianópolis), A Notícia (Joinville) e Jornal de Santa Catarina (Blumenau).

Esforço do governo e ação das instituições sociais

As páginas mostram interação com as diretrizes dos governos e adesão de instituições sociais que se inseriram nas campanhas de vacinação. Isso se confirma com o assunto da poliomielite sendo manchete, destaque de capa, ocupando páginas inteiras e sobretudo oferecendo “serviço” – dia de vacinar, horários, funcionamento das linhas de ônibus – além de informar sobre o surgimento de novos casos, a busca por atendimento na rede hospitalar e a transferência de pacientes para centros maiores, como São Paulo. 

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A realidade dava razão ao engajamento. Até 1980, mais de 2 mil casos de poliomielite eram notificados por ano no país, números altíssimos, principalmente porque havia subnotificação. Com a divulgação intensa das ações do Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado, em nível federal, em 1973, conseguiu-se reduzir os casos para somente 45, em 1983.

Confira fotos da cobertura da imprensa catarinense à época

Presença do doutor Sabin no Estado, ganha as manchetes

Um fato bastante noticiado, com destaque pelo jornal O Estado, em março de 1980, é a vinda do médico Albert Sabin a Santa Catarina. Desde que desenvolveu, em 1960, a famosa vacina para combater a paralisia infantil, aplicada oralmente e por isso chamada popularmente de “gotinha”, o cientista esteve no Brasil diversas vezes ministrando palestras, oferecendo consultorias e contribuindo para os esforços de erradicação da doença.

No final da década de 1970, os casos de poliomielite vinham numa crescente e o governo de Jorge Konder Bornhausen enfrentou um surto da doença na região do Planalto Norte. Doutor Sabin, o “pai da vacina”, era casado com uma brasileira e encontrava-se no país quando foi convidado pelo governo catarinense para visitar Santa Catarina. 

Foi uma agenda intensa com reuniões com autoridades médicas e sanitárias locais onde lhe foi perguntado o que fazer diante do avanço da doença? “Vacinar imediatamente todas as crianças de zero a cinco anos”, respondeu o médico.

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Questionado se aceitava comandar a operação, Sabin respondeu que sim. Nascia ali o movimento que se alastraria por outros países, a vacinação em massa contra a poliomielite. Reportagens mostram o renomado Sabin ao lado do então secretário de Estado da Saúde, Valdomiro Colaute, e do governador Bornhausen.

A vinda de Sabin ao Brasil foi notícia em todos jornais e revistas da época, como estampa a capa da Manchete. A revista semanal da Bloch Editores, que circulou de 1952 até o ano 2000, também registrou a vista do criador da “Gotinha”.

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Artistas também se juntaram para ajudar a conscientizar os pais sobre a importância da vacinação. Entre os arquivos da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), empresa pública que mantem um conglomerado de mídia, encontram-se cartazes de atores e atrizes, como de Toni e Ramos e de Lucélia Santos.

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A televisão também foi um veículo importante para chegar aos milhões de brasileiros. O governo se utilizou do veículo de massa para atingir a população. A Campanha da Agência Nacional de 1977 mostra imagens de crianças fazendo fisioterapia e ressalta a importância da vacinação. Também é usado o desenho animado com “Sujismundo”, personagem que não gostava de tomar banho, e muito popular entre as crianças da época.

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Vídeo mostra como é a vida de quem sobreviveu à doença:

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